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PARÁBOLA DO DÊ-A

Nosso editor-chefe, Victor Coutinho, por meio de um diálogo figurado, apresenta o questionamento sobre o atual retrato conturbado da nossa GV!

- Dê-a o dinheiro. Não se pode cogitar que passemos mais um mês sem fazer esse pagamento, nossa dívida está crescendo demais e...

- “Dê-lhe”, animal.

- O quê?

- O correto é “dê-lhe o dinheiro”.

- Do que você está falando?

- Não se faça de desentendido.

- Hein?

- É “dê-lhe”. Você falou “dê-a”, já esqueceu?

- Pra ser sincero, esqueci sim.

- Pois não deveria, é um erro grave.

- Escuta, você tá mesmo interrompendo essa reunião pra corrigir a minha colocação pronominal? E ainda por cima me xingando, cara?

- Ai ai ai, “tá”, “pra” e “cara”! De onde vem essa sua dificuldade de manter a formalidade?

- Isso não é formalidade, é formalismo! E quem é você pra cobrar formalidade? A primeira coisa que fez foi me ofender.

- Ah, isso você não esqueceu. Curioso…

- Olha, essa maluquice já tá indo longe demais e estamos perdendo muito tempo com uma picuinha.

- Nada disso, é uma questão de suma importância.

A presidente da Comissão interrompeu:

- Realmente, é algo que precisa ser analisado.

- A dívida, certo?

- Não, não! Estou falando do seu pronome.

- O quê? Que é que está acontecendo aqui? É uma espécie de pegadinha?

- Eu não usaria um termo tão chulo… Não, vamos ter que averiguar. A reunião está encerrada.

- Mas…

- Encerrada!

Após o horário de almoço, o executivo voltava para sua sala quando um colega comentou:

- É, amigo, sinto muito.

- Pelo quê?

- Não contaram ainda? Sabe aquele seu projeto que estava apresentando à diretoria? Impugnado.

- Isso não pode ser sério! Por causa da porcaria de um pronome?

- Você fala como se não fosse nada! “Dê-a”? Erro crasso...

Enquanto isso, o resto do mundo continuava não dando a mínima e, lá fora, na rua em frente ao prédio, um senhor de idade passava alegre, alheio a tudo aquilo e cantarolando Adoniran: “…vide Verso meu endereço, apareça quando quiser...

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