Introdução
A pressão no ambiente de trabalho, que é cada vez mais competitivo, costuma produzir efeitos psicológicos sobre trabalhadores e profissionais que buscam construir uma carreira profissional sólida. Nesse cenário de intensa cobrança, problemas de ansiedade e depressão tendem a se agravar e ações são cada vez mais cobradas de empresas e organizações para que se posicionem e melhorem as condições de trabalho no que diz respeito à saúde mental de funcionários e colaboradores.
Com isso em mente e olhando para as mudanças nas relações de trabalho que em breve impactarão o alunato da FGV, o Diretório Acadêmico organizou, na segunda-feira, dia 28/09, um bate papo online para conhecer o “Trabalho no Divã” – uma empresa de consultoria em saúde mental no trabalho e RH que presta assistência às empresas na busca de soluções para construção de um ambiente organizacional e resultados profissionais mais saudáveis e equilibrados.
Os convidados
Foram convidados para o evento os fundadores do “Trabalho no Divã”, Vitor Barros e Bianca Bonassi. Victor Barros é psicólogo, professor universitário e mestre pelo Programa de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília. Ademais, Victor coordenou o projeto Clínica do Trabalho no Sindicato dos Bancários de Brasília de 2008 a 2014 e organizou o livro “Adoecimento Psíquico no trabalho bancário: da prestação de serviços à (de)pressão por vendas”. Também coordenou o projeto Clínica do Trabalho com servidores da Secretaria da Criança e do Adolescente, projeto que lhe rendeu o "Prêmio Inova" pelo GDF em 2017 na categoria "Valorização do servidor público". Foi conselheiro efetivo do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal, na gestão de 2016 a 2019, coordenador da Comissão Especial de Psicologia Organizacional e do Trabalho e presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização. Além disso, é consultor da empresa Trabalho no Divã Saúde Mental no Trabalho, sendo fundador dessa.
Bianca Bonassi é Bacharel em Administração e Especialista em Gestão de Pessoas. Além de pesquisadora, é sócia da Trabalho no Divã e fundadora dos projetos sociais e científicos “Minha voz de mina” e “Organizações Plurais” juntamente com Instituto Afropoder. Na empresa, atua com pesquisa e consultoria nos temas de responsabilidade social, gestão de pessoas, sustentabilidade, gênero, inclusão social e saúde mental no trabalho.
O evento
Após as apresentações iniciais, foi perguntado como é o funcionamento das atividades e a atuação do Trabalho no Divã. Victor respondeu dizendo que as ações da consultoria fogem do “mesmismo”, sendo calcadas numa visão diferente de mercado de trabalho e na procura de formas de diálogo com profissionais de outras áreas do conhecimento - como administradores, cientistas políticos, psicólogos e profissionais de assistência social - para melhoria das soluções propostas: “essa diversidade nos ajuda a olhar para o fenômeno de uma forma mais ampliada”, disse Victor. Outro ponto levantado pelo psicólogo foi a postura ética da empresa, relatando já ter recusado propostas que provocariam danos à saúde mental dos trabalhadores, mesmo que isso tenha significado menores ganhos, procurando sempre falar sobre os problemas que ocorrem no ambiente de trabalho e sem naturalizá-los.
Bianca respondeu que a Trabalho no Divã busca divergir do comodismo: “muitas empresas adquirem uma cosmética organizacional diferente, mas não promovem mudanças de fato”, sendo necessário um esforço especial para que ocorram transformações reais. De acordo com a administradora, a Trabalho no Divã foi estruturada pensando que falar sobre saúde mental no trabalho engloba uma série de assuntos como ética, sustentabilidade, aplicação de políticas reais de diversidade, encarreiramento de mulheres, clareza nos processos seletivos, entre outros. Bianca deu como exemplo um projeto que vem sendo planejado: “em dezembro, estaremos selecionando 30 jovens de periferia para falar sobre capacitação e empregabilidade no mercado, não em subempregos, mas em empregos executivos e como esses espaços têm sido negligenciados para eles”. Concluiu dizendo que a consultoria acredita na humanização dos processos com o entendimento de que as organizações não têm uma função apenas econômica - mas, também, de construir uma sociedade melhor.
