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O IMPACTO DA EDUCAÇÃO POLÍTICA NOS INDIVÍDUOS E NA SOCIEDADE


A educação política consiste, resumidamente, na apresentação do sistema administrativo brasileiro. Alguns exemplos de conceitos básicos que deveriam ser disseminados socialmente são o sistema eleitoral, as funções dos cargos públicos, as instituições e os meios de participação na vida pública. Na prática, seus impactos são diversos e afetam diretamente a convivência dos indivíduos em comunidade, uma vez que a reflexão sobre a política leva o sujeito a pensar no bem coletivo e a ser empático, além de repensar sobre o seu papel como cidadão e no impacto das suas ações no corpo social.


Para compreender o contexto político atual no país, é preciso voltar no tempo e entender nossa história. Descoberto pelos portugueses no ano de 1500, o atual território do Brasil foi colonizado pelos mesmos até 1815 quando foi elevado ao Reino Unido de Portugal devido à mudança da família real portuguesa. Em 1822, obtivemos nossa independência, contudo apenas em 1891, quase 70 anos depois, tivemos a primeira eleição, que foi indireta. “O Brasil não tem povo, tem público” disse Lima Barreto. Um grande (e clássico) exemplo de como essa frase se aplica em nosso país é o próprio ato de Independência, no qual não houve participação efetiva da população.


Outro ponto extremamente relevante para a compreensão do contexto político atual é a quantidade de golpes de estado que o país já vivenciou, sendo o exemplo mais tradicional o Golpe Militar que iniciou a Ditadura Militar em 1964. Para adicionar, cabe ressaltar o “Golpe da Maioridade” em 1840 e a Revolução de 30 em 1930. Desde a reabertura do governo, com o fim da Ditadura Militar em 1985, quando os temas políticos voltaram a ser discutidos publicamente, inúmeros casos de corrupção, novos e antigos, foram mencionados e vários foram comprovados. Praticamente, não houve um governo no qual esse tema não tenha sido uma discussão de acontecimentos. Não obstante, a corrupção é um tema presente no governo atual de Jair Bolsonaro e que foi mencionado em vários âmbitos do governo, sendo envolvidas diversas pessoas e organizações públicas.


Um cenário que não pode deixar de ser considerado é a pandemia da Covid-19 e a luta por vacinas (as quais estão envolvidas em esquemas de corrupção do governo). O Brasil teve, infelizmente, um alto número de mortes causadas pela doença devido a uma postura equivocada do governo em relação ao isolamento social e à demora na compra de vacinas. No momento atual, o número de casos e mortes está diminuindo e uma alta porcentagem da população já está vacinada com pelo menos uma dose. Entretanto, alguns extremistas de direita, após discurso antivacina de Bolsonaro, escolheram tomar a mesma posição que o presidente, contrariando palavras de médicos e pesquisadores e confiando na fala de um não-especialista. Nesse sentido, é relevante pontuar a alienação da população em geral diante da ciência, causada pelo extremismo e que poderia ser evitada através da educação política.


Posto isso, é dubitável o rumo que o país está tomando, ainda considerando as eleições previstas para o próximo ano, 2022. Dois possíveis candidatos têm se manifestado - Lula e Bolsonaro - ambos conhecidos como “rivais” por terem ideologias completamente opostas. Estes se apresentam como a antítese um do outro, Lula é o anti-Bolsonaro e Bolsonaro, o anti-PT, algo que potencializa a polarização política enfrentada. A alta das redes sociais, agora desempenhando na construção ou desconstrução de imagens e disseminação de ideias, intensificou a circulação de fake news e polarizou o país entre os dois possíveis candidatos para as próximas eleições. Nesse ambiente virtual, não existe mais um meio termo; se você concorda com alguma atitude de um deles, você é obrigatoriamente contra o outro. Se você apoia uma pessoa que concorda com um deles, você é contra o outro. Chegamos a um ponto no qual a bandeira do Brasil não é mais um símbolo de patriotismo, de amor e respeito pelo país, mas sim de apoio a governos de direita, como o atual. Utilizar algo da cor vermelha, muitas vezes é assumido como apoio à esquerda e ao comunismo.


Nesse contexto, as discussões políticas deixaram de ser momentos de aprendizagem, troca de opiniões e conhecimento, tornando-se brigas que podem acabar com amizades antigas e perturbar as relações familiares. Não é aceito que a mesma pessoa possa concordar com ambos lados ou que não concorde com nenhum. Nesse cenário, a educação política em escolas é um ponto delicado e em diversas instituições de ensino, especialmente primário e secundário, foi optado por não ser abordado, movimento conhecido como “Escola sem Partido”. Iniciativas como essa são uma ameaça ao futuro do nosso país. Sem educação política, novas gerações crescem sem uma análise política crítica, não se questionam e não compreendem o seu papel diante das mudanças. Dessa forma, não criamos cidadãos conscientes de sua responsabilidade política, os problemas se mantêm constantes e, retomando a frase de Lima Barreto, o povo adota o papel de público.


Caímos, assim, em um ciclo: a teoria da história cíclica que acredita que os acontecimentos se repetem várias vezes. Diversos dos problemas políticos que enfrentamos atualmente não são novos, pelo contrário; são pontos antigos que nunca foram mudados. Mantendo essa ideologia de “Escola sem Partido” sem discussões políticas em sala de aula, a história de fato será cíclica e não haverá mudanças, afinal como já dizia Gandhi, “temos de nos tornar a mudança que queremos ver”.


Em um momento delicado como o presente momento do país, onde há instabilidade política e extremos ideológicos, a educação política se torna ainda mais essencial. Trazendo um exemplo internacional, em algumas escolas canadenses, professores trazem temas políticos para as aulas, assim como convidados externos, e durante a época de eleições para Primeiro-Ministro, ocorre nas escolas, uma simulação de eleições. Com essa atitude, os alunos se tornam cidadãos mais conscientes politicamente e desenvolvem um senso crítico, debatendo entre si para chegar a um candidato. Eles desenvolvem uma opinião própria e não apenas replicam o que ouvem em casa. Esses são alguns dos inúmeros exemplos de como podemos introduzir a política no âmbito escolar brasileiro.


Nesse cenário, a FGV Global possui a missão de capacitar os membros em assuntos dos campos de economia, gestão, negociação e política aplicados ao contexto profissional internacional. Para isso, oferecemos workshops, palestras, simulações e outros eventos a fim de familiarizar nossos membros com o cenário global, qualificando-os como cidadãos conscientes e para os futuros desafios do mercado de trabalho.


Autoria: Fernanda Cho e Fernanda Maudonnet

Revisão: André Rhinow

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