O nosso editor chefe, Victor Coutinho, traz um pragmático texto... ou melhor, um “não texto” que desafia a lógica estrutural de todos os artigos formais. Em uma grande alusão que não homenageia o controverso René Magritte, este não texto irá lhe informar, ou não, através da desinformação.
Isto não é um texto. Ce n’est pas un texte. De fato, espero que você não leia. O objetivo aqui é justamente não entreter, não informar e não deixar qualquer lição ou moral ao fim. Poderia acabar agora mesmo, inclusive, já que o que temos aqui é uma não estrutura textual.
Enquanto você não reflete sobre o que é uma estrutura textual: perceba – ou não – que essa quebra de parágrafo foi totalmente inútil; e que várias dessas marcas de pontuação não precisavam, mesmo, estar ali.
Dizem que deve haver, num texto, uma continuidade temática, uma progressão lógica que conecte as ideias de cima às de baixo até que se conclua alguma coisa. Vamos falar do clima? Eu não sei vocês, mas odeio esse calor. E também não sou tão fã dessa indecisão climática porque nem sei se estará calor quando este não texto for publicado, apesar de ser a mesma estação da época de escrita. Ou melhor, de não escrita. Ainda assim, é melhor do que o calor, por isso minha aliteração preferida nesses tempos é curta e direta: frente fria.
Pensando bem, seria mais preciso ainda preencher esse espaço com não linguagem, mas eu nem sei como fazer isso e, mesmo que soubesse, ainda preciso entregar algo para ser publicado. Algo que pareça um texto. Mas não é texto, lembre-se. Por isso, sigo trabalhando com palavras mesmo. É o que tem para hoje.
Apesar da referência surrealista logo no começo deste… disso, não há aqui qualquer intenção transgressora. Eu não estou repensando ou desafiando o conceito de texto porque, oras, isso não é um texto. Outros já transgrediram essas ideias há décadas, como os poetas concretistas, a respeito dos quais não falarei para que você não aprenda nada.
Enquanto estou não falando deles, você deveria saber que, ao se denominar poetas, os concretistas provavelmente pensavam estar escrevendo poemas e é exatamente por isso que eles estavam transgredindo a noção de poesia, metalinguisticamente. Que belo advérbio! De qualquer forma, este não é o meu caso, porque, como já disse, não estou fazendo um texto. E espero que vocês, caros leitor ou leitora, já tivessem feito esse raciocínio antes, já que não deviam estar aprendendo nada aqui.
Eis agora algo completamente desimportante e trivial para ser contemplado: você está lendo. Mas eu esperava que não estivesse, afinal, meu objetivo era não divertir, ensinar nem cativar ninguém e o jeito mais eficiente de conseguir isso era fazendo que a pessoa não lesse. Seria de muita ajuda, aliás, se você pudesse se convencer de que não havia texto aqui e que, portanto, você não leu nada. Se não der certo, talvez eu tenha falhado no meu propósito, o que curiosamente também é ótimo para mim se pensarmos que eu queria fazer um mau trabalho. Win-win.
O problema agora é que essa última frase parece muito uma conclusão e isso é inadmissível. Acho melhor me assegurar de não concluir nada e acabar isso abruptam...
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