Em seguida foi perguntado sobre a importância de se investir em um clima organizacional saudável. Ao responder, Bianca ressaltou que a empresa não ganha apenas em rentabilidade, mas também na construção de uma marca que passa com clareza os valores em que acredita, mostrando que se preocupa não apenas com o produto, mas também com o processo produtivo, de modo que investir na cultura organizacional é investir no negócio.
Victor deu importância à autonomia do trabalhador, dizendo que um bom clima organizacional tem um fator psicológico - que gera um engajamento dos trabalhadores com o que fazem. Salientou que esse engajamento não é algo “afetivo” com a empresa, que pode se tornar negativo e ser usado como ferramenta coercitiva, mas, sim, com a atividade desempenhada. Disse, também, sobre a gestão do afeto: “existe a empresa que abusa do afeto com o trabalhador, e fala ‘O que? Você vai cuidar da sua família? Mas tem quem cuide agora, você precisa ficar com a gente’, (...) e isso sequestra a capacidade de compreensão da realidade do trabalhador”.
Foram discutidas as principais dificuldades das empresas em relação à saúde mental dos trabalhadores, e se houve alguma piora durante a pandemia. Bianca começou falando sobre a necessidade de derrubar o mito de que falar sobre assuntos negativos ou críticas no trabalho é ruim, já que trazer à tona aquilo que incomoda é saudável e fortalece o coletivo no engajamento com as atividades, dando maior autonomia e gerando um ambiente mais seguro para o trabalhador. “Às vezes, a gente vai em uma organização e precisa fazer toda uma campanha e explicar para o pessoal o que é saúde mental e falar que o lugar onde eles estarão falando com a gente é um local seguro. Porque existe o medo de perseguição, de fazer críticas à empresa, sendo que é extremamente saudável falar das divergências”, disse Bianca. Concluiu dizendo que a escuta é o melhor guia para mostrar para o funcionário que o trabalho dele é importante e que ele é importante naquela empresa.
Victor falou sobre o medo que as empresas têm de falar sobre as doenças mentais, como depressão, síndrome de Burnout, estresse pós-traumático e outros transtornos que estejam ligados ao ambiente de trabalho. Nesse sentido, é necessário se perguntar o que a empresa tem feito para melhorar seu contexto de trabalho, já que, nos tempos atuais, os trabalhos são mais flexíveis em relação à forma como são feitos. “Quando a empresa oferece psicólogos, massagistas, ginástica laboral, instrutor de mindfulness, eu acho legal, mas somente legal. Se a empresa não mudar coisas no contexto de trabalho – no fazer – temos apenas um ofurô corporativo, que é tirar o trabalhador de um ambiente estressante, colocar em um ofurô para relaxar, e depois retorná-lo para um ambiente estressante”. Terminou dizendo que essas práticas de oferecer serviços ao trabalhador podem ser positivas, mas são apenas assistencialistas, sendo necessário mudar o trabalho em si, para que haja melhoria nas condições de trabalho e na saúde mental dos trabalhadores.
Após a fala de Victor, Bianca complementou dizendo que as práticas de assédio haviam sido transmitidas ao ambiente virtual, com grande dificuldade em treinar lideranças para se comunicar em meio digital e fazerem simples interpretações. Além disso, salientou que, apesar do teletrabalho ser interessante, temos vivido num contexto em que ele é compulsório, não sendo um trabalho que se adapta a todas as pessoas: “como que a gente vai estimular a mesma meta de produção durante a pandemia para mulheres que têm filhos? (...) também existem relatos de estudantes que trabalham e não conseguem ser tão produtivos porque dividem o computador com pessoas da casa, e esses fatores são despercebidos e existe uma romantização dessa cosmética, (...) não podemos entregar o futuro do trabalho à essa lógica tecnológica e esquecer que o humano é insubstituível – não há tecnologia que substitua as relações humanas, os afetos e as trocas que essas relações constroem no trabalho”.
Esse foi um breve resumo e panorama do que foi o evento sobre saúde mental no trabalho com os fundadores do “Trabalho no Divã” Victor Barros e Bianca Bonassi. Durante o bate-papo, outros assuntos foram tratados. O leitor que estiver interessado pode assistir ao evento completo na página do Diretório Acadêmico Getúlio Vargas no Facebook e conhecer mais sobre a consultoria no seu site oficial.
Evento completo: https://fb.watch/Srv4ozMsF/
Site do Trabalho no Divã: https://www.trabalhonodiva.com/
Foto da capa: Elisa Riva
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