No último dia 14, a FAAP, em conjunto com o Estadão e o Terra, promoveu o segundo debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo. Estiveram presentes os seis candidatos que lideram a disputa municipal: Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (NOVO).
A discussão ocorreu em meio a críticas e confusões sobre o formato adotado, inclusive no que diz respeito aos direitos de resposta – muito solicitados em decorrência da série de ofensas proferidas entre os candidatos. Nesse sentido, o evento foi justamente marcado mais pela troca de acusações do que pela exposição e confronto de propostas dos planos de governo para a maior cidade da América Latina.
Ao longo deste texto, discorremos acerca da participação de cada um dos seis candidatos. Salienta-se, inclusive, que o artigo não pretende apresentar-se como uma redação “imparcial”. Portanto, como qualquer outra escrita, “Debate Estadão: como se saíram os candidatos à Prefeitura de São Paulo?” contém o viés político de seus redatores nesta análise.
José Luiz Datena
Em determinado momento do debate, enquanto discutia educação com Guilherme Boulos, Datena perdeu o controle de seu tempo disponível no debate. Em resposta a isso, Boulos disse: “a educação começa com disciplina, até para usar o tempo no debate”. Não foi um caso isolado. Datena, em nenhum momento, realmente soube administrar seu tempo. E isso é um dos frutos daquilo que Datena de fato é: um apresentador de um programa de televisão de cunho sensacionalista que muito fala, mas pouco faz.
O jornalista é ótimo em fazer denúncias (ou acusações nem sempre bem fundamentadas), relatar problemas e apontar o dedo na cara dos demais candidatos. Contudo, é fraco ao apresentar as possíveis respostas ou soluções. Como exemplo: Datena se diz o melhor preparado para falar sobre segurança pública, mas quando tem a oportunidade de discursar sobre o assunto, resume-se a “acabar com o PCC e prender traficante e bandido”, com algumas inovações ao citar, de forma rasa, a participação da polícia, da GCM e do governo estadual. Ou seja, não há uma proposta de fato, apenas um discurso como o que ele faria em um dia qualquer na televisão.
Existe um intuito do candidato de “roubar” votos de Guilherme Boulos e Tabata Amaral, mas, com as dificuldades que tem apresentado, eu me questiono se ele irá realmente conseguir isso. Ambos os candidatos lidam muito melhor com o ambiente político e apresentam maior consistência que o Datena. É como se a campanha do jornalista acreditasse que sua fama por si só seja suficiente para que ele roube votos – inclusive, em seu primeiro dia de campanha, o apresentador estava em Aparecida, a 180 quilômetros de São Paulo. “Estava em busca de proteção”, ao que justificou. Enquanto isso, Marçal, Nunes, Boulos e Amaral, todos adversários com considerável intenção de voto nas pesquisas, estavam indo às ruas. Se realmente há a crença de que a fama de Datena será suficiente para sua vitória, então o candidato está fadado a ficar pelo caminho. Pois, no fim, o jornalista é associado ao sensacionalismo de seu programa de televisão e não tem se esforçado para mudar essa imagem.
Marina Helena
Marina Helena, candidata do Partido Novo à Prefeitura de São Paulo, fez sua estreia nos debates assumindo uma persona já muito conhecida pelos brasileiros. Nas discussões no auditório da FAAP, a candidata aparentava reeditar a figura de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Entre os tópicos pautados por ela, destacam-se três semelhantes aos do capitão: o populismo penal, o ataque aos direitos da comunidade LGBTQIAP+ e a privatização.
“O Brasil é campeão em impunidade por um motivo simples: a gente aqui tem a nossa esquerda que defende passar a mão na cabeça de bandido. Eu não tolero isso!”. Na segurança pública, Marina Helena aplica o conhecido e eleitoreiro populismo penal, que busca culpar a esquerda e a defesa dos direitos humanos por toda a insegurança vivida pelos brasileiros. De acordo com ela, a criminalidade também estaria relacionada às “leis moles” do Brasil. Porém, mole para quem? Para a população negra, isso não parece ser uma realidade.
