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FAKE NEWS E CORONAVÍRUS

No texto de hoje, nossa redatora Ingrid Bonfim e nossa membra de Rel. Ex. Thaís Ferrari dissertam sobre as consequências das fake news em meio à pandemia. Como a disseminação de informações falsas e equivocadas impacta a vida das pessoas? Que medidas podem ser ou já foram tomadas para evitar que tais notícias fake sejam espalhadas? Leia para saber mais!

Nos últimos quatro anos, uma onda de notícias falsas vem sendo disseminada pela internet. Nesse curto período de tempo, esse fenômeno conhecido como fake news já inundou de mentiras as redes sociais - como o Facebook e o WhatsApp -, influenciou eleições, moldou cenários políticos e, neste ano, produziu inverdades sobre a crise sanitária do coronavírus. O fato é que, se dentro da normalidade, a desinformação já torna os ambientes caóticos, em uma pandemia ela pode custar vidas.


Segundo a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz)¹, Cláudia Galhardi, são muitas as implicações da produção de fake news na atual conjuntura. Entre elas estão: o descrédito na ciência e nas instituições globais de saúde pública, tal qual a OMS, bem como o enfraquecimento das medidas de proteção adotadas pelo governo.


O estudo encabeçado por Cláudia e pela também pesquisadora Maria Cecília Minayo foi dividido em duas etapas e utilizou o aplicativo Eu Fiscalizo para identificar as principais notícias falsas relacionadas à Covid-19. Na primeira fase, entre 17 de março e 10 de abril, as denúncias recebidas se referiam a métodos caseiros para prevenir o contágio e curar a doença; a golpes bancários; a golpes sobre arrecadações para instituição de pesquisa; e ao novo coronavírus como estratégia política. Em um segundo momento, entre 11 de abril e 13 de maio, além dos assuntos já apontados, as fake news notificadas defendiam o uso da cloroquina e hidroxicloroquina sem comprovação de eficácia científica e insurgiam contra o distanciamento social.


Assim, tendo em vista a rapidez com que as notícias falsas são difundidas e a rede difusa de produção dessas, torna-se difícil mensurar o real impacto que causam na população. A pesquisa publicada na revista American Journal of Tropical Medicine and Hygiene² detectou postagens que incitavam a violência e a estigmatização de pessoas asiáticas e profissionais da saúde. Além disso, foi apontado que os rumores de que a ingestão de álcool, desinfetante e outros produtos tóxicos poderia curar a doença provocou danos à saúde de centenas de pessoas e até mortes. No Irã, por exemplo, 27 pessoas morreram intoxicadas ao ingerirem álcool adulterado, tudo isso após se espalhar a notícia falsa de que o procedimento curaria a Covid³.


Por isso, os pesquisadores concluem o artigo dizendo que “a desinformação alimentada por rumores, estigmas e teorias da conspiração podem ter implicações potencialmente graves na saúde pública caso sejam priorizadas em detrimento de diretrizes científicas”, o que torna necessário priorizar medidas para combater as fake news associadas ao novo coronavírus.

Combate às fake news

Com a multiplicação das fake news, especialmente durante a pandemia, surgiram diversas iniciativas tanto legais quanto privadas para tentar combatê-las.


Primeiramente, diversas redes sociais e aplicativos de mensagem, espaços de grande propagação de fake news, têm tentado barrar a disseminação de notícias falsas. O Facebook, por exemplo, apenas no segundo trimestre deste ano, removeu mais de 7 milhões de publicações contendo fake news sobre o coronavírus. Além disso, a plataforma também criou uma ferramenta que envia notificações que redirecionam um usuário que teve contato com fake news ao site da OMS. Similarmente, o Instagram criou ferramentas para combater as notícias falsas. No Brasil, por exemplo, toda vez que alguém pesquisar sobre o COVID-19, aparecerá uma mensagem com um link para o site do Ministério da Saúde. Em regra, as redes sociais e aplicativos de mensagem também possuem mecanismos que permitem que um usuário denuncie um conteúdo que julgue ser falso, a partir daí, o conteúdo irá para análise pelo algoritmo da empresa.


No entanto, esses esforços não têm conseguido ser suficientemente efetivos no combate às fake news, seja pela política de privacidade do site - que enquadra notícias falsas como liberdade de expressão - ou pela dificuldade de se encontrar o usuário que postou a fake news pela primeira vez.


A ONU, por sua vez, em parceria com a Purpose, lançou a iniciativa “Verificado”. A ideia é que qualquer pessoa possa se cadastrar para receber informações verificadas sobre a pandemia diretamente da ONU. Após isso, espera-se que o voluntário compartilhe essas informações em suas redes sociais como forma de combater a desinformação ao divulgar conteúdo confiável ao seu círculo de seguidores e amigos, que podem ter tido contato com fake news ou que não tenham acesso à informação.


Além dessa, outra iniciativa de combate às fake news foi a de um médico britânico que, junto com um grupo de voluntários, elaborou uma cartilha que traz diversas informações importantes sobre o coronavírus, incluindo métodos de proteção e sintomas da doença. O público-alvo da iniciativa são famílias de imigrantes - grupo afetado desproporcionalmente pela pandemia. A cartilha - distribuída por meio de aplicativos de mensagem - acabou se espalhando e traduzida para cada vez mais línguas. No momento, ela está disponível em mais de 40 idiomas.


Já no Brasil, existe um Projeto de Lei - já aprovado pelo Senado e que está, atualmente, na Câmara dos Deputados - que busca criar uma legislação que estabeleça medidas de combate às notícias falsas. No entanto, a lei tem sido alvo de críticas, pois há o medo de que abra caminho para a censura e a violação da privacidade e da honra de usuários de redes sociais. Alguns pontos controversos incluem o rastreamento da origem de mensagens reencaminhadas em aplicativos de mensagem e a Criação de um Conselho de Transparência, que, segundo o advogado advogado Marcelo Pogliese, poderia acabar por decidir o que é verdade e o que é mentira - fomentando censura.


Outra importante discussão é a regulamentação por lei é o caminho ideal. Segundo Cristina Tardáguila, Diretora-adjunta da International Fact-Checking Network, diversos países que estabeleceram leis de combate às fake news não registraram diminuição da desinformação após a promulgação da norma.


Outros esforços de combate às fake news no país incluem o Inquérito das Fake News - aberto pelo STF para investigar notícias falsas, calúnias e ameaças contra os ministros da Corte e seus familiares - e a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News. É verdade que esses esforços têm dado resultados como a suspensão de contas em redes sociais que divulgavam fake news, porém eles não estão livres de críticas. No caso do Inquérito das Fake News, por exemplo, é, no mínimo, questionável que as vítimas - os próprios ministros - sejam também os julgadores do caso.


Existem também veículos de informação, como o G1, e agências verificadores de informação, como a Agência Lupa, que procuram checar a veracidade de notícias que se tornam virais na internet. No caso delas serem falsas, eles desmentem e explicam o porquê da notícia não ser verídica.



Para saber mais:


Fontes:




Foto da capa: WATTAgNet

Revisado por: Cedric Antunes e Dora Ehrlich

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