Estou me encontrando com a culinária durante os últimos meses, foi um mundo pelo qual sempre tive fascínio, mas nunca reservei tempo ou esforço suficientes para tal atividade. Porém, eu creio que seja uma prática que todos devam inserir em suas vidas por conta do elo que se é criado entre a comunidade, o indivíduo e a terra durante o ato de cozinhar. Percebi essa ligação primeiramente na tradição da minha família de se reunir em churrascos e almoços nas casas dos mais velhos, que servem como eventos de agregação social nos quais as pessoas se encontram, trocam opiniões, notícias, fofocas. Por conta disso, comecei a refletir sobre os aspectos culturais e até sociológicos da alimentação e do preparo dela nas mais diversas sociedades e tempos históricos.
O alimento serve um papel fundamental na vida cotidiana e, dada essa importância, o ato de prepará-lo se tornou um ritual da mais suma relevância para cortes reais, batalhões de guerra e famílias camponesas. A culinária acompanha as influências e contatos das mais diversas culturas e sociedades da época e varia de acordo com o seu período histórico, aspectos geográficos e climáticos.
Não podemos negar a importância da alimentação e, por consequência, da culinária, na nossa história, cultura e no dia a dia. Os velhos livros de receitas de avós são um ótimo exemplo disso, aludindo ao caráter tradicional de técnicas, ingredientes e histórias passados de geração em geração que sobrevivem em cada família e são incrementados e enriquecidos a cada vez que a receita é repetida. Pensando nesses aspectos que me interessam, o ato de cozinhar me traz conexões tanto com pessoas próximas que tanto amo quanto contato com tradições centenárias, e até milenares, acumuladas ao longo da história.
Adicionalmente, indo além dos aspectos sociais, vejo a culinária como uma forma pessoal e terapêutica de estar em contato comigo mesmo e todos os meus sentidos: tato, paladar, olfato, visão e audição. As diferentes combinações dessas percepções criam uma experiência sensorial única e que me leva a valorizar o momento presente e as pequenas tarefas como cortar as verduras, refogar a cebola, fritar os bifes, me trazendo um maior contato com a vida e a terra. Dessa forma, há também o caráter experimental do uso de temperos, formas de preparação e outros elementos que tornam o ritual culinário inesperado e um ambiente ideal para a redescoberta e reinvenção de nós mesmos, de nossos gostos e preferências.
A minha intenção com esse texto é fazer você que está lendo também poder experimentar, testar e se permitir errar nesse mundo incrível da culinária em que estou dando os primeiros passos. Por mais vergonhoso que seja errar o ponto do arroz, deixar queimar a cebola ou quase sofrer uma queimadura de terceiro grau enquanto frita um bife, essas coisas acontecem com todo mundo e fazem parte do processo de aprendizado, como andar de bicicleta ou aprender um instrumento. Resumindo as breves ideias aqui apresentadas, a culinária constitui uma parte essencial da experiência humana, que nos aproxima de outras pessoas, de nós mesmos e da terra que todos compartilhamos. Com isso, não precisamos ser grandes chefs para ter a alegria de ver os sorrisos nos rostos das pessoas que amamos após uma refeição deliciosa ou a satisfação pessoal de ter aprendido uma receita nova.
Autoria: Gustavo Alves Daniel
Revisão: João Vitor Garcia Vedrano
Imagem da capa: Shutterstock
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