Uma pesquisa do Núcleo de Estudos Raciais do Insper revelou em junho deste ano que a polícia do estado de São Paulo enquadrou 31 mil pessoas pretas e pardas como traficantes em situações em que brancos foram considerados apenas usuários. Ao considerar um sujeito como traficante e não usuário, a polícia apenas pode definir uma pena de até 15 anos. Assim, não me parece que a lei seja muito mole com a população mais vulnerável no país.
Em relação aos direitos da comunidade LGBTQIAP+, Marina Helena utilizou boas políticas públicas da Prefeitura de São Paulo como fantoche de seu terror moralista. No confronto com Ricardo Nunes, a candidata atacou o canal lançado pela prefeitura no YouTube “Saúde para Todes”. Ela acusa o canal de ensinar “ideologia de gênero”, gênero neutro e o bloqueio hipofisário, o qual Marina Helena quis emplacar como um “bloqueio hormonal de puberdade” – uma inverdade, como revelado pelo jornal O Globo em matéria referenciada ao fim deste artigo.
Na realidade, o “Saúde Para Todes” não passa de um dos eixos temáticos da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo que visa informar e assegurar a saúde da população LGBTQIAP+, indivíduos que por muitos anos foram marginalizados e deixados à parte das políticas públicas. Ademais, embora Marina Helena tenha cunhado tais políticas como “do PSOL” – equipararando a gestão do MDB de Nunes aos ideais da esquerda –, a Constituição Federal estabelece que o Estado deve promover o bem de todos sem qualquer espécie de discriminação. Ou seja, a promoção do bem de pessoas LGBTQIAP+ não é política de esquerda, mas sim de Estado.
Além disso, Marina Helena defendeu passar a administração das escolas municipais de São Paulo para as “melhores instituições de ensino de São Paulo”. Não explicou, entretanto, quais são os parâmetros que utilizará para determinar quais são esses colégios. Arrisco dizer que a candidata empregaria apenas os critérios da perspectiva mercadológica da educação. Isso porque, questionada acerca do uso de celulares nas salas de aula, a candidata pontuou ser favorável à proibição, mas com o uso educativo de outros tipos de tecnologia, uma vez que, em suas palavras: “o que não dá é para a criança ficar perdendo tempo e estudando na hora que ela estiver na sala de aula paga por todos nós e pelos nossos impostos”.
Tal observação deixa evidente como a educação proposta por ela obedece exclusivamente à razão do capital. Sob essa lógica, os celulares não devem ser proibidos por afetar a sociabilidade dos alunos, o desempenho acadêmico e o foco, mas sim porque essa ação gera um desperdício de gastos – e não investimentos. Gastos esses que, inclusive, podem ser reduzidos se a Prefeitura abrir mão de administrar o desenvolvimento e a introdução à sociedade desses novos cidadãos em benefício do aumento do lucro de um seleto grupo que gerencia os grandes colégios de São Paulo. Assim, conclui-se que a candidata não encontra problemas em desprezar até mesmo a educação se isso for em favor do lucro.
Tabata Amaral
Se eu fosse resumir a deputada em poucas palavras, seria: “uma candidata do Partido Democrata estadunidense”. É visível a influência que a política estadunidense teve na figura política de Tabata Amaral. A candidata deseja assumir uma posição de neutralidade em Hrelação à polarização entre Lula e Bolsonaro e, dessa forma, conseguir o apoio de eleitores de ambos os lados. Ela assume bem essa posição e é a candidata mais propensa a roubar votos de Guilherme Boulos. Do espectro bolsonarista, por outro lado, tenho minhas dúvidas. Hoje, a maior ameaça para Ricardo Nunes em seu objetivo de conquistar o eleitorado bolsonarista é Pablo Marçal (como iremos dissertar mais adiante), e já é sabido que Amaral não irá conquistar esse público.
Isso porque essa parcela da população anseia exatamente por aquilo que a candidata mais deseja afastar de si mesma: a polarização. O “8 ou 80”, “Ou Bolsonaro ou comunista”. Não à toa que o ataque mais constante que Marçal tem feito à Amaral seja chamá-la de “parachoque de comunista”.
