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Das Barbies até os dias atuais: uma timeline das minhas fases




Sempre fui uma pessoa de fases. Durante a minha vida, tive mudanças drásticas de interesses, de mentalidade e até de personalidade. Nesse texto, irei elaborar uma timeline das minhas fases mais marcantes.


Fase 1: Barbie e as Doze Princesas Bailarinas — o nascimento de um gay


Acredito que essa tenha sido a minha primeira fase, pelo menos a primeira que eu me lembre. Minha irmã tinha todos os filmes da Barbie, mas quem assistia era eu. Era viciado em todos, principalmente no da Barbie e as Doze Princesas Bailarinas. Hoje em dia, a música do filme é meu despertador e eu fico arrepiado toda vez que escuto.

Eu tenho uma lembrança, dos tempos do meu prézinho no Criarte, de estar numa mesa com todos os meninos brincando de Lego, e não conseguir tirar meus olhos das Barbies na mesa das meninas. Por muitos anos, isso foi um trauma para mim, nunca ter conseguido brincar com elas. Até que um dia, anos depois, num reencontro do Criarte, uma das meninas que estudava comigo me falou: “Eu lembro que você sempre brincava de boneca com a gente”. No final, não é que eu brincava mesmo? O Luís criancinha era muito mais corajoso que o de hoje em dia. Tenho muito o que aprender com ele.


Fase 2: Littlest Pet Shop, Zhu Zhu Pets e Monster High — “obrigado, vó!”


Essa fase começou quando entrei no Gracinha, com 6 anos. Eu me lembro bem dela. Desde uns 4-5 anos, tenho muitas memórias de sofrer com vários comentários homofóbicos. Mas, mesmo assim, fui uma criança muito autêntica. Em todas as fotos de família, eu fazia pose. Ninguém nunca gostava, mas eu continuava mesmo assim. Todas as minhas amigas eram meninas. Nós passávamos todo recreio juntos, cantando as músicas de Victorious.

Toda semana, descia para casa da Dani, minha prima, que morava no mesmo prédio que eu. Ela tinha Littlest Pet Shop, Zhu Zhu Pets (aqueles hamsters de brinquedo) e várias Monster Highs. A Lagoona era, de longe, a minha favorita. Meus pais nunca comprariam esses brinquedos para mim. Mas minha avó comprava. Ela sempre foi a única pessoa que eu realmente sentia que me amava incondicionalmente. Meus pais só amavam uma parte de mim.


Fase 3: Star Wars e Beyblade — a opressão de um gay


Eu não consigo identificar exatamente o momento em que isso aconteceu, mas, eventualmente, os comentários começaram a me atingir muito. Tanto dentro da minha família, quanto na escola. Acabei reprimindo tudo que era considerado feminino e me afastei das minhas amigas. Tentava me enturmar com os meninos, mas era muito difícil. No recreio, ia brincar de Beyblade e falar de Star Wars. Eu até gostava de brincar de Star Wars, mas não com eles. Eles não tinham nada a ver comigo.


Fase 4: Esportista?


Minha família sempre foi esportista. Minha mãe é maratonista. Meu pai joga futebol toda semana no clube. Minha irmã ia bem em tudo que ela fazia: na ginástica artística, na equitação e na natação. Eu reprovei na natação e me mandaram para uma piscina isolada que fedia a xixi. Todo mundo que fazia tênis comigo ia para o competitivo e eu continuava com as crianças.

Tive uma fase de tentar vários esportes. Tentei Tae-kwon-do, boxe e basquete. Na minha primeira aula de basquete, quebrei o dedo. Quando voltei, um mês depois, odiei e sai. Eu sempre tive uma relação péssima com esportes, mas o pior de tudo era o futebol. E toda festa de menino só tinha futebol.

Eu acabei trocando o basquete pelo teatro e foi uma decisão maravilhosa. Nós podíamos escolher os nossos personagens em toda peça. Na minha primeira, fui uma arara-azul ressuscitada e, na minha última, um mago do mal chamado Liosho.


Fase 5: Katy Perry e Adele — o comeback de um gay

Aos 8 anos, tive um comeback. Voltei a ser amigo das meninas e fiquei viciado na Katy Perry. Fazia meu pai ir até a Fnac comprar os CDs dela para escutarmos no carro. Assistia a todos os videoclipes, todos os dias. California Girls era com certeza meu favorito.

Houve também uma época em que eu era obcecado pela Adele. No final do terceiro ano, teve um amigo secreto na minha sala e eu ganhei uma biografia dela. Li o livro inteirinho. Ela falava de drogas, álcool e sexo. Eu não entendia nada, mas achava o máximo.


Fase 6: Videoclipes no Video Star e um futuro Oscar winner

Continuando na minha era das Divas Pop, eu fazia vários videoclipes no Video Star, dançando, dublando, me achando a própria Lady Gaga em Telephone. Nessa mesma época, sempre que eu ia para a nossa fazenda, fazia todos os meus primos atuarem nos filmes que criava. Eu sempre era a estrela principal ou o personagem assassinado no começo do filme — os melhores papéis. Eu editava vários trailers no iMovie e fazia toda a família assistir. Isso sem mencionar todos os discursos de aceitação que eu fazia no banheiro pelo meu Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e meu Grammy de Best New Artist.


