Qual o custo de perder parte do pulmão do planeta? Isabella Grimaldi, como redatora, expõe a opinião da Gazeta Vargas sobre as queimadas que acontecem agora na Amazônia.
Segunda-feira o céu ficou escuro. De luto. A Amazônia estava morrendo e o céu lamentou. Ficou preto como se estivesse sofrendo pelo assassinato de partes do maior tesouro do planeta.
A Amazônia está em chamas há 3 semanas. Três. Três semanas e não houve nenhuma notícia sobre a barbárie que está sendo feita, a não ser agora, depois que o céu ficou escuro e as pessoas amedrontadas. O fenômeno que deixou o céu escuro foi um alerta até para aqueles que não se sensibilizam com questões ambientais.
O céu de luto foi uma junção da fumaça provocada pelas queimadas e de uma frente fria que está a chegar na região Sudeste. Fico imaginando o desespero das populações que vivem próximas da região. Essas pessoas, com certeza, não viram só um céu escuro. Elas tiveram dificuldade para respirar e viram de perto o desastre e o choro da Floresta.
O que dizer sobre essa angústia e medo do que está por vir?
O que dizer?
O que dizer sobre um governo que diminuiu a fiscalização do desmatamento na Floresta Amazônica? O coordenador de políticas públicas do Greenpeace afirma que, neste ano, houve 30% de redução das operações de combate ao desmatamento pelo Ibama. A isso, soma-se a queda de 65% na aplicação de multas aos agentes envolvidos nas queimadas. Diante dessa flexibilização do controle no maior bioma brasileiro, os desmatadores têm mais poder e autonomia para destruírem a floresta que é responsável por produzir 20% do oxigênio do mundo.
O que dizer?
O que dizer sobre um Presidente que debocha de desastres como esse? Ao ser questionado para comentar a respeito das queimadas na Amazônia, o atual Presidente, Jair Bolsonaro, ironizou e diminuiu a relevância do caos ao dizer: “Eu sou o capitão Motosserra”. A primeira vez que li uma das notícias falando sobre essa reação do Presidente, pensei que todo o meu pesadelo diante desse governo estava se tornando realidade. Jair Bolsonaro, Presidente de somente alguns desse país, ao debochar de um acontecimento ambiental alarmante e desesperador como esse, revela-se indiferente aos impactos que as queimadas mais recentes na Floresta irão desencadear.
O que dizer?
O que dizer quando dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que o desmatamento na Amazônia, em julho de 2019, aumentou em 278% em comparação com o mês de julho de 2018? Apesar dos números angustiantes, não foi vista uma ação sequer do atual governo para proteger o bioma, pelo contrário. Na mesma linha do Presidente Donald Trump, que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris por não acreditar no aquecimento global, Bolsonaro desacredita os dados e afirma: "[se] divulga isso, é péssimo para a gente”. O que dizer sobre um Presidente que faz piadas sobre o que está acontecendo na Amazônia e que julga ser um problema a divulgação de dados? O que ele sabe sobre a democracia, então?
O que dizer?
A gravidade da situação é ainda mais intensa quando são consideradas as terras indígenas e as unidades de conservação afetadas pelas queimadas na região amazônica. Trinta e seis (36) terras indígenas sofreram os efeitos das chamas do desmatamento ao longo dessas 3 semanas que a Amazônia está em chamas. Fico imaginando como está a vida dos índios nesse cenário. Sem amparo algum desde o início desse governo deprimente, já que Bolsonaro afirmou “Enquanto eu for Presidente, não tem demarcação de terra indígena”, agora precisam lidar com a destruição de suas terras e de seus refúgios.
Para piorar, trinta e duas (32) Unidades de Conservação foram fortemente afetadas.
O que dizer?
O que dizer quando o mundo todo está inconformado com a situação na Amazônia e os impactos que as queimadas irão desencadear, menos o próprio Presidente do Brasil? O professor do Departamento de Ciências Ambientais do Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Jerônimo Sansevero, afirma que estamos diante de uma perda irreparável. “Nunca tivemos uma perda tão alta nas últimas três décadas", afirmou para o BBC Brasil.
Tamanha a magnitude do desastre que dois advogados franceses, Jessica Finelle e François Zimeray, afirmam que se os projetos do Presidente Jair Bolsonaro forem executados, poderão ser considerados crimes contra a humanidade, principalmente por forçar a transferência de populações indígenas. Os projetos consistem em sair dos acordos de Paris e expulsar os índios de suas terras na Amazônia para o desenvolvimento de atividades econômicas. As queimadas das últimas 3 semanas na Floresta foram o início desse projeto angustiante do Presidente e não é à toa que o mundo está em desespero.
O que dizer de um governo que, em 8 meses, já conseguiu causar tanto dano ao planeta? Os satélites da NASA já conseguiram registrar a fumaça dos incêndios nos estados de Rondônia, Amazonas, Pará e Mato Grosso. As chamas são tão grandes que a fumaça pode ser vista do espaço.
O sentimento de desespero e angústia é geral. O que dizer e o que pensar sobre os próximos 40 meses que estão por vir sob o governo do Capitão Motosserra? E pensar que alguns ainda dizem “pelo menos tiramos o PT”. Triste e aterrorizante.
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