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A MÁSCARA ALTERNATIVA

No espaço aberto de hoje, Miguel Guethi, estudante de Direito do 2º semestre, faz uma reflexão sobre o hype da cultura alternativa que ressurge na contemporaneidade não como um movimento de contracultura, mas como um modismo sem fundamentos.

A cultura alternativa no Brasil e no mundo foi um movimento questionador e que demonstrava um descontentamento com o status quo. Com seu ápice nas décadas de 1960 e 1970, foi marcado por vestimentas características e irreverentes, desvinculado do que eles acreditavam ser uma maneira impositiva de se vestir. Essa vanguarda cultural gritava por meio de seus atos, músicas, poemas, textos, postura sexual, e desobediências em favor de uma oposição radical ao capitalismo, ao consumismo e ao trabalho intenso. Fundamentado pela ideia da luta de classes, com pretensão de desconstruir as estruturas sociais vigentes, esses jovens corajosos foram a linha de frente de ideias que hoje parecem naturais de liberdades individuais que não eram asseguradas, respeitadas ou sequer pensadas.


No Brasil, particularmente, esse movimento foi marcado pela tropicália, em plena ditadura militar. A juventude cantava aos sons de Gilberto Gil e Caetano Veloso, recitava Oswald de Andrade e caminhava com flores substituindo armas de um governo autoritário. Nos EUA, por sua vez, o movimento Hippie com Janis Joplin, Jimmy Hendrix e Bob Marley teve o Woodstock como o grande brado de existência.


Decerto, as conquistas da cultura alternativa foram incontáveis e seus ideais vigoram até hoje. Faço agora, contudo, uma crítica à parte de seus herdeiros. Ser alternativo voltou como tendência, não como um renascimento do movimento, mas subvertido a muito do que se questionava. Isto é, faz parte do hype da classe média e média alta hoje se transformar em “alterna”. A crítica a essa postura vai no sentido de que o capitalismo a tornou não apenas rentável, como também uma imagem desejada e invejada, e muitos jovens tomaram para si apenas essa parte que o capitalismo os oferece. Os questionamentos, o debate de ideia, o inconformismo com o sistema e essa vontade de derrubar as amarras da sociedade se perderam. Temos agora jovens nas raves, com roupas que parecem compradas em brechó (e uma grande ênfase ao “parecem”), que compram canudos de metal e andam de sandália, mas seus ideais concordam plenamente e inquestionavelmente com as estruturas.


“Alô, Foucault, cê quer saber o que é loucura?

É ver Hobsbawm na mão dos boy, Maquiavel nessa leitura

Falar pra um favelado que a vida não é dura

E achar que teu 12 de condomínio não carrega a mesma culpa

É salto alto, Md, absolut, suco de fruta

Mas nem todo mundo é feliz nessa fé absoluta

Calma, filha, que esse doce não é sal de fruta

Azedar é a meta

Tá bom ou quer mais açúcar?”


Criolo em sua música “Duas de Cinco”questiona um pouco da juventude que se importa com o jet e o hype muito mais do que com as outras pessoas.


O que se tem é uma geração que morre de amores e solidariedade por seus pets, mas não se padece do genocídio negro constante no país. Vegetarianos, mas que criticam mais quem come carne do que o modelo voltado ao capital e a indústria da carne. O que espero, pouco otimista, é que, independente de vestir terno ou calças largas, a real ideia questionadora da contracultura não continue como uma máscara para pessoas que têm um jeito de vestir peculiar, mas ações ordinárias.

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