As lágrimas, que tentam limpar meus olhos inchados, passeiam pelo meu rosto. Como se minha pele não estivesse rubra, minhas mãos enrijecidas e o desenho das minhas unhas não estivesse cravado na minha pele, o marejado escorre dos meus cílios e dança.
É poético e perturbador a passividade das lágrimas. O fervor do peito transborda um líquido quase gelado e salgado que surge no cantinho do olho. Escorrem como gotas de chuva no vidro do carro, indomáveis. Sabem de onde vem, e se carregam para onde for. Para o queixo, para o colo. Às vezes, as mãos trêmulas as resgatam, irritadas, por não conseguirem contê-las.
Essa valsa ocorre de maneira indomável e sem pudor. Penso que quando a melodia cessar, as dançarinas serão obrigadas a parar o ballet e eu, finalmente, poderei descansar. Me pego olhando no espelho. Encarando as minhas inquietações. Me vejo horrível, fraca. Quando me dou conta, o ritmo da música aumenta, e as lágrimas, incontroláveis, o acompanham.
Deságuo num mar de solitude. Depois de viver o rock, MPB, valsa e o pop, encontro conforto em meu pranto. Me olho no espelho mais uma vez. Desajeitada, despida de proteção. Cada lágrima que escorreu levou consigo um pedaço das minhas armaduras. É nesse estado que me encontro dentro de mim. Depois de tanto valsar entrelaçada nos meus pensamentos mais impuros e secretos, me abraço e danço sozinha, até o cansaço me vencer.
Autoria: Ana Luísa Issy
Revisão: Laura Alves e Enrico Recco
Imagem: Pinterest
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