top of page

BRASIL E SEUS TALENTOS: TORCIDA OU PRESSÃO?


O nosso país tem a fama de ser um ótimo criador de craques na maioria dos esportes, principalmente no futebol. Mas, de maneira geral, vemos  jovens brasileiros atuando e estrelando em diversas modalidades, como skate, vôlei, automobilismo, ginástica, artes marciais e tênis. Porém, não é raro ver muitas vezes essas mesmas novas joias caírem no esquecimento do público. Por que isso acontece?


Quando um atleta começa a despontar, normalmente ele vai para o exterior para competir em nível mais alto e usufruir de uma estrutura melhor, como os jovens sulamericanos que saem para a Europa para jogar futebol. Ao sair do país, obter vitórias e conquistar títulos, o atleta atrai para si grande mídia, e, consequentemente, maior torcida. Ao mesmo tempo em que ele sai do país, os melhores resultados atraem uma atenção maior para o esportista e, consequentemente, uma maior torcida. É natural  que com maior exposição haja uma certa pressão externa, além da que é exercida pelo treinador, família e patrocinadores. De repente, uma enxurrada de mensagens e menções nas redes sociais, nome nos jornais e uma nova legião de fãs querendo saber não só do seu desempenho, mas também da sua vida pessoal. Enquanto duram os bons resultados, as interações são encorajadoras e colocam os atletas no topo do mundo, mas quando surgem os reveses eles são colocados para baixo na mesma proporção.  Como se não fosse o suficiente, aparece a cereja do bolo: as comparações.


Quantos “novos Neymars”, “novos Gugas”“ ou “novas Martas” têm sua ascensão meteórica, ou no mínimo chamativa, atrapalhada pela demanda midiática por um craque? Essa pressão transforma a experiência de jovens de 18, 19 e 20 poucos anos no esporte. Por exemplo, João Fonseca foi ao Rio Open uma semana após vencer um torneio ATP, torneio mundial de tênis de primeira linha. Em solo brasileiro ele não manteve o mesmo desempenho e foi eliminado precocemente. Ao ser entrevistado pós-jogo pelo Globo Esporte, o tenista admitiu nervosismo e medo ao participar da competição [1]. E aparentemente ele não é o único que se sente assim. Em um evento com a LiGE (Liga de Gestão Esportiva), o tenista brasileiro Thomaz Bellucci afirmou que gostava de jogar no Brasil por estar perto da família, mas era uma pressão enorme.


No mundo do futebol essa pressão chega cedo: ainda crianças, alguns jogadores já têm a responsabilidade de sustentar o status de craque e também a própria família convivendo com a distância em outras cidades, estados ou até países. Talvez essa seja a maior cobrança, a autocrítica, a ciência de que eles são os responsáveis pelo sustento da própria casa, uma realidade muito frequente na vida dos atletas. O primeiro contrato de alguns jovens já supera o salário que seus pais recebem, imagine o que pode acontecer com a cabeça desses adolescentes caso não haja uma gestão de carreira equilibrada.


Além das dificuldades enfrentadas pelos jogadores, suponho que a falta de investimento na infraestrutura e na inteligência emocional dos atletas afete diretamente como eles se relacionam com críticas e pressão. Com certeza, ao saber lidar com essas variáveis, o desempenho desses atletas dependerá muito mais de atributos técnicos e de habilidade do que de fatores externos. A maior medalhista olímpica brasileira, Rebecca Andrade, por exemplo, apontou como um grande responsável pelo seu sucesso o seu forte preparo emocional.


Quanto a nós como torcida, podemos aprender que já houve um Pelé, já houve uma Marta. Cada atleta tem a sua particularidade e isso é o que transforma o esporte em uma arte tão imprevisível e emocionante. Então, podemos, ao invés de estigmatizarmos o esportista com uma pessoa já existente, aprender mais sobre esse jogador e suas características únicas, para que atletas possam continuar ascendendo, mas mantendo o seu nível, sem correr o risco do ostracismo.


Texto: Tiago Colin

Revisão: Artur Santilli e Isabelle Moreira Imagem de capa: REUTERS/Jaimi Joy


 

Referências:


Comments


bottom of page