As reuniões do G20 que acontecem no Brasil em 2024 são uma oportunidade do país projetar seus interesses no sistema internacional, em um momento geopolítico em que o Brasil se torna o centro das discussões mundiais. A responsabilidade internacional de ser o anfitrião do evento pode ser enxergada como um meio de o Brasil se estabelecer como um ator relevante para delimitar agendas e pautas das negociações. A imagem que o Brasil transparecer durante 2024 é um ponto que deve delimitar suas relações internacionais nos próximos anos e, por isso, sua promoção de política externa deve ser muito bem priorizada.
O G20 é um grupo que surgiu em 1999 reunindo os países com as maiores economias do mundo para a discussão de questões financeiras no contexto mundial. Inicialmente com um caráter econômico, hoje o G20 também concentra debates sobre temas políticos e sociais, abordando questões que envolvem todo o sistema internacional. O peso do encontro se relaciona com o fato do grupo representar 85% do PIB do planeta, o que o torna relevante mundialmente para definir diretrizes globais. Uma de suas características é o sistema rotativo de presidência, posição que o Brasil ocupa em 2024.
A definição do G20 como prioridade máxima da agenda internacional do governo brasileiro reflete uma busca por estabelecer o país como um relevante expoente do sul global para projetar sua política externa. Com a volta de Lula ao poder, um dos objetivos centrais do governo é a retomada da credibilidade do Brasil no sistema internacional. Por isso, colocar o país no centro das discussões é importante para a busca de prestígio entre os outros atores. O G20 entra como uma oportunidade de pautar temas de interesse do Brasil e posicioná-lo com relevância para tomada de decisões em âmbito global.
Com esse objetivo, o Brasil definiu as pautas principais que devem ser abordadas durante os encontros: o combate à fome, à pobreza e à desigualdade; o desenvolvimento sustentável; e a reforma da governança global. Esta é a oportunidade de encaixar esses temas na agenda global e procurar pressionar e mobilizar diferentes atores para mudanças efetivas que são estratégicas para o país. A presidência do grupo dá ao Brasil a possibilidade de questionar e influenciar as discussões dentro do G20, e sua posição deve ser bem delimitada e coesa. A imagem do país durante os eventos depende de mostrar suas capacidades e esforços diplomáticos de articulação para alcançar ganhos com um caráter político-estratégico.
Uma estratégia para destacar o Brasil durante o G20 é a inovação da descentralização das atividades que acontecerão em todo o território. A realização das reuniões em cidades-sede espalhadas pelas cinco regiões do País é uma estratégia para fomentar o turismo e o intercâmbio cultural, transformando o fórum em mais representativo das diferentes realidades brasileiras. Além dos ganhos econômicos, promover o Brasil culturalmente é sempre uma ótima estratégia, por se tratar de um país conhecido por suas diferentes expressões culturais.
A análise de um mundo pautado por incertezas coloca as reuniões multilaterais, mesmo que informais, como importantes para se definir objetivos e ações de caráter cooperativo. A existência de problemas complexos globais exige uma cooperação entre diferentes atores com agendas conflitantes, mas que buscam uma solução comum. O G20 é um meio de debater esses temas centrais de um modo assertivo, e o Brasil não deve ser coadjuvante na tomada de decisões que afetam o complexo sistema internacional ao desejar se estabelecer como um grande líder regional.
Autoria: Rafaela Gonçalves
Revisão: André Rhinow e Enrico Recco
Imagem de capa: Focus Brasil
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