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VOTE! VOTE CONSCIENTE!



O Brasil é uma república federativa presidencialista, sob regime democrático representativo. Isso significa que há a participação da população brasileira nos debates e nas tomadas de decisões mais importantes que afetam todo o território nacional. Não de forma direta, como era observado em Atenas, na Grécia Antiga, em que todos os considerados cidadãos participavam ativamente da política, mas de forma indireta. Apesar dos cidadãos brasileiros não poderem entrar nas casas legislativas e executivas e decidirem por si próprios o destino das leis, há o direito periódico do poder de escolha de um indivíduo para que ele possa representar os interesses e posicionamentos de cada cidadão ou grupo de cidadãos. Isto é, alguns poucos indivíduos serão responsáveis por representar toda a população durante um período de quatro anos. 


Não é à toa a extrema importância das eleições quando se observa isso. No entanto, existe parte significativa da população que não se sente representada ou nota suas demandas políticas serem discutidas pela classe política. Isso porque em um país como o Brasil, onde há uma gama enorme de problemas relacionados à desigualdade, pobreza, falta de políticas públicas e tantas outras questões derivadas disso, a população em boa parte, parece se mostrar insatisfeita com as realizações e discussões políticas, e com percepções patrimonialistas de que as classes políticas agem de forma corrupta e prioritariamente com base em seus próprios interesses e não com as reais demandas da sociedade. Mesmo com as eleições, que são uma das principais formas das pessoas conseguirem desenvolver algo melhor, ainda é gerada essas mesmas insatisfações e problemas de representatividade. Isso ocorre pois a conscientização eleitoral, ou seja, o ato de como cada cidadão reflete e escolhe os seus representantes, acaba por ser um caminho divergente de muitos eleitores. Essa situação ocorre muitas vezes por falta de conhecimento e entendimento do próprio sistema político, ou até mesmo o baixo engajamento nos debates públicos, sendo recorrentemente o que afasta boa parte da população das atividades políticas.


Para se entender melhor como os eleitores brasileiros estão inseridos nessas questões, pode-se fazer um panorama geral das eleições, considerando as esferas municipal, estadual e federal. Com isso, quando observado o processo político em tempos eleitorais, pode-se dizer que um dos grandes problemas relacionados à conscientização dos eleitores é a valorização desigual dos cargos executivos em relação aos cargos legislativos. Enquanto que os debates e as propostas dos candidatos a cargos executivos de prefeitos, governadores e presidente são frequentemente acompanhados, permeando e protagonizando as discussões em períodos eleitorais, não se pode dizer o mesmo sobre os candidatos a cargos legislativos, tais como vereadores, deputados e senadores.


Esse fenômeno é  até compreensível, visto que os presidentes, governadores e prefeitos possuem um maior nível de poder, proximidade com a população, já que a maioria dos feitos políticos geralmente são atribuídos a eles, mesmo quando há a participação do poder legislativo ao longo dos processos, e visibilidade nos noticiário. Mesmo assim, essa valorização desigual acaba por gerar muitas das problemáticas abordadas anteriormente. Quando se observam os resultados de pesquisas eleitorais feitas pelo Datafolha em 2022, pode se notar que o Congresso tinha uma rejeição observada de 39% dos entrevistados, mas ao mesmo tempo, mais de 60% dos eleitores não se lembravam de quem haviam votado para os cargos de deputado federal e de senador nas eleições de 2018, e os que lembravam, aproximadamente um terço dos entrevistados, não acompanhavam os trabalhos dos políticos votados. Isso mostra que, por mais que haja uma parcela da população insatisfeita  com a política, não há um esforço de acompanhamento e valorização dos cargos legislativos por parte desse eleitorado, o que é uma forte consequência da falta de entendimento e conhecimento político brasileiro. Segundo resultados de pesquisas eleitorais feitas pelo Senado Federal, é difícil para muitos saber distinguir as funções de um deputado daquelas de um senador, ou saber os papéis mais específicos de cada cargo, além da fiscalização parlamentar do Poder Executivo, o que faz com que as pessoas não se sintam incentivadas a saber mais sobre as propostas e trabalhos dos candidatos a cargos legislativos, e acabam deixando eles em último plano na hora das urnas.


Além disso, o pouco acompanhamento e falta de interesse em saber dos feitos dos políticos escolhidos pelos seus representantes também demonstram problemas de conscientização. O cidadão possui seu papel mais explícito nas eleições, mas o monitoramento constante e atento também deve fazer parte da sua atuação política. Devido à falta de engajamento popular, é difícil que os políticos se sintam incentivados a agir de acordo com suas propostas ou promessas de campanha durante o mandato. Isso se junta ao fato de muitos deles não serem devidamente cobrados por seus eleitores, ainda podendo acabar sendo reeleitos com as mesmas antigas propostas não necessariamente cumpridas. No final, isso acaba por implicar nas mesmas insatisfações políticas e nas mesmas impressões patrimonialistas e corruptas de que as atividades políticas estão sendo feitas apenas com base nos interesses individuais de cada deputado ou senador e não nas demandas reais da sociedade.


Ainda assim, como dito antes, por meio das eleições, a população tem o poder de configurar e formar a classe política de tempos em tempos. Graças ao sistema democrático, cada indivíduo tem um poder de participação política enorme. Por mais que pareça sutil, o brasileiro pode decidir os melhores caminhos para os problemas econômicos, sociais e políticos que permeiam o Brasil por meio das eleições. Porém, para isso, o voto consciente, vindo de um maior conhecimento do sistema político, das questões socioeconômicas e do maior engajamento das atividades políticas deve ser a principal métrica de escolha para cada eleitor. Mesmo com o poder de escolha, apenas com um eleitorado conscientizado poderá se observar uma população bem representada com a formulação de políticas que atendam e resolvam as demandas  da sociedade.


Referências:



Autoria: Leonardo Miranda

Revisão: André Rhinow e Laura Freitas

Imagem de capa: g1

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