Laura Kirsztajn, nossa nova redatora, analisa o ambiente competitivo dentro da FGV em sua estreia na Gazeta
A entrada na Fundação Getúlio Vargas é permeada por ambientes extremamente competitivos: primeiro, a sala de aula no colegial ou cursinho; depois, o próprio vestibular, a linha de batalha de todo aquele treinamento. Após passar no vestibular e finalmente se encontrar livre dessa rotina, eis a surpresa: não muito vai mudar. A faculdade parece acentuar uma crença que não era tão disseminada na escola: de que cada um tem seu lugar e um objetivo plenamente individual. Diferentemente da miragem da vida adulta que é a escola, nada é tão concreto quanto o precipício que é a faculdade para a entrada no mercado de trabalho.
Chegamos no primeiro dia de aula muitas vezes sem conhecer ninguém; somos apenas nós, prontos para alcançarmos os nossos objetivos. Assim, logo começamos a traçar a nossa corrida: juntamos munição, seja anotando o que o professor diz, fazendo resumos ou pegando os melhores livros de cada matéria. Nessa tentativa de nos munir, geralmente nossos amigos são os únicos que podem usufruir e compartilhar dessas vantagens que nos colocarão à frente dos demais (ao menos na teoria).
A princípio parece ótimo existir essa luta por recursos materiais e imateriais, afinal, isso incentiva e empurra cada um a buscar mais e mais elementos de diferenciação. No entanto, quando pensamos de maneira global, é repleto de perdas. O colega que não conseguiu anotar a aula como você provavelmente nunca vai ter a mesma noção da matéria que você teve, e logo aí perdemos um advogado, economista ou administrador mais capacitado. Ele conseguiu um livro muito bom explicando a matéria na qual você mais tem dificuldade, mas você nunca vai ter acesso a ele, perdendo a oportunidade de ser um profissional melhor, ou ao menos conseguir passar naquela matéria. Certo assunto estudado lhe é muito nítido, e ele “morre” assim, nítido somente para você.
O mérito disso tudo não é criticar a competitividade como um todo. Assim, precisamos lembrar qual a função da faculdade: não apenas formar você, mas um grupo imenso de pessoas que, se bem desenvolvidas nesse período, farão a diferença para o país e, quem sabe, para o mundo. No último momento, os ganhos ultrapassarão as perdas; quando você passa a pensar que elucidar as dúvidas de um colega não é dar armas a um concorrente, e sim dar à sociedade um resultado final ainda melhor que aquele obtido na ocultação do conhecimento e na criação de muros em torno do potencial crescimento de todos. Se ainda assim essa premissa organicista não convencer, apenas pense que é mais vantajoso utilizar a munição dentro da batalha, e não na preparação para ela.
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