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PRECISAMOS FALAR SOBRE A POLÊMICA DO NEYMAR

A acusação de Neymar é tema do texto enviado ao espaço aberto da Gazeta, anonimamente. A polêmica já gerou muitos memes e risadas nas redes sociais, mas a exposição da conversa polarizou a discussão quanto a privacidade dos indivíduos. E você, o que acha?

Neste fim de semana, surgiram notícias de uma investigação na qual o jogador estaria envolvido em um caso de estupro. Para se defender, Neymar postou em suas redes sociais um vídeo explicando a situação, dizendo que estava sendo vítima de uma extorsão e divulgou prints da conversa com a vítima. As trocas de mensagens envolviam flertes e fotos íntimas dela.


O problema se inicia quando Neymar expõe fotos privadas e informações da mulher sem consentimento algum dela. De acordo com a Lei 13.718/2018 a exposição de fotos e vídeos íntimos sem consentimento configura crime, já que se fundamenta na ideia da dignidade humana, inviolabilidade da honra e direito à privacidade. No vídeo, apenas as partes íntimas da mulher estão censuradas, além de mostrar dados da vida pessoal dela, como seu nome completo e o nome de seu filho, sendo assim facilmente possível de identificar a vítima em questão, causando uma exposição extrema da mulher.


Além disso, o vídeo de forma alguma pode servir como prova de que o estupro não ocorreu, muito pelo contrário. Flertes e troca de nudes não configuram permissão. Caso em algum momento a mulher dizer “não” e ser forçada a iniciar ou continuar o ato, é estupro. Uma ideia manifestada por muitos usuários é que ela continuou trocando mensagens com o jogador após o ocorrido e isso seria uma justificativa que tudo não se passava de um golpe. Porém, é extremamente comum que mulheres estupradas por conhecidos continuem interagindo normalmente com eles após o abuso, como um mecanismo de defesa psicológica. Isso se deve a uma tentativa de esquecer o ocorrido, tentando agir de maneira normal por conta do abalo tão grave do psicológico. As vítimas necessitam de tempo para processar o ocorrido e um dos mecanismos do estresse pós-traumático é exatamente bloquear os pensamentos acerca da situação.


De acordo com o “The Intercept”, uma pesquisa norte-americana que analisou 10 anos de dados concluiu que 9 entre 10 relatos de estupros são verdadeiros. Não há pesquisas acerca dos dados brasileiros, mas estima-se que os resultado são semelhantes. No Brasil são relatadas 500 mil agressões anuais, sendo que apenas 35% dos estupros são denunciados, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Isso deve-se principalmente por conta dos julgamentos que a sociedade infere sobre essas vítimas. O medo de serem apontadas como culpadas, mentirosas e enganadoras é um dos fatores que reforça o silêncio. Além da contínua tentativa de justificar os casos culpando a vítima pela roupa, pela maneira que estava se portando ou por ter ido até o apartamento/hotel do agressor.


Outra questão a se repensar é no que os internautas decidiram focar a atenção após uma denúncia grave de crime. A criação de memes e o humor acerca da maneira de como o jogador flertava tornou-se o cerne da discussão, ausentando-o da responsabilidade do crime e deixando essa discussão de lado. Neymar optou por uma estratégia para ser “inocentado” pelo público, principalmente por seus fãs e patrocinadores com contratos milionários, mas tornou-se um criminoso tentando se inocentar do outro crime. No entanto, essa estratégia foi sucedida em partes. Apesar de Neymar agora ter efetivamente cometido um crime e terá que ser punido pela Justiça, o centro das atenções nas discussões na internet mudou de foco, relativizando a discussão e a seriedade do assunto.

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