Na última segunda-feira, 11, uma das principais premiações do cinema e televisão liberou os nomes dos indicados às diferentes categorias, cujos vencedores serão divulgados no dia 7 de janeiro de 2024, na 81.ª edição do evento.
Ainda que este texto pretenda fazer uma avaliação das indicações deste, é importante lembrar que o Globo de Ouro é uma premiação recheada de polêmicas, acusações e escândalos envolvendo trapaças na escolha dos indicados e vencedores. Por este motivo, a reputação da premiação vem sendo abalada, principalmente por acusações de racismo por parte do corpo avaliativo, formado por repórteres da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood. Em 2021, por exemplo, o presidente da associação foi demitido após descobrirem que, em um e-mail, havia chamado o movimento Black Lives Matter de “movimento de ódio”. Feito este adendo, aponta-se que, em 2024, já não se sabe se o Globo de Ouro é uma premiação que serve de termômetro para as que seguem (SAG Awards ou Oscar) ou se ainda resta algum tipo de credibilidade.
Ainda assim, em junho deste ano, a premiação foi comprada pelo grupo Eldridge Industries e a Dick Clark Productions, que anunciaram o fim da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood como organizadora do evento.
CINEMA
O Globo de Ouro tem uma estranha – ao menos, esta é minha avaliação – divisão entre as indicações para filmes: as que premiam o melhor filme e atriz/ator principal são dividas em “filme de drama” e “filme de comédia/musical”. É claro que a divisão destaca filmes de comédia que, em regra, não são tão valorizados pelas premiações estado-unidenses. Mas, ao mesmo tempo que permite este destaque, não escapa do clichê de prestigiar, em maior grau, filmes de drama, que sempre foram os queridinhos de todas as premiações. Similarmente a isto, foi a brilhante ideia do Oscar de criar a categoria de “melhor filme popular”, que (ainda bem!) foi destruída na época, levando à desistência da Academia.
A ideia que isso passa é que um filme de comédia ou “filme popular” jamais poderia concorrer com filmes que os críticos entendem como de prestígio. Talvez devessem lembrar de um passado, não distante, em que o filme “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” conquistou absolutamente tudo, mas não recebeu o prestígio no Globo de Ouro, por não estar entre os indicados na categoria que encerra a noite da premiação e por sequer ganhar a categoria na qual estava indicado (melhor filme de comédia/musical). Ou seja, o Globo de Ouro parece acreditar que um filme de comédia somente poderá ter destaque se tiver uma categoria destinada só para ele.
Nas categorias de cinema, “Barbie” lidera em número de indicações para 2024 com 9: melhor filme de comédia/musical, melhor atriz em filme de comédia/musical (Margot Robbie), melhor direção, melhor roteiro, melhor ator coadjuvante (Ryan Gosling), três indicações para melhor canção original em filme (Dualipa, Mark Ronson e Billie Eilish) e melhor realização cinematográfica e de bilheteria (um absoluto ponto de interrogação). Logo em seguida, “Oppenheimer” conta com 8 indicações e “Assassino da Lua das Flores” de Martin Scorsese e “Pobres Criaturas” de Yorgos Lanthimos contam com 7 indicações cada.
Ao que tudo indica, o fenômeno “Barbenheimer”, que agitou o cenário cinematográfico de 2023, conta com fortes competidores para as categorias nas quais os filmes estão indicados. O filme de Scorsese está disponível nos cinemas brasileiros, e recebendo muitas críticas bastante positivas, principalmente do ponto de vista da direção e atuação de DiCaprio. Já o filme de Lanthimos chega aos cinemas brasileiros somente em fevereiro do próximo ano, aliás, depois do Globo de Ouro. Mas muitos apontam a atuação de Emma Stone como a melhor de sua carreira, sendo uma forte candidata para roubar o prêmio de melhor atriz em filme de comédia, de Margot Robbie.
TELEVISÃO
Já no mundo das séries (que segue a mesma e esquisita divisão dos filmes), a disputa parece um pouco menos intensa. “Succession” está disparadamente na frente das demais séries, com 9 indicações: melhor série de TV (drama), melhor atriz (drama) para Sarah Snook, três indicações para melhor ator (drama) para Brian Cox, Kieran Culkin e Jeremy Strong, mais três para melhor ator coadjuvante para Matthew Macfadyen, Alan Ruck e Alexander Skarsgard e melhor atriz coadjuvante para J. Smith-Cameron. Como um amante da série, eu diria que “Succession” só não vence todas as suas indicações porque não dá, já que existem categorias com mais de um indicado da série. A série é brilhante em roteiro, atuações, e direção – com destaque para o terceiro episódio da última temporada que, além de emplacar uma reviravolta na trama, conta com um plano-sequência (sequencia de imagens sem cortes) genial e com as melhores atuações vistas na televisão, pelo trio de protagonistas. Assim sendo, não me surpreenderia se esta série levasse um prêmio em todas as categorias nas quais foi indicada.
Empatados em segundo lugar em número de indicações, “O Urso” e “Only Murders in the Building” aparecem com 5 indicações cada – uma diferença de 4 indicações com o primeiro lugar. Ambas são séries de comédia (não entendo muito bem o porquê “O Urso” figura como comédia) e competem com concorrentes fortes como “Ted Lasso”, que chegou ao fim em sua terceira temporada e, por isso, pode levar algumas das categorias nas quais as outras duas séries estão indicadas. Mas me parece improvável, principalmente com relação a “O Urso” que conta com um roteiro muito interessante e bem desenvolvido do ponto de vista dos personagens e tem uma filmografia digna de grandes produções cinematográficas.
As indicações do Globo de Ouro 2024 não trazem nenhuma surpresa muito grande e contam com alguns favoritos bastante claros. Resta saber se, para esta edição, os novos organizadores resolverão alguns antigos problemas apontados, em especial, a diversidade do corpo avaliativo. Nas indicações, percebe-se a discrepante dominância de produções criadas e estreladas por pessoas brancas, sendo “Abott Elementary” a única produção predominantemente criada e estrelada por pessoas negras.
Autoria: Gustavo Abou
Revisão: Enrico Romariz Recco
Imagem de capa: CNBC
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