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BOATE KISS: DEZ ANOS DA TRAGÉDIA



No marco de uma década do incêndio que levou a Boate Kiss à ruína, o ocorrido volta a abalar a população brasileira quando muitos relembram as consequências do desastre que chocou a nação. O lançamento recente da minissérie “Todo Dia a Mesma Noite”, da Netflix, que conta os eventos do incidente, despertou lembranças do infortúnio para aqueles que acompanharam os desdobramentos das investigações na época.


Na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, o Brasil assistiu ao desenrolar de uma das maiores tragédias na história do país. Em Santa Maria, no Rio Grande do Sul (RS), a Boate Kiss enfrentou o que é considerado o terceiro maior incêndio em boates noturnas do mundo, deixando cerca de 630 feridos e 242 mortos, em sua maioria jovens de 18 a 30 anos.


O fogo foi causado por um aparelho pirotécnico ilegal, disparado dentro do estabelecimento pela banda que tocava naquela noite. A partir disso, o então presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do RS, Luiz Alcides Capoani, afirmou que as investigações revelaram a existência de uma série de “erros primários” que agravaram as consequências da situação.


O revestimento de espuma inflamável do palco, assim como a falha dos extintores de incêndio, contribuíram para o rápido alastramento das chamas na casa, que se encontrava em estado de superlotação.


Além disso, nos primeiros momentos da confusão, a única rota de fuga das vítimas foi bloqueada por seguranças que foram instruídos pelos sócios da boate a não deixar ninguém sair sem pagar as comandas. A falta de luzes de emergência e de placas de sinalização levam a polícia a acreditar que muitas vítimas confundiram as portas dos banheiros com a saída, onde mais de 180 corpos foram encontrados.


Os laudos afirmam que 100% das mortes foram por asfixia, resultado da inalação de cianeto e monóxido de carbono. Tendo isso em vista, foi observado que o sistema de exaustão do lugar estava bloqueado: os dutos se encontravam obstruídos, e as janelas, lacradas; dessa maneira, as investigações concluíram que a rápida concentração da fumaça no ambiente fechado, pela falta de ventilação, contribuiu fortemente para o alto número de fatalidades.


Em 2021, quase nove anos após a tragédia, quatro réus — dois sócios da boate, o vocalista e o auxiliar da banda — foram condenados por homicídio, com penas de 18 a 22 anos de prisão. Porém, a Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul anulou o júri por descumprimento de regras na formação do Conselho de Sentença. Todos foram soltos.


Desde o acontecido, legislações de segurança em casas noturnas foram criadas, em especial a Lei Kiss, que entrou em vigor em 2017 e definiu normas mais rígidas para a prevenção de desastres em estabelecimentos de todo o país. Porém, ao ser sancionada pelo então presidente Michel Temer, foram vetados trechos que configuravam como crime o descumprimento de ações de combate a incêndios e que proibiam a utilização de comandas em boates.


A nova minissérie da Netflix “Todo Dia a Mesma Noite” foi ao ar no dia 25 de janeiro de 2023 e é baseada no livro de mesmo nome da jornalista Daniela Arbex, que mistura fatos e ficção ao retratar os eventos que precederam e sucederam a tragédia. O programa logo se tornou um sucesso de audiência, dividindo opiniões.


Nas redes sociais, grande parte do público se mostrou comovido pelas histórias. Entretanto, um grupo de pais de vítimas do incêndio manifestou-se, revoltado com a exibição da série.


“Nós fomos pegos de surpresa, ninguém nos avisou, ninguém nos pediu permissão. Nós queremos saber quem está lucrando com isso. Não admitimos que ninguém ganhe dinheiro em cima da nossa dor e das mortes dos nossos filhos. [...] O mínimo que exigimos agora é que uma parte do lucro seja repassada para tratamento de sobreviventes e para a construção do memorial da Kiss”, afirmou Eriton Luiz Tonetto Lopes, que perdeu sua filha de 19 anos naquela dolorosa noite.


Após a contratação de uma advogada, o grupo busca ação por danos morais e sequelas médicas, além de parte do lucro da produção para os sobreviventes e para a construção do memorial.


Dez anos após o acontecido, com centenas de mortes, ninguém foi responsabilizado, e o caso encontra-se sem desfecho judicial. Os familiares das vítimas ainda buscam justiça, e os marcos e desdobramentos do caso são importantes para que a tragédia não seja esquecida.


Autoria: Gabrielle Park

Revisão: Lucas Tacara e André Rhinow

Capa: Reprodução / Netflix

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REFERÊNCIAS:

[1]: LUIZ, Márcio. Dois anos depois, veja 24 erros que contribuíram para tragédia na Kiss. G1, Rio Grande do Sul, janeiro de 2015. Disponível em:

[2]: REBELLO, Vinícius; CAVALHEIRO, Patrícia. Laudos confirmam 100% das mortes por asfixia e superlotação na Kiss. G1, Rio Grande do Sul, março de 2013. Disponível em:

[3]: FELIPPE, Vanessa. Grupo de familiares de vítimas da Kiss pretende processar Netflix por série sobre a tragédia. GZH, Santa Maria, janeiro de 2023. Disponível em:

[4]: BRUM, Gabriel. Boate Kiss: dez anos depois da tragédia, ninguém foi responsabilizado. Agência Brasil, Brasília, janeiro de 2023. Disponível em:

[5]: VICENTE, Vinícius. Nos dez anos do incêndio da Boate Kiss, senadores cobram punição dos responsáveis. Senado Notícias, Agência Senado, Brasília, janeiro de 2023. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/01/27/nos-dez-anos-do-incendio-da-boate-kiss-senadores-cobram-punicao-dos-responsaveis

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