Fase 7: Coroinha da Igreja — tentaram apagar o gay, de novo


Aos 9 e 10 anos, tive uma fase de coroinha da Igreja. Comecei a ser mais religioso quando passei a fazer catequese. A religião em si tem vários aspectos atrativos: a fé, as respostas para várias perguntas e o sentimento de que existe algo além dessa vida. Acho que foi isso que me atraiu. Ou foi quando o padre disse que as Nossas Senhoras são tipo Barbies: assim como tem a Nossa Senhora Aparecida, a das Graças e a de Fátima, tem a Barbie dentista, a Barbie surfista e a Barbie estilista. Mas, no final do dia, todas são a Barbie e todas as Nossas Senhoras são a Maria. Já como minha família era muito católica, eu via a religião como uma forma deles me aceitarem. Eu até chamava a Heloísa, minha irmã, para brincarmos de missa. Fingia que eu era o padre e ela, a freira. Conforme fui me descobrindo e percebendo que a Igreja, no geral, era uma instituição homofóbica e machista, além de historicamente opressora, acabei me afastando da religião e hoje nem sei no que acredito.


Fase 8: Nerds, tristeza e Educação Física


Outra forma que encontrei de obter a aceitação da minha família e das pessoas ao meu redor era indo bem na escola. Para mim, ser nerd era melhor do que ser gay. Eu me tornei muito estudioso e enlouqueci tentando sempre tirar a nota perfeita. Eu era melhor amigo das professoras, fazia todas as lições de casa, surtava com os trabalhos em grupo e estudava horrores. Nas provas, queria tanto mostrar que sabia, que eu ultrapassava os limites de linhas nas minhas respostas e dava voltas ao redor da página. Comecei a colocar muita pressão em mim mesmo e querer ter controle sobre tudo. Nisso, eu desenvolvi uma ansiedade extrema. Como só focava na minha vida acadêmica, nas férias do sétimo ano, eu tive uma crise existencial e decidi parar de estudar e focar na minha vida social. Hoje em dia, eu tenho preguiça de estudar e sou procrastinador. Tento voltar a ser estudioso, e não consigo. Não sou alguém que consegue gerar um equilíbrio entre as coisas: ou é 8 ou 80.

Hoje, sou bem extrovertido. Naquela época, eu era extremamente introvertido. Acho que tem muito a ver com o fato de eu ter saído do armário e parado de me reprimir. O pico da minha introversão era nas aulas de Educação Física, que eram divididas entre meninos e meninas. Nessa época, minhas amigas eram todas meninas. Nunca me senti tão deslocado quanto numa aula de Educação Física do oitavo ano. Eu sempre era o último a ser escolhido, fazia gol contra e todo mundo ficava nervoso comigo. Era um show de horror. Nunca fui bom em esportes, mas o ambiente piorava tudo.


Fase 9: O começo de uma longa obsessão por reality shows


Daria para fazer um texto inteiro de todas as fases que eu passei assistindo reality shows. Tudo que eu assistia me dava vontade de participar e virava meu novo assunto do momento. Na época do MasterChef Junior, eu impliquei que queria começar a cozinhar. Obviamente, foi um desastre. Queimava tudo e sempre acabava chorando e tendo que limpar a cozinha toda bagunçada. Tive minha fase The Voice, em que eu imaginava os quatro jurados virando para mim e eu escolhendo a Claudia Leitte (PS: hoje em dia é óbvio que eu escolheria o Lulu). E, para finalizar o ciclo, a fase Keeping Up With The Kardashians, que deu origem à minha fantasia de casar com um rapper rico e ter duas filhas: a Moon e a Cairo (que eu demoraria 2 anos para revelar os nomes).


Fase 10: Pandemia e Rupaul’s Drag Race


A pandemia foi quando eu realmente passei por um processo de descobrimento mais profundo. Acho que isso aconteceu com quase todo mundo. Pode parecer bobo e clichê, mas o primeiro contato significativo que eu tive com a cultura LGBTQIA+ foi assistindo Rupaul’s Drag Race. A internet e as séries eram a forma que eu tinha de ir descobrindo mais coisas sobre a comunidade gay, principalmente em época de isolamento social. No começo desse ano, fui aos meus primeiros shows de drag e amei. Vieram várias queens de Rupaul’s, como a Aquaria e a Laganja Estranja.


Fase 11: Dias atuais

Acho que esse ano foi, mais que tudo, repleto de mudanças. Principalmente por ter sido meu primeiro ano de faculdade. O Luís do primeiro semestre é muito diferente do de agora e o do começo do ano que vem será mais ainda. Acho que uma das poucas certezas da vida é a transformação e as fases que a acompanham. Em que fase eu estou? Ano que vem eu te conto.


Brincadeira, eu nem sei.






Autoria: Luís de Paula Eduardo


Revisão: Beatriz Nassar e Lucas Tacara


Imagem de capa: Balmarbie no Pinterest







 
 
 

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