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ESCÂNDALO PREVENT SENIOR: PACIENTES SÃO UTILIZADOS COMO PEÇAS DE UM JOGO POLÍTICO


por Giovanna Lopes


Em 2020, um grupo de médicos da operadora de saúde Prevent Senior realizou uma pesquisa sobre o uso de hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes infectados com o coronavírus. O estudo apontava que o exercício do remédio, no início do tratamento da doença, poderia reduzir o período de hospitalização do paciente. Contudo, recentemente, uma reportagem da GloboNews e um dossiê desenvolvido a partir das denúncias de médicos do plano de saúde, revelaram que houve uma fraude nos experimentos. Diversos pacientes não tinham conhecimento que estavam sendo submetidos ao tratamento com o fármaco, e sete mortes decorrentes da COVID-19 foram omitidas.


O documento elaborado por médicos e ex-médicos, entregue no dia 26 de setembro à CPI da Pandemia, relatava não apenas as irregularidades do estudo, como também um acordo entre a operadora de saúde e o Governo Federal. No trato, realizado no início da pandemia, a Prevent Senior deveria estudar e disseminar o uso dos remédios hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, conhecidos popularmente como “kit covid”, e que são cientificamente comprovados ineficazes para o tratamento da doença.


"Uma das coisas que o hospital orientava era que os pacientes e os seus familiares não tivessem conhecimento de que essa experiência estava sendo feita, que não tivessem conhecimento de que estavam sendo administrados esses medicamentos. A informação que se tem é que isso foi um acerto entre a direção do hospital e o governo federal, contra aquelas orientações que havia do Ministério da Saúde, no período do ministro Mandetta. E o chamado gabinete paralelo estaria por trás dessa. Ele era o elo entre o Prevent Senior e o governo federal", disse o senador Humberto Costa (PT - PE) na CPI da Pandemia.

Ainda no ano passado, a Comissão de Ética Nacional e Pesquisa, Conep, desautorizou a realização das pesquisas pelo plano de saúde devido a falhas, inconsistências e omissões no estudo. Além disso, especialistas estrangeiros reforçaram as críticas de médicos brasileiros aos experimentos, e apresentaram erros que deveriam ser corrigidos para uma melhor compreensão das consequências do uso dos fármacos. Mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores divulgaram amplamente os resultados da pesquisa como recurso de defesa do “kit covid”, colocando em risco a vida de inúmeros brasileiros. Até mesmo uma live com a presença do presidente e médicos da Prevent Senior foi realizada, na qual foi abordada a situação da pandemia e o uso do tratamento precoce.



Reprodução/Twitter


O dossiê revela também que os médicos eram coagidos a ministrar medicamentos sem eficácia comprovada, distribuir aos pacientes o “kit covid”, não informar os familiares dos enfermos a qual tratamento estes estavam sendo submetidos e, assombrosamente, trabalhar, sem o uso de máscaras, enquanto estavam infectados com a COVID-19. A última determinação tinha como intuito a disseminação do vírus, para que a pesquisa sobre o uso dos fármacos presentes no “kit covid” fosse realizada. Uma reportagem da GloboNews investigou e confirmou as acusações por meio de mensagens trocadas entre os médicos e seus dirigentes via um grupo no WhatsApp.


Ademais, sabe-se que duas pessoas tiveram a verdadeira causa de suas mortes omitidas em seus atestados de óbito. A primeira delas, Anthony Wong, pediatra e toxicologista, defensor do tratamento precoce. Wong foi internado com sintomas da COVID-19 e tratado com o “kit covid”, com sua autorização e de seus familiares. Logo depois, o quadro agravou-se e disfunções decorrentes da doença surgiram, como uma pneumonia bacteriana. Wong não resistiu. No seu obituário é citado que o médico foi contaminado, mas não que a doença foi a causa básica ou secundária de sua morte. A segunda, Regina Hang, mãe de Luciano Hang, aliado de Bolsonaro e defensor do “kit covid”. Após o falecimento da mãe, Hang postou um vídeo lamentando que ela não tenha sido submetida ao tratamento precoce. Contudo, o dossiê revela que Regina Hang também foi medicada com fármacos do “kit covid” e, assim como Wong, teve a causa de sua morte omitida em seu atestado de óbito.


“Isso aqui é o mesmo modus operandi [que ocorreu no estado do Amazonas]: ‘Vamos fazer do Brasil um grande laboratório para jogar cloroquina goela abaixo dos pacientes e dos brasileiros – desculpe a expressão –, para, quem sabe, vir como salvador da pátria. O mundo não descobriu a vacina, mas nós aqui sabemos como tratar uma doença até então desconhecida’ – convenhamos, não é? – ‘de um vírus mortal invisível. Vamos aqui inventar a tal da hidroxicloroquina, para falar que salvamos o paciente. Nós somos Messias, não só no nome’ ”, afirmou a senadora Simone Tebet (MDB - MS) na CPI da Pandemia.

As ações da Prevent Senior são chocantes. Não se sabe ao certo quantas pessoas tiveram seus obituários modificados, quantas foram submetidas ao tratamento precoce sem consentimento ou morreram em decorrência dele. Ainda que, decerto, tarde, as denúncias, estão ajudando a desmontar esse esquema criminoso contra a saúde pública brasileira apoiado pelo Governo Federal.


Ivermectina, hidroxicloroquina, azitromicina, e qualquer outro remédio recomendado para tratamento de covid-19 não possuem eficácia comprovadas cientificamente. No presente momento, apenas a vacina pode proporcionar proteção imunológica. Vacine-se. Proteja você e sua família.


Revisão: Letícia Fagundes

Imagem de Capa: Reprodução/Brasil 247



 

REFERÊNCIAS:


FILHO, João. Com anuência do CFM, Prevent Senior transformou brasileiros em cobaias humanas. The Intercept Brasil, 26 de setembro de 2021. Disponível em: <https://theintercept.com/2021/09/26/cfm-prevent-senior-cobaias-humanas-cpi/>. Acesso em: 07 de outubro de 2021.


Prevent Senior reduziu de 14 para 7 dias tempo de uso de respiradores. Poder360, 17 de abril de 2020. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/coronavirus/prevent-senior-reduziu-de-14-para-7-dias-tempo-de-uso-de-respiradores/>. Acesso em: 07 de outubro de 2021.


Estudo sobre cloroquina do Prevent Senior é questionado no exterior. Poder360, 20 de abril de 2020. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/coronavirus/estudo-sobre-cloroquina-do-prevent-senior-e-questionado-no-exterior/>. Acesso em: 07 de outubro de 2021.


BALZA, Guilherme. CPI recebe denúncia de que Prevent Senior fez acordo com governo federal para testar e disseminar 'kit Covid' em 'cobaias humanas'. Globonews e G1 SP, São Paulo, 26 de agosto de 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/08/26/cpi-recebe-denuncia-de-que-prevent-senior-fez-acordo-com-governo-federal-para-testar-e-disseminar-kit-covid-em-cobaias-humanas.ghtml>. Acesso em: 07 de outubro de 2021.


COSTA, Ana Clara. A morte em segredo. Revista Piauí, 21 de setembro de 2021. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/morte-em-segredo/>. Acesso em: 07 de outubro de 2021.


Notas Taquigráficas do Senado Federal. 26/08/2021 - 49ª - CPI da Pandemia. Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-taquigraficas/-/notas/r/10177>. Acesso em: 07 de outubro de 2021.



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