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O DESAPARECIMENTO DA AMAZÔNIA



A Floresta Amazônica é um patrimônio nacional conforme declarado na Constituição de 1988, e, por isso, é um dever do Estado assegurar a sua preservação e proteção a. No entanto, em 2023, somente no mês de outubro, foram registrados 22.061 focos de queimadas– a pior marca nos últimos 15 anos, com um aumento de 22% em relação ao último ano. A cidade de Manaus, situada no meio da Floresta Amazônica, enfrentou seis dias consecutivos envolta na fumaça das queimadas, surpreendendo pela baixíssima qualidade do ar. Contrariando a expectativa de desfrutar de uma das melhores qualidades de ar, a região sofre intensamente com os impactos negativos das queimadas.


Por vezes ignoramos o problema, porque, afinal, está do outro lado do país e consideramos outras questões como mais relevantes. Mas, quando sofremos com altas ondas de calor em São Paulo, cansaço extremo e desidratação, a primeira intuição é culpar o aquecimento global mas seguir a vida normalmente. Eu não estou aqui para minimizar a relevância do aquecimento global, as queimadas na Amazônia colaboram para o aumento da temperatura em todo o país.


Quando a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, declarou que o Brasil vai para COP 28 “liderando pelo exemplo”, ela exclui de sua fala a negligência do Estado que dá pouca ou nenhuma importância para os incêndios criminosos no bioma mais rico em biodiversidade do mundo. Outro ponto a ser analisado, como a mídia divulga tão pouco e com matérias tão superficiais sobre o assunto? Ligamos a TV e somos bombardeados com informações sobre a economia, política e esporte, mas quando se trata das queimadas é necessária uma busca na internet. Então será que o problema é o desinteresse das pessoas? Os incêndios não são relevantes? Ou esse tipo de notícia só ganha visibilidade dependendo de quem está no governo?


Os dados mostram que sim, o desmatamento da Amazônia diminuiu em 22% em relação ao último ano e tem os menores números desde 2019.Entretanto, essa realidade não apaga toda a campanha voltada para a preservação ambiental realizada pelo governo atual. No segundo mandato do Presidente Lula, foi estabelecido o Fundo Amazônia, um mecanismo de arrecadação de doações destinadas à prevenção do desmatamento e à supervisão do uso sustentável da Amazônia Legal. Esse projeto tem como objetivo promover a sustentabilidade e assegurar a preservação a longo prazo do nosso patrimônio natural. Diante dos incêndios criminosos que devastam milhares de hectares, não seria pertinente destinar parte desse fundo para intensificar a fiscalização na região? Ou será que o Fundo Amazônia é apenas uma iniciativa de fachada, concebida para impressionar o restante do mundo?


Durante anos o desmatamento cresceu na Amazônia e as atuais queimadas possuem uma relação direta com isso. O fogo é utilizado para “limpar” a área desmatada, para que essa região posteriormente possa ser utilizada como pasto, o que leva os fazendeiros a praticar essa ação. Existem vários meios de prevenir esses atos, como incentivar ONGs e comunidades locais a preservar a floresta, instruir os fazendeiros da região mostrando como isso seria contraprodutivo para sua produção, ou reforçar e cumprir as leis de crimes ambientais, mas entre todas as possibilidades, aumentar a fiscalização por parte do Ibama e punir de forma mais severas esses infratores seria a mais efetiva, segundo o climatologista Carlos Nobre.


O decrescimento de ativismo sobre o assunto também não passa despercebido, em anos anteriores movimentos foram formados contra o desmatamento e em prol da conscientização e da proteção da Amazônia. Esses grupos não se mostram tão ativos quanto antes, e um dos motivos pode ser porque o Brasil está em 4° lugar na lista dos 10 países com mais mortes de ativistas ambientais no mundo, e cria um receio nas pessoas de que ao começar a lutar pela causa, podem perder suas vidas por isso. Mas também não pode ser descartado que outro motivo talvez seja o alinhamento dessas pessoas com a gestão atual do país, que sinaliza que o ativismo ambiental está correlacionado com a situação política vigente. A mobilização da sociedade a favor de uma causa muitas vezes ocorre quando essa causa é destacada e difundida pela mídia para grandes audiências. Se a mídia tradicional não se compromete em expor o problema e os grupos comprometidos com a causa também não o fazem, surge uma comunidade cada vez menos interessada e envolvida nas questões ambientais. Essa diminuição de interesse pode estar ligada a diversos fatores, incluindo os interesses de diferentes setores da sociedade, influências políticas e a falta de conscientização sobre a importância das questões ambientais


O desafio em torno da preservação da Amazônia não desaparecerá de um dia para o outro, e simplesmente não é possível 'replantar' uma floresta do porte da Amazônia. Ao vincular a questão ambiental exclusivamente a uma orientação política específica, corremos o risco de comprometer irreversivelmente a salvaguarda da Amazônia. A continuidade desse bioma não deveria depender exclusivamente da gestão de um governo. O compromisso com a preservação precisa transcender os limites dos mandatos políticos, sendo constante e consistente.


É importante reconhecer que toda política possui um viés, incluindo o ambientalismo. Portanto, é fundamental integrar as questões ambientais dentro do contexto político, em vez de tentar separá-las. Contudo, para efetivamente proteger a Amazônia, é necessário ir além de discursos abstratos e propor ações práticas. O comprometimento com a preservação ambiental deve ser encarado como uma responsabilidade coletiva, envolvendo diferentes setores da sociedade, organizações não governamentais, instituições de pesquisa e governos, em um esforço contínuo e coordenado. Caso contrário, o futuro da Amazônia estará em sério risco para as próximas gerações.


Referências:





https://g1.globo.com/natureza/noticia/2021/09/12/7-entre-os-10-paises-com-mais-mortes-de-defensores-ambientais-e-da-terra-estao-na-america-latina-conheca-os-casos-do-brasil.ghtml


https://www.camara.leg.br/noticias/719802-comissao-sobre-queimadas-dara-atencao-a-amazonia-e-ao-cerrado-em-2021/



Autoria: Marcella Peres

Revisão: Artur Santilli e Laura Freitas

Imagem de capa: #Colabora


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