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EI, TAMBÉM CHAMAMOS A MARINA!


Esteja por dentro de tudo que acontece na GV. Contamos com a ilustre presença de Marina Silva para a abertura da Jornada Sustentável. A nossa redatora Victória Rieser realizou a cobertura oficial do evento, saiba de tudo que foi dito na palestra!


Na última terça-feira (12), um dia após a presença de Henrique Meirelles, o Diretório Acadêmico Getúlio Vargas com o apoio do Conexão Social FGV, do Jacaré FGV e do Centro Acadêmico Direito GV, realizou a abertura da Jornada Sustentável com a ilustre presença de Marina Silva. A historiadora, professora, psicopedagoga, ambientalista e política brasileira filiada à Rede Sustentabilidade compartilhou suas reflexões sobre o contexto político atual, com foco na relação entre sociedade e meio ambiente. Em suma, ela discutiu como os ideais políticos e filosóficos se traduzem na prática. A mulher que foi ministra do meio ambiente de 2003 a 2008 e disputou a presidência nas últimas três eleições, falou sobre a urgência de transformar a mentalidade de negligência à natureza se quisermos prezar pela sobrevivência do planeta.


A palestra teve início com a contextualização geral do que de fato a crise ambiental representa. Marina enxerga o colapso ambiental como parte de um conjunto de outras crises de natureza econômica, social, política e de valores que juntas compõem o que chama crise civilizatória. Dentre essas, a crise política e a de valores são as questões primordiais que agravam ainda mais o cenário ambiental no Brasil e no mundo. De acordo com Marina, boa parte dos problemas está relacionado com a visão política que se degradou ao longo do tempo. É um problema estrutural e relacionado com o número de pessoas que habitam o mundo. A medida em que a população global passou de um bilhão para sete, incapacitou o sistema de lidar com seu nível de complexidade.

Hoje, com os meios tecnológicos, criamos a possibilidade de um novo ativismo político – abandonando o ativismo dirigido e o repondo pelo autoral – em que as pessoas se movimentam pelas experiências vivenciadas e não apenas por partidos e organizações. O indivíduo em busca por respostas representa mais uma transformação positiva da democracia. Entretanto, essa mudança se problematiza quando presenciamos um contexto decadente em termos de valores. A crise de valores é uma questão da ética relativa, que por sua vez, se move pelas circunstâncias. No quesito da política, a ética circunstancial segue a lógica: “É isso que ganha voto? Então é isso que eu vou fazer!” – o que Marina diz estar completamente distante de seus ideais.

No âmbito sustentabilista e a ineficiência do Estado perante à isso, não é a incompetência ou a falta de conhecimento técnico que impossibilitam a produção de energias sustentáveis, por exemplo, sugere Marina. Ela defende seu argumento do ponto de vista que esse seja um problema ético e de natureza política, uma vez que a política é orientada pelos ramos de valores que se têm e os conhecimentos científicos para tal feitio já estão disponíveis.

A narrativa sustentabilista é muito mais difusa do que acredita o senso comum porque se trata de algo que é radical e transformador. A ideia de conservação ambiental como obstáculo ao crescimento econômico é errônea. Busca-se uma nova perspectiva de relação do indivíduo perante os outros e a si mesmo assim como uma nova forma de produção e consumo. Essa seria uma maneira de driblar a crise civilizatória, que se dá quando o sistema acaba com quase todas as suas forças e abre espaço no cenário político e social para tudo que há de mais “tosco” – pede licença e ri pela utilização da palavra.

Nesse momento Marina vê a necessidade de listar rapidamente os retrocessos que estão à vista no governo, entre eles o conselho nacional do meio ambiente que está acabando com as câmaras técnicas e as mudanças nas estruturas da governança ambiental que envolvem temas como a água, a FUNAI, o Instituto Chico Mendes e o Ibama e as mudanças no processo de legislação. De forma geral, os retrocessos na agenda provêm dos valores que veem o meio ambiente como inimigo da produtividade. Marina aproveita também para fazer uma autocrítica, em que diz ter tido dificuldade durante o ministério em sustentar a narrativa sustentabilista dos lados progressistas – em que se auto intitula – e conservadores.

No meio do discurso, cita que a ONU não tem a devida participação pela segurança planetária da vida. E o sistema – se vendo nessa situação – se apropria do que há de mais radical de anteparo em que um movimento majoritariamente europeu está acontecendo surpreendentemente por crianças que reivindicam uma forma sustentável de existência.


Como ponto crucial do seu discurso, a ex-ministra diz que sustentabilidade não é apenas uma questão de “como fazer?”’, mas uma questão de “ser”. A nossa civilização até aqui foi orientada pelo anseio do “ter”, em que a capacidade de desejar é infinita embora os recursos planetários sejam finitos. Se de um lado há limites para “ter”, não há barreiras que impeçam “ser”. Esse pensamento é o que abrirá portas para um novo ideal de vida e um movimento de desenvolvimento inovador.

Por fim, disse que a saída é mudar o modelo de desenvolvimento por meio de um projeto político complexo que envolva diferentes setores. O assunto não é mais uma luta entre esquerda e direita, se trata de um processo apartidário que envolve seres humanos, diz ela. Conclui por dizer que temos o dever – enquanto geração – de buscar o diálogo com todos os entes da sociedade e não se permitir cair na tentação de fazer contestação pela oposição. Com tempo e concretude, alcançaremos a capacidade de lidar com os grandes dilemas da humanidade para que prospere um mundo que seja socialmente justo, economicamente próspero, politicamente respeitável e ambientalmente sustentável.



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