O que não significa que ela não seja uma ameaça relevante para Ricardo Nunes.
Ainda que muitas das atitudes da candidata enquanto deputada não tenham, de fato, sido pró-trabalhadores, é fato de que a mesma veio de uma realidade que se assemelha com a que muitos paulistanos vivem. Portanto, seria insensato acreditar que ela não consegue compreender e dialogar com a periferia paulistana. Assim como é insensato acreditar que toda a base eleitoral de Nunes é bolsonarista. A deputada visa conquistar aqueles que não pertencem a esse grupo e que também fazem parte da periferia paulistana. E nós acreditamos que ela possui potencial para conseguir.
Dito isso, não acredito que Tabata Amaral seja a melhor opção. É uma das melhores opções, inegavelmente, mas pouco convence de que será ela a candidata que resolverá os problemas de São Paulo. Como eu disse anteriormente, em seu mandato como deputada, muitas das atitudes que tomou não foram de alguém que realmente está em uma briga pró-trabalhadores. Alguns dos exemplos mais famosos que podem ser citados foram seus votos favoráveis à reforma da previdência, à privatização dos correios e à autonomia do Banco Central - três projetos que eram tidos como prioridade no governo de Jair Bolsonaro. Assim como Amaral já declarou que irá manter a reforma da previdência feita em 2021 em São Paulo pela gestão de Ricardo Nunes. Frequentemente a candidata justifica essas decisões por serem “responsabilidade fiscal”, contudo essa justificativa, já velha e batida, ignora que não há como falar de responsabilidade fiscal sem falar da responsabilidade social e trabalhista. Ignorar os efeitos que tais atos têm na população é privilegiar uma classe dominante em razão dos trabalhadores. Portanto, acreditar que, caso assumisse a prefeitura de São Paulo, Amaral tomaria todas as decisões visando a população periférica é ingenuidade. A neutralidade que a candidata adota não é apenas um meio de se desvencilhar da luta polarizada entre Lula e Bolsonaro, mas também de não “queimar” sua imagem com grandes detentores de capitais. É como se ela dissesse: “estou aqui para o trabalhador, mas se o patrão precisar…” e deixasse apenas insinuado que, no fim, também segue com a agenda neoliberal.
Embora seja preferível a Pablo Marçal ou Ricardo Nunes, Tabata Amaral, ainda que priorize a periferia em discurso, nos bastidores, seu apoio vai aos grandes detentores de capital.
Guilherme Boulos
Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, apresentou-se de duas formas ao longo do debate. Embora tenha notoriamente buscado equilibrar as duas posturas, o candidato mais parecia perdido entre assumir uma postura mais incisiva ou mais propositiva.
Durante o debate, Boulos articulou suas propostas para diversas áreas. Em momentos mais calmos, expôs uma série de projetos de eletrização da frota de ônibus; combinação de investimentos público e privado na cidade; a valorização dos profissionais da educação da cidade; a implementação do modelo de “cidade-esponja”; entre outros. Diante disso, o candidato teve, no confronto com Tabata Amaral, a expressão da maior dúvida acerca de seu plano de governo: o preço.
A soma das propostas do candidato tem sido apontada por muitos como “cara” e de difícil implementação, caso o candidato se comprometa em ter responsabilidade fiscal – princípio pelo qual Boulos não teria se comprometido historicamente, de acordo com Amaral – ou a não subir os impostos municipais. Em resposta, o candidato do PSOL apresentou projeções para o orçamento da cidade de São Paulo para os próximos anos, em uma tentativa de explicitar a viabilidade de seu plano sem o aumento da carga tributária.
A discussão com Tabata Amaral foi um dos pontos altos de Guilherme Boulos no evento. Um dos poucos momentos em que o candidato pôde debater livremente sem necessitar defender sua própria pessoa ou atacar os adversários de modo mais incisivo. Essa outra face de Guilherme Boulos evidenciou-se principalmente nos confrontos com Pablo Marçal e Marina Helena, os quais representam os dois pontos mais baixos desse debate. No confronto com o coach, Boulos aparentava ainda não saber lidar tão bem com o desrespeito do candidato do PRTB.
