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MARIA BETHÂNIA | OLHO D'ÁGUA | FAIXA 8



O significado das coisas ao meu redor parece esvaziado ultimamente, até mesmo as tarefas simples demandam uma energia da qual não disponho, inclusive, este curto texto demorou a tomar forma. Sem me estender quanto aos porquês desse desânimo - que tenho para mim ser generalizado -, venho pensando em como lidar com isso. Para reencontrar os propósitos, primeiro, cuido de mim para, depois, cuidar dos meus.


Se cada um tem seu jeito de encarar os problemas, os seus hábitos diários e as suas estratégias para permanecer firme, a minha receita é música, pé no chão e muito axé. Bom, a verdade é que pouco importa o que eu faço ou deixo de fazer, este texto é menos sobre mim e mais sobre o mundo à minha volta. A história de hoje é produto dos ingredientes da minha receita. A música é de Bethânia, os pés no chão são para reenergizar e o axé é da mãe das águas doces. Eis as linhas que se desdobraram a partir da canção:


Hoje, precisei reencontrar o sentido dos meus planos: ouvi Bethânia, acendi uma vela e segui. No meu vocabulário, o prefixo “re-” tem tomado muito espaço, porque recalculo a rota dos meus passos, me reconecto com o sagrado e retomo a direção da vida, fazendo fluir os caminhos. Como água doce, como um corpo volúvel que se modela a depender da forma, os tempos de hoje pedem fluidez.


‘Eu saúdo quem rompe na guerra

Senhora das águas que correm caladas

Oxum das águas de todo som

Água da aurora no mar agora

Bela mãe da grinalda de flores

Alegria da minha manhã’

(Maria Bethânia - Álbum Olho d’água - Louvação à Oxum)


Ao som do atabaque, do adjá e de palmas, eu penso que faço parte daqui e isso faz parte de mim, porque sou toda água e todo amor. Quando paro de enxergar propósito, me derramo em lágrimas para me refazer. E nunca me perco. Eu quero lírios para enfeitar a vida, e ouro para enfeitar o corpo, eu quero abstrair esse caos, mas não consigo, então, ponho meus pés no chão novamente e me lembro de quem sou e de quem é por mim.


‘Dona do oculto, a que sabe e cala

No puro frescor de sua morada

Oh, minha mãe, rainha dos rios

Água que faz crescer as crianças

Dona da brisa de lagos

Corpo divino sem osso nem sangue’

(Maria Bethânia - Álbum Olho d’água - Louvação à Oxum)


Olho d’água é onde começa a nascente de um rio, é o ponto onde a água emerge para a superfície e se inicia um curso de água - pequeno, para depois crescer e chegar no mar. Não à toa, Oxum me ensina que não se recupera o fôlego atropelando as etapas, é preciso dar um passo de cada vez e respeitar seu curso. Ela me ensina a não subestimar ninguém, porque aparência serena esconde força, e silêncio encobre mistérios. Assim, aprendi que quando meus propósitos ficam turvos, devo me enxergar e me cuidar, porque só se faz onda quem conhece sua potência. “Bendita onda que inunda a casa do traidor”.


Revisão: Guilherme Caruso

Imagem de capa: Reprodução Marco Antonio Vieira / Vieira px


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