Lançada em agosto de 2022, a Campanha Contra a Violência no Campo: em defesa dos povos do campo, das águas e das florestas, mobilização lançada no auditório do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), completa um ano. Desde seu lançamento, a campanha adquiriu adesão crescente. Inicialmente com 54 entidades, a campanha logrou a participação de 64 organizações distintas, dentre as quais vemos movimentos sociais e pastorais de presença nacional.
Frente ao aumento drástico da violência no campo desde 2018, a CNDH iniciou suas articulações no início de 2021, com o intuito de “publicizar práticas e experiências contra o projeto de morte do governo brasileiro e convocar demais grupos para fazer parte da campanha” [1]. Apesar da gravidade da pauta levantada pela campanha, a completude de um ano é observada como uma comemoração das lutas travadas e um momento de reflexão.
Segundo relatórios publicados anualmente pela Comissão Pastoral da Terra, o ano de 2022 foi o segundo ano mais violento da década no que tange a violência no campo, registrando 535 casos de violência contra a pessoa e 185 assassinatos de diferentes lideranças indígenas e representantes de movimentos sociais. Além disso, o relatório também registra 243 casos de omissão do Estado, sendo 87 por falta de assistência da área da saúde. No total, foram 2.018 casos de violência relacionados às questões de água, terra e trabalho escravo. [2] Esses números foram somente superados pelo ano de 2012, que registrou 535 casos de violência contra a pessoa e 202 assassinatos de lideranças [3].
Embora a campanha tenha conseguido lançar luz para alguns problemas do campo, ainda há muito a ser feito. Em 2 de agosto, mesmo dia do aniversário da campanha, outras associações manifestaram outras facetas da questão do direito à terra. Associações de apoio à causa Yanomami, por exemplo, lançaram o relatório yamakɨ nɨ ohotaɨ xoa! (Nós ainda estamos sofrendo), que traz reflexões sobre a situação emergencial do povo Yanomami desde o início deste ano. Além disso, o relatório também elencou recomendações ao Poder Público para combater o genocídio realizado contra esse povo [4].
A miríade de movimentações que permeiam os conflitos não-urbanos no Brasil simboliza a complexidade das diversas causas que orbitam a violência no campo, nos rios, e nas florestas e a lutar pela preservação e pela redistribuição de terras.
Autor: Arthur D’Antas
Revisores: Anna Cecília & Enrico Romariz
Imagem de capa: MST (in Correio Braziliense)
Referências
[3] Conflitos no Campo Brasil 2022 - Relatório Anual Comissão Pastoral da Terra
[4] yamakɨ nɨ ohotaɨ xoa! Nós ainda estamos sofrendo: um balanço dos primeiros meses da emergência Yanomami
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