No lugar de um ataque direto às propostas estapafúrdias do adversário, o deputado federal preferiu retomar o debate transmitido pela Bandeirantes e trazer a condenação de Marçal na tentativa de deslegitimá-lo à Prefeitura de São Paulo. Somente na sequência disso que o candidato fez um questionamento relacionado aos Centros Educacionais Unificados “da Marta” – candidata a vice do psolista com extrema popularidade nas periferias de São Paulo e que sua campanha tenta emplacar como um “rouba votos” de Nunes. Porém, nesse momento, a discussão já estava perdida. A continuidade das falas entre os candidatos pouco tratou de São Paulo e se resumiu a uma nacionalização do debate e o uso de infelizes ofensas pessoais.
Em relação a Marina Helena, Guilherme Boulos perdeu mais uma vez a oportunidade de explicitar ao eleitorado paulistano a fragilidade da proposta de adversários. A discussão se iniciou com o questionamento de como os candidatos adaptariam São Paulo para evitar tragédias advindas das mudanças climáticas, como a ocorrida no Rio Grande do Sul. Marina Helena defendeu a criação da união de secretarias para uma resposta rápida às tragédias, a regularização fundiária e a melhoria do aluguel social. Do outro lado, Boulos propôs a implementação do modelo de “cidade-esponja”.
E, assim, encerrou-se a discussão das mudanças climáticas. Com mais de metade do tempo disponível, a candidata do Novo pautou novamente seu terrorismo na área de segurança pública, fazendo ligações a um membro da pré-campanha do psolista com a “máfia dos transportes” e de um vereador do PT com o PCC. Em resposta, Boulos ironizou a candidata afirmando que a mesma deve ter se confundido e passou a tratar de uma revisão no plano diretor, na busca de retomar o debate acerca da cidade.
O esforço não foi suficiente e os últimos segundos da discussão se limitaram à troca de acusações sobre as índoles de Lula e Bolsonaro. Desse modo, as mudanças climáticas e o sofrimento da população foram deixados de lado. Importaram-se mais em dizer quem era o candidato com os melhores aliados do que quais eram seus planos para evitar mais mortes com enchentes e ondas de calor.
Pablo Marçal
Pablo Marçal, candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, repetiu sua estratégia de desestabilização dos candidatos no debate sediado na FAAP. Apresentando um modelo de bolsonarismo ainda mais radical, Marçal tem uma participação deprimente e tosca.
Suas propostas, longe de qualquer grau de factibilidade, de nada ou muito pouco contribuem para uma melhoria da cidade. Um prédio de um quilômetro de altura, câmeras com IAs que premeditam um crime e teleféricos nas favelas. Talvez, o que se salva desse plano de governo seria o fomento do empreendedorismo nas periferias, evitando o movimento pendular entre os extremos e o centro da cidade. Entretanto, Marçal ainda propõe isso com seu típico discurso de coach, famoso por simplificar e invisibilizar as dificuldades das pessoas mais socioeconomicamente vulneráveis.
No primeiro bloco, o candidato confrontou Tabata Amaral com um tom mais moderado do que o do último debate na Band. Questionado acerca da Lei 10.639, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas, Pablo Marçal desconversou e apontou para o desconhecimento dos brasileiros sobre as leis para o não cumprimento da legislação. Sequencialmente, perguntou à deputada federal por que ela não teria escolhido uma candidata a vice-prefeita negra, explicitando ter sido o único candidato a ter feito isso, tentando emplacar uma narrativa de representatividade e igualdade.
Contudo, Antônia de Jesus, vice de Pablo Marçal à Prefeitura de São Paulo, é policial militar e católica, sem quaisquer aparentes ligações com o movimento negro. Com isso, surgem questões acerca da extensão dessa representatividade de fato, o quanto a vice-candidatura de Antônia seria significativa para as pessoas negras na medida em que nada se propõe em benefício dessa população. Em nada contribui uma representatividade vazia que não muda o coletivo como um todo. Exemplos semelhantes a esse não são escassos na ala bolsonarista da política, vide Hélio Lopes e Sérgio Camargo.
