A nossa redatora Victória Rieser traz uma reflexão e um desabafo sobre seu curso: administração pública. Cenário daqueles que vivem na dicotomia: viver pelo o que acreditamos ou viver pelo o que nos foi imposto?
Acredito que eu e grande parte dos meus colegas de sala de aula sonham ou sonharam, nem que fosse lá no fundo, que algum dia poderiam impactar o mundo. Clássica fantasia do bom e velho estudante de AP da Fundação Getúlio Vargas – instituição a qual prometo não criticar ao longo desse desabafo, pois, dentre todas as minhas crises, esta se encontra pequena próxima às demais.
Às vezes me questiono sobre o curso em sua essência e, em outras, me indago sobre a vida em si. São aulas teóricas: muitas interessantes, mas vazias de conteúdo. Me desmotivam. O que menciono como conteúdo é atribuído à máquina pública em si, e percebo cada vez mais a distância que o curso tem da realidade à qual estamos sujeitos.
É um curso amplo, muito abrangente, mas com pouca prática. Além disso, fico confusa em meio às áreas de atuação e à perspectiva de trabalho. Questionamento este ao qual não vejo respostas, visto que não sei também se o que enxergo a minha frente me anima a estudar. Sinto que quanto mais me aprofundo sobre a nossa estrutura política e as instituições, mais percebo o quanto elas são conservadoras e tradicionais. São ordenações inacessíveis que não permitem que a nossa cidadania seja exercida de forma plena. Me sinto impotente.
De tempos em tempos me encontro sem rumo em meio ao caos em que vivo. São confusões internas provocadas pelos rumos que a sociedade toma. Entre esses contratempos, a Imersão de Segurança Pública da qual pude participar me reviveu, me relembrou o que eu buscava quando entrei no curso: era tanta gente envolvida na área pesquisando, buscando indicadores, dados e análises, que as coisas voltaram a fazer sentido. Acontece que durante essa adrenalina toda, me aparece um João Bobo achando que entende algo sobre políticas públicas de Segurança e, como se já não fosse surpreendente, a plateia o aplaude. É no mínimo cômico.
Entrei no curso com a perspectiva de compreender a elaboração de políticas públicas em busca de uma sociedade menos desigual. Iludida, coitada – como se já não tivessem me avisado anteriormente. Ainda assim, vivo em uma constante indecisão entre lutar pelo o que acredito e me conformar com o que me foi imposto. É triste.
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