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O MEU TIME NÃO ME MATOU (AINDA)



“Hoje, é um novo dia, de um novo tempo, que começou”. Ouvindo este tradicional jingle da Rede Globo podemos dizer com confiança: o fim do ano está entre nós, e me trouxe uma confusão de presente. Confesso a você, querido leitor, que não sabia o que escrever. Dado o fim da temporada de 2024 do futebol nacional, tive várias ideias. Que tal uma retrospectiva? Ou falar da soberania brasileira na Libertadores? Talvez criticar o calendário da CBF de 2025? Por que não falar do futebol europeu, que segue a todo vapor? E a Copa do Mundo de 2034 na Arábia Saudita? Onde fica o H de “Ahtlhethico Paranhahnse”? Confie em mim, meu leitor, pensei em diversos temas muito bons, que talvez venham a ser escritos, mas que não pareciam o ideal para o momento. Fiquei mais perdido que um boneco de neve no Brasil, até que me veio a resposta: clubismo. Sim, meu querido, este é mais um texto sobre meu amado Sport Club Corinthians Paulista. Mais especificamente, sobre como este time, que quase me mandou para o hospício neste ano amaldiçoado de 2024, se redimiu.


Como diria o ex-jogador e atual comentarista Craque Neto: que fase que tá o Corinthians! Ler isso parece até difícil de acreditar, mas é verdade. Para quem leu meu último texto sobre o meu amado time, no qual eu parecia um louco frustrado com a situação do Timão e morrendo de medo do rebaixamento, pode até soar como piada, mas acredite: o Corinthians praticou no final da temporada um futebol primoroso. Mas vamos por partes: qual era o problema? Bom, tudo. Um vento sudoeste um pouco mais forte do que o esperado era suficiente para fazer com que o time entrasse em colapso. Para ser sincero, era mais fácil falar o que não era um problema. A defesa estava perdida, o ataque improdutivo e o meio de campo,  inconstante. A chegada do novo técnico, “Don” Ramon Diaz, já demonstrava algumas melhorias, especialmente ao criar uma maior profundidade tática para um time que até então só tinha um sistema de jogo – e, diga-se de passagem, um sistema ruim. 


O que mudou? No meu último texto, brinquei que o problema era espiritual, e, com o tempo, pude ver que existia algum fundo de verdade nessa brincadeira. O time tinha muitos problemas de confiança, muito em razão do momento ruim do clube e por ter permanecido na zona de rebaixamento por tanto tempo. Não há dúvidas de que a pressão era enorme. Acredito que isso fica ainda mais evidente no caso de Yuri Alberto, centroavante da equipe, que era ridicularizado pela imprensa pelo seu mau desempenho e culpabilizado pela má fase do time. Não há dúvidas de que ele estava jogando mal e de que os gols bizarros que ele perdia faziam falta, mas é impossível falar que ele era o único responsável. Não era ele quem cometia pênaltis idiotas, e não foi ele que deu um soco em um bandeirinha (sim, isso aconteceu e foi a coisa mais bizarra que eu já vi; meu sangue ferve só de lembrar).


O fator mais decisivo para a retomada corinthiana foi, sem sombra de dúvidas, a chegada de novos reforços. Adições à zaga trouxeram mais experiência, segurança e, especialmente, maturidade (estamos há aproximadamente oito meses sem bater em bandeirinhas). O meio de campo ficou mais consciente e proativo, enquanto o ataque ficou mais letal e decisivo, graças à contratação de um jogador em específico: Memphis Depay. A chegada de Memphis, artilheiro da seleção holandesa, foi carregada de pompa e festa, com a expectativa de que ele iria salvar a temporada do time. E, se posso ser sincero, ele meio que salvou. Memphis não apenas contribuiu com gols, como também potencializou o restante do time, ajudando Yuri Alberto a terminar o ano como um dos artilheiros do campeonato. Além do mais, o holandês também soube se relacionar com a torcida e com sua cultura, visitando bares da zona leste de São Paulo e contribuindo com a Gaviões da Fiel, torcida organizada do clube. Muitos podem considerar essas ações como performáticas, o que possivelmente são, mas não deixam de ser boas performances, totalmente diferentes das atitudes de outros estrangeiros ou até mesmo de brasileiros que voltam da Europa. Foi de Memphis o provável gol mais importante da temporada, em uma cobrança de falta contra o Athletico Paranaense, que levantou a moral do time e encaminhou uma vitória de cinco a dois em um jogo extremamente importante.


