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MEU CORAÇÃO CINCO PONTAS TRICOLOR



Se dependesse do meu pai, São Paulo, provavelmente, teriam sido as minhas primeiras palavras quando era bebê. Mais especificamente, São Paulo Futebol Clube. Venho de uma família de são paulinos, começando pelo meu bisavô, e cresci sendo ensinada a amar o São Paulo. Porém, tenho que confessar que meu apreço pelo futebol nunca foi tão grande quanto meu pai gostaria.


Ele sim é apaixonado pelo São Paulo. Desses que amam narrar jogos antigos, lembram vividamente onde estavam quando o time ganhou tal título ou perdeu tal copa e sabem o nome de todos os jogadores. Mas, tenho dificuldade em chamá-lo de torcedor roxo, pois não vejo em suas comemorações e lamentações a raiva comumente associada a tais torcedores.


Na verdade, um dos momentos que mais representam meu pai como torcedor foi o jogo de quartas de final da Libertadores de 2008 contra o Fluminense, cuja história ele me contou tantas vezes que já tenho memorizada. No jogo de volta no Maracanã, o São Paulo podia perder por um gol de diferença. Aos 46 minutos do segundo tempo, 2 x 1, são paulinos preparados para celebrar a classificação, Washington faz um gol, avançando o Fluminense para as semifinais.


Meu pai relata a dor que sentiu ao ver seu time perder, mas que, ao notar a felicidade estampada em um menino tricolor das laranjeiras, sua tristeza derreteu. Como poderia frustrar-se com o resultado após ver o sorriso que este produziu no rosto daquela criança?


Assim como meu pai, já vivi muitos momentos no estádio. Estava lá na vitória do São Paulo contra o Tigres na Copa Sul-Americana, quando os adversários abandonaram o jogo no intervalo. Presenciei outras inúmeras vitórias, mas também algumas derrotas. No entanto, nunca senti a emoção que meu pai descreve daquele jogo de 2008 ou das três libertadores e dos três mundiais que o precederam.


Para explicar esse meu desinteresse pelo futebol, vou precisar pegar emprestadas as palavras de uma professora minha que um dia expressou o que eu tinha tanta dificuldade em descrever: "Se os jogadores mudam, o técnico muda, a diretoria muda, os torcedores mudam e até o estádio pode mudar, então o que de fato é o time?". Na minha cabeça, que tenta encontrar lógica e razão até onde não deveria, não fazia sentido torcer para um time sem entender direito o que o tornava único.


No entanto, bastaria ter prestado mais atenção nas histórias do meu pai que eu perceberia que o que torna um time tão especial são as memórias construídas ao redor desse amor compartilhado. Porque, para o meu pai e para a maioria dos torcedores, o amor pelo futebol vai muito além do jogo.


O São Paulo era protagonista na relação do meu pai com meu avô, sempre os unindo. Mesmo quando cada um estava assistindo o jogo em seu quarto, eles se encontravam no meio do corredor aos berros para comemorar um gol.


Entendendo melhor o papel central que o São Paulo desempenhava na relação dos dois, percebo que a insistência do meu pai em ir ao estádio e em me contar histórias do São Paulo são tentativas de conexão, de criar comigo as mesmas memórias que o fizeram se apaixonar por esse time. São Paulo é uma das formas que meu pai diz eu te amo.


Concluo, portanto, que torcer para um time é se conectar com aqueles que compartilham tal paixão. Vejo minha tese corroborada na minha amiga, que hoje é apaixonada pelo time do namorado, ou no meu primo, que mudou de time por conta de seu pai.


Então, os gritos que ecoam nos estádios nada mais são do que vozes do passado que impulsionam a criação de novas memórias, unidas pelo ímpeto humano de busca por conexões.


Autoria: Sofia Nishioka Almeida

Revisão: Gustavo Vandresen e Anna Cecília Serrano

Imagem de capa: site SPFC Notícias


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