Este é um posicionamento de alunos e alunas, sem qualquer relação com o posicionamento da Fundação Getulio Vargas.
O Coletivo de Plutão, formado por alunos e alunas bolsistas na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) repudia veementemente os comentários em desrespeito àqueles que recebem de auxílio financeiro para estudar na instituição que foram deixados em uma publicação que foi feita na página do Diretório Acadêmico Getulio Vargas (@dagv.cultural) em 1 de outubro, um dia antes das eleições presidenciais de 2022.
Na publicação, após um usuário ter feito a pergunta “Minha escola já foi melhor, onde estão os anti-bandidos?”, um outro usuário responde que “Já foi fenomenal meu amigo, garanto que isso é uma minoria e de bolsistas, nada contra bolsistas.”
Em primeiro lugar, da mesma forma que não se deve tratar os alunos e alunas da FGV como um ente único, os bolsistas e as bolsistas também não merecem ser tratados com generalizações desse tipo. Apesar de nos assemelharmos na questão de vulnerabilidade socioeconômica, somos pessoas independentes, com trajetórias, opiniões e caminhos dos mais diversos possíveis.
Em segundo lugar, houve uma generalização e preconceito velados quando comenta-se que os bolsistas são as pessoas “a favor de bandido" ou da criminalidade de alguma forma. Ademais, outro preconceito velado está presente na alegação de que pessoas pobres apoiam bandidos. Generalizações que, por si só, não são justificáveis, visto que ferem a idoneidade de cada um dos bolsistas que estudam na FGV além de terem sido feitas de forma completamente antiética, maldosa, e superficial.
Por fim, como em qualquer boa discussão, debatemos ideias, e não pessoas. O fato de um indivíduo não pagar a mensalidade da FGV, por meio de uma política da própria instituição, não deve, em hipótese alguma, ser motivo para caracterização ou discriminação do argumento deste ou de quem seja.
Consideramos inaceitável mobilizar o fato de ser um doador do Fundo de Bolsas como argumento a fim de inferiorizar, exercer autoridade ou discriminar, de qualquer forma, as pessoas entre “doadores” e “beneficiados” pelo Fundo de Bolsas.
Desde 1965, o Fundo de Bolsas da FGV é pioneiro em oferecer crédito estudantil e bolsas gratuitas com o intuito de inserir em seu ambiente pessoas talentosas, mas que, em razão da desigualdade socioeconômica, não têm condições de arcar com os custos do seu ensino superior. O fato de uma pessoa estudar na escola de forma gratuita não deve ser motivo de discriminação em sua vivência, da mesma forma que ser ou não doador do fundo de bolsas não deve ser usado como argumento em uma discussão prerrogativa de caracterização, inferiorização, discriminação ou atribuição de autoridade a alguém.
No comentário acima, vemos uma tentativa de exercer autoridade, intimidar e exigir respeito pelo motivo de ser doador. Isso é errado. Independente da discussão ou do argumento, o respeito deve existir unicamente pelo fato de serem pessoas, por si só, e não pela sua condição frente à instituição.
É por isso que estamos aqui. Bolsas de estudo existem e mostram que educação de qualidade não deve ser privilégio de quem tem condições de pagar, mas um direito de todos e todas que querem e se esforçam para conseguir alcançar seus objetivos por meio da educação.
Além disso, ambientes mais diversos são inerentemente conflituosos, visto que são compostos por visões diferentes de mundo. Entretanto, em hipótese alguma as diferenças devem ser usadas para discriminar ou estabelecer preconceitos em relação ao outro.
Por fim, comentários como esses só reforçam a necessidade urgente de tornar todos os ambientes e organizações cada vez mais diversos e inclusivos para que o preconceito dê espaço ao respeito, humildade e conhecimento de outras realidades.
Esperamos que esse tipo de comportamento não se repita e seguimos vigilantes.
Atenciosamente,
Coletivo Plutão
Nota da editoria da Gazeta Vargas:
A Gazeta Vargas, em seu papel de revista estudantil, acredita na importância de garantir um espaço de expressão e posicionamento para os alunos da Fundação Getulio Vargas. No desempenho desse papel, prezamos a liberdade e a pluralidade das opiniões emitidas nas nossas plataformas oficiais, contanto que respeitem os direitos humanos e não contenham declarações criminosas. Assim, os posicionamentos e opiniões expressas nos textos e nas demais publicações são de responsabilidade exclusiva dos redatores ou assinantes do conteúdo, não representando as opiniões da Gazeta Vargas de maneira institucional. Convidamos a comunidade gvniana e externa a se posicionar pelo espaço aberto no nosso site!
Autoria: Coletivo Plutão
Revisão: Gabriela Barreto e João Colleoni
Imagem de capa: @dagetuliovargas
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