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DE MULHERES PARA MULHERES: INVESTINDO NA INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA



"Mercado Financeiro é pesado demais para mulheres". "Investir não é para mulheres". "Você não entende nada". Essas são apenas algumas das frases repetidas diariamente, as quais fazem parte de um imaginário coletivo que perpetua um grande estereótipo de gênero. A partir de normas sociais pautadas em papéis de gênero, com comportamentos e atividades cotidianas que são esperados de cada sexo biológico, diversas barreiras foram impostas ao universo feminino. Diante desses aspectos históricos e culturais, muitas das decisões e questões financeiras de médio e longo prazo, de famílias heteroafetivas, são centralizadas nos homens.


Até 1962, mulheres casadas só podiam trabalhar fora se o marido permitisse. Isto é, elas eram consideradas "incapazes" de exercer tal atividade pela sociedade. Além disso, até essa mesma época, abrir conta em bancos era um atributo exclusivamente masculino por lei, podendo ser exercido apenas por mulheres com a autorização de seus maridos, sendo que solteiras e divorciadas tinham cartões negados pelos bancos. Dessa forma, o direito financeiro das mulheres é extremamente recente no Brasil.


Nesse contexto, muitas mulheres não se veem capazes de administrar seu próprio dinheiro ou aprender a investir. Esse fato se ilustra a partir dos dados disponibilizados pela B3, a bolsa de valores do Brasil, em que até outubro de 2020, apenas 25,72% dos CPFS cadastrados na plataforma representavam mulheres. Desse modo, o Brasil possui o grande desafio de promover a inclusão financeira da população de grupos que historicamente foram excluídos desse espaço.


Na sociedade moderna, o dinheiro se configura como uma das principais formas de poder. Juntamente com o sistema representativo, o comércio e o sistema monetário possibilitaram que a liberdade individual fosse praticada no mundo atual. Nesse sentido, o dinheiro e sua administração estão atrelados à liberdade individual, uma vez que a independência financeira contribui para que mulheres saiam de relacionamentos abusivos. Dessa forma, corresponde a uma mecanismo essencial para garantir que as mulheres possam escolher em qual emprego ou relacionamento queiram estar, dentre outros aspectos. Ou seja, a independência financeira permite o poder de decisão sobre aspectos pessoais e profissionais, garantindo um maior empoderamento feminino.


Estudos revelam que mulheres investem, em média, valores menores do que os homens. Para compreender essa diferença, dois fatores são essenciais: o quanto se gasta e o quanto se recebe. Inicialmente, compreende-se um evidente gap salarial entre gêneros, no qual mulheres acabam ganhando muito menos para exercerem a mesma atividade do que um homem, influenciando diretamente o quanto sobra de seus salários para investir. Além disso, estudos feitos pela ESPM afirmam que as mulheres pagam mais caro por alguns produtos simplesmente por serem mulheres. Tal diferença nos preços baseada em gênero é chamada de "pink tax", a qual evidencia que os produtos voltados para o universo feminino são em média 12,3% mais caros.


Para democratizar um espaço tido por tanto tempo como masculino, incluindo mulheres e outros grupos excluídos historicamente, a educação financeira se configura como um elemento essencial. Na busca por conhecimento e conquista desse espaço, Júlia Abi-Sâmara, estudante de administração de empresas na Fundação Getúlio Vargas, criou a empresa "As investidoras".


O projeto se iniciou por uma motivação pessoal de se incluir em conversas de seus colegas da faculdade, as quais até então não se via capaz de participar. Como era algo que afetava sua autoconfiança, Júlia começou a buscar aprender sozinha o assunto e ensinar para suas amigas, como contou em entrevista para a Gazeta Vargas, realizada em março de 2021. Cada vez mais meninas se mostravam interessadas para entenderem o mundo dos investimentos e descobrir as vantagens que poderiam conquistar investindo em sua independência. Durante a pandemia, a rede de jovens mulheres se ampliou resultando em um perfil no instagram com 19,8 mil seguidoras e um projeto de curso online em criação.


Julia foi uma das mulheres que apostou na educação financeira como mecanismo de igualdade de gênero. A preocupação em tornar o conteúdo leve e prazeroso, além de explorar as diversas plataformas para que cada menina consiga aprender do jeito que melhor convém é um grande diferencial para promover um conteúdo mais democrático. Diante disso, ela ressalta a rede de apoio como algo essencial para as meninas, priorizando todos os serviços de sua empresa para que sejam realizados por mulheres empreendedoras.


O caminho para a inclusão financeira das mulheres ainda é longo. Ações como a de Abi-Sâmara são essenciais para motivar mulheres a caminharem juntas nessa luta. O dia 8 de março abre espaço para discussões cada vez mais profundas sobre os novos desafios do mundo. A rede de apoio entre mulheres é essencial para o progresso. De mulher para mulher: invista em seu conhecimento, invista na sua independência financeira.



Revisão: João Vitor Vedrano

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REFERÊNCIAS


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