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ELA VIVE A POESIA QUE NÃO CONSEGUE ESCREVER



“She lives the poetry that she cannot write.

The others write the poetry that they dare not realize”

- Oscar Wilde em O Retrato de Dorian Gray


“Ela vive a poesia que não consegue escrever.

Os outros escrevem a poesia que não conseguem vivenciar”

- Oscar Wilde em O Retrato de Dorian Gray


Ela vive a poesia que não consegue escrever. Essa frase é de um dos meus escritores favoritos, Oscar Wilde. Gosto tanto dela que, certa vez, até cheguei a escrevê-la em uma das paredes brancas do meu quarto. Acho que fiz isso porque, por muito tempo, gostei de me imaginar como sendo parecida com ela, a garota que vive. A garota que gasta suas horas com coisas mais complexas do que algo tão simples como poesia. A garota que não cria novas histórias, mas vive-as.


Mas a verdade é que essa frase não diz respeito a mim. Como poderia? Me sinto o completo oposto do que ela representa. Sou a garota que vive apenas e unicamente através da poesia que escreve. Acho que, de certo modo, essa é a única forma que aprendi a viver, construindo meu caminho entre as folhas brancas dos cadernos e os traços pretos deixados pelas canetas, desbravando o mundo inteiro enquanto permanecia sentada em frente a uma escrivaninha, gastando horas em frente ao papel, buscando sempre as palavras certas, mas não as certas demais, já que todo texto precisa de um pouquinho de profundidade, não?


Não me entendam mal… Não é como se não tivesse tentado ser mais parecida com a garota descrita por Wilde. Eu tentei. E muito. Simplesmente decidi parar de escrever sobre a vida e começar a, de fato, vivê-la. E foi horrível. Parece que começar a enxergar a vida tentando ignorar sua natureza poeticamente bela, passar pelas experiências sem adicionar essa espécie de magia quase que intrínseca à própria existência da poesia, acabou fazendo a vida deixar de ser… bem… vida.


E foi assim que, ao invés de sentir aquela certa inveja dessa mulher imaginária criada por Wilde, comecei a sentir pena dela. Viver sem poesia, sem arte, é se encontrar perdido em um espaço limitado, buscando eternamente o caminho para algo que não pode ser explicado. É se afogar nos sentimentos nunca transformados em palavras. É permanecer preso no mundo como ele é e nunca imaginar como ele poderia ser. É sempre enxergar um chapéu ao invés de uma jiboia que acabou de comer um elefante.


Tal como Clarice, vivo minha vida em meio a esboços não acabados, e, para ser honesta… Não conheço um jeito melhor de viver.



Autoria: Victorya Pimentel

Revisão: Gabriela Veit

Imagem de Capa: Archaic-Stranger no Tumblr



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Obras Citadas:

O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde (1890)

O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry (1943)

Um Sopro de Vida de Clarice Lispector (1978)


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