Posteriormente, Marçal explicitou sua estratégia sensacionalista no confronto com Guilherme Boulos. Provocado acerca de sua condenação e questionado sobre os CEUs, não buscou nem sequer causar constrangimento aos telespectadores ao desconhecer algo básico do cotidiano paulistano e proferiu uma série de ataques ao psolista. A partir disso, os candidatos desperdiçaram o restante de seus tempos disponíveis em uma troca de acusações, colocando – mais uma vez – a cidade e os paulistanos em segundo plano.
Todavia, embora as ofensas tenham partido de ambos os lados, não se deve analisar os candidatos como “dois lados de uma mesma moeda” do radicalismo ou, então, por meio de uma falsa simetria. Marçal se utiliza do pior do bolsonarismo em sua retórica. Faz uso de notícias deliberadamente falsas, frases de efeito e moralismo contra Guilherme Boulos, o qual passa a defender-se explicitando a falta de limite ético e mau-caratismo de Pablo Marçal. As suposições do coach em relação ao uso de entorpecentes por Boulos ferem qualquer nível de bom senso na política e representam a escória do debate público. Marçal substitui a discussão de propostas pela destruição da reputação de seus adversários.
Em outras palavras, representa a materialização do gabinete do ódio em um candidato. Sua cena “exorcizando” Boulos com uma CLT evidencia seu circo. Seria cômico, se não fosse trágico o fato de um coach – oriundo de uma das forças políticas que mais tem batalhado para desestruturar o regime CLT e, por conseguinte, aumentando a precarização e a insegurança do trabalho – acreditar ser o verdadeiro representante dos trabalhadores paulistanos.
Ricardo Nunes
É irônico pensar que Ricardo Nunes hoje é líder nas pesquisas eleitorais ao mesmo tempo que não muito tempo atrás, caso andasse na rua, ninguém o reconheceria como prefeito de São Paulo. O atual prefeito passou, de fato, muito tempo fora dos holofotes (para não dizer que “não fez nada”) e, subitamente, surgiu novamente. Mas não da maneira positiva como tenta transparecer.
Nunes tem uma lista grande de “polêmicas” nas costas. Sobre corrupção. Sobre contratos mal feitos. Sobre agressão doméstica. Ele não é, por óbvio, o prefeito que diz ser. E tampouco São Paulo é a cidade que ele diz ser. O candidato se prende a algumas poucas coisas funcionais (e que esse realizou por puro objetivo de se reeleger) e oculta as muitas que deram errado. Algumas, por ineficiência. Outras, por práticas ilegais. E são todos casos conhecidos. Em uma rápida pesquisa, será encontrado diversos casos diferentes em torno da prefeitura de Ricardo Nunes. E, no fundo, cada cidadão paulistano sabe que a atual gestão é péssima.
E ainda assim, Ricardo Nunes é líder nas pesquisas. Como?
Primeiro, é necessário apontar: Ricardo Nunes está indo muito bem em sua manutenção de imagem. O atual prefeito consegue sempre manter uma imagem calma e falar de forma clara o que pretende dizer – nem sempre verdades. Nunes consegue dialogar não só com o público bolsonarista, mas também com o público não bolsonarista. Ele promete melhorias, cita alguma coisa que fez em sua gestão (com frequência, omitindo detalhes) e ressalta que, com ele, “tudo irá melhorar”. É a clássica figura estereotipada de um político brasileiro. Isto é funcional, pois as palavras de apoio que o candidato faz, com frequência, são as que a pessoa em situação social desfavorável quer ouvir.
Então, ao passo que Nunes consegue conquistar um público que, em realidade, nunca esteve em sua lista de prioridades, ao atual prefeito só cabe o esforço de garantir que continue com essa imagem. É daí que saem, por exemplo, os contratos polêmicos com amigos políticos. É daí que saem alianças que nada dizem. É daí que sai um favorecimento constante aos grandes detentores de capital.
