foi nos acordes do seu violão que eu escutei música pela primeira vez, como se cada fio do seu cabelo branco carregasse consigo um novo acorde
era sempre uma sinfonia desorganizada que passava pelo adoniran, cruzava o gonzaga e acabava no jobim
foi no seu abraço que eu aprendi o que era o carinho, como se o afeto andasse escondido nas suas mãos já desgastadas pelo tempo
como se seus dedos escrevessem em minhas costas a história de épocas que eu não vivi
foi no seu jardim que eu aprendi o gosto do amor e da amora, que eu conheci o cheiro das flores e encontrei um lugar de sossego meio às dores
foi aonde eu plantei os caroços das pitangas esperando que, um dia, eles se transformassem em novas frutas, apenas para não ter que esperar a próxima primavera para colhê-las com você
foi pelos seus olhos já cansados que eu enxerguei o passado, pelos seus ouvidos delicados que eu escutei o som do presente e pelos seus dedos ásperos que eu senti o futuro
foi na sua alegria que eu aprendi a rir e, nas suas batalhas, que eu aprendi a lutar
Autoria: Victorya Pimentel
Revisão: André Rhinow
Imagem de capa: Lusia Ivanova em artmajeur
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