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A ONDA DE CALOR EM SÃO PAULO E AS DESIGUALDADES SOCIAIS



“Parasita” foi um filme que, entre muitos de seus méritos, soube retratar de uma forma divertida, cômica e aterrorizante as desigualdades enfrentadas entre duas famílias sul-coreanas. Uma cena marcante é a em que a mãe da família rica menciona adorar dias chuvosos, ao mesmo tempo em que a família pobre enfrenta um verdadeiro desastre quando sua casa é inundada e seus poucos bens são perdidos para a chuva.


O reflexo disso na sociedade paulistana é notável nas inúmeras campanhas de arrecadação de casacos e de distribuição de alimentos quentes, assim como na tentativa por encontrar abrigo e na de, de alguma forma, trabalhar para melhorar as condições de pessoas que se veem mais vulneráveis ainda quando chegam frentes frias ou chuvas que causam desabamentos e afetam negativamente a vida de moradores de rua e das favelas de São Paulo. O raciocínio parece lógico ao se tratar de extremo frio, ou de chuvas aterrorizantes, mas o calor também afeta de maneira trágica a vida destas mesmas pessoas.


O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu recentemente um alerta de “grande perigo” por conta das altas temperaturas registradas no país. No último domingo, 24, foi registrada a temperatura mais alta do ano na cidade de São Paulo: 36,5°C, quase chegando ao recorde registrado em 2014, de 37,8°C. O calor atípico na primavera brasileira ocorre por influência do El Niño, responsável por um aquecimento do oceano pacífico e pela mudança na dinâmica dos ventos alísios, que contribui para o ar seco percebido pelos brasileiros nesta última semana.


Contudo, a percepção das altas temperaturas não é experimentada por todos da mesma forma. Enquanto algumas pessoas vivem em casas com janelas, ar-condicionado e piscina, o calor extremo afeta, principalmente, as áreas de favela, como o Jardim Colombo e a Paraisópolis, por conta da falta de áreas verdes e sombra e das casas com pouca ventilação. Além disso, o teto dessas casas é feito de material que absorve ainda mais o calor e inibe a sua dissipação. Para o Portal G1, Denise Duarte, professora da FAU USP, constatou que as casas nas grandes comunidades da cidade tendem a ser ocupadas por um número grande de pessoas, fazendo com que 2, 3 ou 4 pessoas tenham que dormir no mesmo dormitório, o que agrava a situação atípica de calor.


Tamanho é o abismo causado pela desigualdade social que o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo (CGESP) chegou a marcar dois graus Celsius de diferença entre regiões de favelas e zonas mais ricas de São Paulo, como o bairro Higienópolis, por exemplo, que conta com grandes áreas verdes.


Para tentar evitar as consequências do extremo calor, moradores das favelas paulistas adotaram algumas medidas, entre as quais estão: a compra de ventiladores, a distribuição de baldes de água pelos cômodos da casa e, quando possível, a atitude de evitar que duas pessoas ocupem o mesmo cômodo. Por mais que ajudem na diminuição da sensação térmica, tais medidas são insuficientes para de fato diminuir as temperaturas nas casas da periferia e diminuir o impacto físico das altas temperaturas.


Como consequência dessa falta de recursos para lidar com o calor excessivo, o número de atendimentos médicos por conta do calor aumentou no estado. A Operação Altas Temperaturas, programa da prefeitura de São Paulo para combater os problemas causados pelo clima quente, instalou tendas em locais estratégicos para atender pessoas que passam por dificuldades ou problemas de saúde. Já na quinta-feira, dia 21, 797 pessoas já tinham sido atendidas, sendo que a temperatura no dia mais quente do ano, o último domingo, dia 24, ultrapassaria em 3,8 graus Celsius a temperatura registrada na quinta-feira. Junto a isso, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social está distribuindo itens como bonés, garrafas de água e frutas para moradores de rua e pessoas que procuram atendimento nas tendas.



Autoria: Gustavo Dias

Revisão: Laura Freitas e André Rhinow

Imagem de capa: Canção Nova Notícias


Referências Bibliográficas:

Onda de calor: população em situação de rua é a mais vulnerável, aponta sanitarista. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2023/09/19/onda-de-calor-populacao-em-situacao-de-rua-e-a-mais-vulneravel-aponta-sanitarista>. Acesso em: 27 set. 2023.


Teto que esquenta na favela, árvore e ar-condicionado no bairro rico: a desigualdade sob calor extremo. Disponível em: <https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2023/09/23/teto-que-esquenta-na-favela-arvore-e-ar-condicionado-no-bairro-rico-a-desigualdade-sob-calor-extremo.ghtml>. Acesso em: 27 set. 2023.


Número de atendimentos por calor excessivo aumenta em São Paulo. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-09/numero-de-atendimentos-por-calor-excessivo-aumenta-em-sao-paulo>.


Capital paulista terá operação especial para altas temperaturas. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-09/capital-paulista-tera-operacao-especial-para-altas-temperaturas>. Acesso em: 27 set. 2023.


Cientistas declaram início do El Niño, que pode causar calor recorde em 2024. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/06/cientistas-declaram-inicio-do-el-nino-que-pode-causar-calor-recorde-em-2024.shtml>. Acesso em: 27 set. 2023.


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