Se fôssemos comparar a um jogo, Nunes seria um jogador profissional. Mas não é um jogo, ainda que o atual prefeito trate assim. É uma prefeitura que está em disputa. E é dali que podem surgir possíveis mudanças no cotidiano da população – sejam elas boas ou ruins. O suposto “jogo” de Ricardo Nunes é, na verdade, tratar a vida de outras pessoas como mero meio de chegar ao poder. E é por isso que ele é um candidato tão perigoso.
E, agora, que está aliado ao bolsonarismo, Nunes se prende à família Bolsonaro. Para receber o apoio desses, o atual prefeito se coloca como um possível fantoche em caso de vitória – algo que, na realidade, sempre foi, porém não necessariamente vinculado a Jair Bolsonaro. E agora que o vínculo existe, as medidas que adotará caso reeleito não serão apenas uma forma de privilegiar aqueles que mantinham sua imagem, mas também privilegiar os demais fantoches bolsonaristas. Dessa forma, São Paulo, uma das cidades mais importantes do país, ficaria à mercê de Jair Messias Bolsonaro, justamente o que mais devemos evitar no momento.
Em síntese, o debate Estadão/Terra/FAAP, ficou marcado por campanhas ainda perdidas com a falta de polimento de Marçal, a nacionalização do debate e candidatos confusos com regras não tão claras. O resultado pode ser visto nessa segunda (19) no debate promovido pela ESPM e Veja: a ausência dos líderes das pesquisas, Nunes, Boulos e Datena. Os três buscam a melhor forma de lidar com o descontrole de Marçal e reafirmar as regras dos debates que participarão.
Ainda há tempo até o pleito em outubro, candidatos podem disparar ou ruir nas pesquisas – que não se esqueça os casos de João Dória em 2016 e Celso Russomanno em 2020 –, mas certo é que os postulantes ainda terão que ajustar suas estratégias nos debates seguintes. Fica o desejo de mais discussões respeitosas e propositivas para as próximas edições.
Autoria: Erick Martins e Rauhã Capitão
Revisão: Ana Carolina Clauss e André Rhinow
Imagem da Capa: Felipe Rau/Estadão
REFERÊNCIAS:
ANA PAULA BIMBATI et al. Boulos, Datena e Nunes desistem de debate após “descontrole” de Marçal. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2024/08/19/eleicoes-debate-veja-boulos-nunes-datena-marcal.htm. Acesso em: 20 ago. 2024.
ANA PAULA BIMBATI et al. Debate em SP tem tapa, dedo em riste, propostas vagas e críticas a formato. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2024/08/14/como-foi-debate-estadao-terra-faap-prefeitura-sp.htm. Acesso em: 20 ago. 2024.
ESTADÃO. VEJA O DEBATE COMPLETO À PREFEITURA DE SÃO PAULO | ELEIÇÕES 2024 | ASSISTA À INTEGRA. YouTube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lBDK9k7WYa8. Acesso em: 15 ago. 2024.
Quem é Antônia de Jesus, vice de Pablo Marçal à Prefeitura de SP? IstoÉ Dinheiro. Disponível em: https://istoedinheiro.com.br/quem-e-antonia-de-jesus-vice-de-pablo-marcal-a-prefeitura-de-sp/. Acesso em: 17 ago. 2024.
RÁDIO BANDNEWS FM. ASSISTA NA ÍNTEGRA AO PRIMEIRO DEBATE NA BAND À PREFEITURA DE SÃO PAULO. YouTube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ji-bKsgFggU. Acesso em: 16 ago. 2024
ROSÁRIO, Mariana. Bloqueio da puberdade: técnica citada em debate de SP não utiliza hormônios para barrar amadurecimento; entenda. O Globo. Disponível em: https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2024/noticia/2024/08/14/bloqueio-hormonal-da-puberdade-entenda-polemica-do-debate-entre-candidatos-a-prefeitura-de-sp.ghtml. Acesso em: 18 ago. 2024.
Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo SMS. Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCV32l4Xk6vXOemE60pZ41Sg. Acesso em: 17 ago. 2024.
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