Meu time voou desde então. Sério. Ok, ok, houve nessa época a eliminação na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana, esta última em dois jogos apáticos contra o Racing, da Argentina, com escolhas duvidosas nas substituições feitas pelo técnico do Timão. Mas, no que importava – a luta contra o rebaixamento – o time voou. Foram nove vitórias seguidas no Campeonato Brasileiro, em um total de dez jogos sem perder. Nessa arrancada, o Corinthians passou de um time firmemente na zona de rebaixamento para uma equipe classificada para a pré-Libertadores, terminando o campeonato na sétima colocação e com a segunda melhor campanha do returno(a segunda metade do campeonato). Não tem como ficar triste com uma coisa dessas! Esse milagre natalino fora de época consertou até uma das catástrofes causadas pelo começo de temporada abissal do time. Devido à má performance no Campeonato Paulista, o Corinthians ia ficando de fora da Copa do Brasil de 2025, o que não era só ruim por se tratar de uma competição importante, mas também por ser uma copa que premia os clubes com muito dinheiro. Agora, ao terminar o campeonato dentro do G8, o time garantiu uma vaga para a edição do ano que vem, melhorando as perspectivas de títulos e de renda.  


Agora você deve estar se perguntando: “Se o final de ano foi tão bom, por que você colocou no título que seu time ainda não te matou, querido autor?” Bom, antes de mais nada, parabéns pela atenção aos detalhes. Essa é a grande questão do Corinthians: ele sempre encontra um jeito de me estressar. Apesar de ter tido um bom final de ano, o clube passa por grandes problemas financeiros. Não quero ser mais um a acabar com a alegria corinthiana ao lembrar da dívida absurda que temos – de quase 2,5 bilhões de reais, pouca coisa – mas é preciso colocar esses números em qualquer análise do time. Não concordo que todo o dinheiro gasto com os reforços foi irresponsável – seria irresponsável ser rebaixado com uma dívida dessas –, mas não podemos falar que foi ideal. O time, por conta da politicagem interna, ainda não consegue criar um ambiente que permita com que esse problema seja enfrentado de forma correta. O atual presidente é alvo de um pedido de impeachment pelos antigos mandatários do clube, que, ironicamente, foram aqueles que contraíram essa monstruosidade de dívida, através de contratos surreais (o time já contratou um jogador de futevôlei para o sub-20, por exemplo) e da construção do estádio. A dívida referente à Neo Química Arena é de 700 milhões de reais. Com o clube, sejamos francos, incapaz de pagar uma pendência desse tamanho em sua situação atual, uma vaquinha foi aberta para que a torcida pudesse contribuir com o pagamento da Arena. Essa foi uma ação linda que prova o amor de uma torcida ao seu clube, que foi sequestrado por interesses pessoais de alguns conselheiros e ex-diretores.


Enfim, estou vivo. O torcedor corinthiano está vivo. Por mais que tenha sido um ano difícil e que a situação financeira do clube seja, no mínimo, aterrorizante, o Corinthians está vivo. A temporada de 2024 terminou bem e recompensou o torcedor fiel por sua fé e esperança. E 2025 promete, agora que o time possui um bom técnico, um bom elenco e uma ideia inicial de como lidar com suas apavorantes dívidas. Tomara que, com a força de sua torcida que não o abandona por nada –nem quando ele merece –, o clube consiga se fortalecer ainda mais. É isso. Agora vou aproveitar meu tempo sem futebol, já que, por mais que eu ame o esporte e o ano tenha acabado bem para o meu Timão, não posso negar que o estresse me cansou. É hora de descansar para aguentar os problemas de 2025. Boas festas e um tranquilo 2025, caro leitor.



Autor: Eduardo Loeser

Revisão: Giovana Rodrigues e Ana Carolina Clauss

Foto de Capa: Jhony Inacio / Meu Timão


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