A nossa redatora Victória Rieser traz a “maestria” da diária dificuldade feminina de simplesmente viver. No dia internacional da mulher, vale questionar: Será que elas vivem ou sobrevivem?
Na última sexta-feira (8), mulheres do Brasil e do mundo foram às ruas reivindicar sobre igualdade de gênero. Tradicionalmente, no Dia Internacional das Mulheres, movimentos feministas se organizam em forma de passeatas para abordar temas como igualdade salarial, direito ao aborto, objetificação feminina, fim da violência domestica e do feminicídio assim como outros inúmeros temas que nos afligem como mulher. Dessa vez, entretanto, as manifestantes levaram às ruas a indignação do movimento perante o assassinato da vereadora Marielle (Psol) que logo fará um ano. Além dessa abordagem central do ato, elementos como a Nova Previdência e outras propostas de Bolsonaro foram democraticamente levados à contestação.
Cabe aqui ressaltar, que o mesmo ato que ocorreu em 23 estados brasileiros fez parte do dia 8 de março de mais no mínimo vinte países. Sendo que em Istambul na Turquia e em Kiev na Ucrânia, a marcha foi ostensivamente interrompida por agentes policiais que lançaram bombas de gás contra a concentração pacífica – a razão dada é que a manifestação vai contra os princípios morais do país.
Ao redor do mundo, mulheres corajosamente resistiram para denunciar as estruturas patriarcais sob palavras de ordem como "Não temos medo”. Por fim, deixo aqui um breve relato sobre o meu dia 8 de março e meu trajeto até o vão do MASP nessa última sexta-feira.
Termino meu treino e ao sair da academia chamo um Uber por razões de “segurança”. Afinal, mesmo que próximo ao destino final, andar pelo Bixiga com roupa de academia não é uma situação agradável enquanto mulher. Entro no carro e para a minha surpresa me deparo com duas placas fixadas em direção ao passageiro com o seguinte dizer:
– “Parabéns pelo dia Internacional da Mulher. Aquela que é maravilhosa acima de tudo, que pode com um sorriso provocar amor e felicidade. Mulher. É aquela que pode explanar com simples gestos toda sua feminilidade e grandeza.”
O motorista me oferece um Sonho de Valsa e me deseja Parabéns. Sorrio sem graça e recuso o bombom. Vi nesse instante uma ótima oportunidade de esclarecer algumas questões ao motorista.
– Estou indo à manifestação do 8 de março na Paulista!
– Legal. Estava por lá, o trânsito está parado. Mas moça, me explica uma coisa? O que vocês estão indo manifestar?
Tendo a máxima paciência possível vide ao abismo cultural que nos separam. Explico questões feministas básicas:
– Queremos respeito. Você sabia que todas nós temos medo de andar pelas ruas e por transportes públicos por conta dos assédios? O dia de hoje não é apenas uma data comemorativa e feliz.
– Mas vocês não gostam do dia das Mulheres, então?
– Nós definitivamente não queremos parabéns por esse dia. Não é estranho vocês nos parabenizarem pelo sofrimento diário que vocês mesmos nos fazem passar? Do que adianta flores e bombons em uma data especifica se nos outros dias está tudo novamente igual?
– É verdade, moça. Eu, por exemplo, dou bombons à minha esposa em outras datas também.
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