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DEVEMOS RELATIVIZAR?

No texto de hoje, nosso redator Pedro Gama discorre sobre o conceito de Relativismo Cultural e suas implicações. Devemos questionar a ideia de que cada povo tem sua verdade ou apenas aceitarmos que existem diferentes visões de mundo que não devem ser contestadas? Vem ler pra saber um pouco mais!

Relativismo Cultural é a corrente de pensamento que concebe que não se deve julgar outros povos e culturas a partir de sua própria visão de mundo. Ao fazê-lo, o sujeito corre o risco de assumir-se como o detentor de uma suposta “verdade moral superior” que deve ser propagada a outros povos, tendendo, assim, a uma postura etnocêntrica que, historicamente, já se mostrou calamitosa repetidas vezes. O relativismo cultural se mostra como uma importante ferramenta analítica das ciências humanas ao afirmar que devemos buscar a compreensão das culturas a partir de uma posição observadora neutra, em que o pesquisador não projeta seus valores no objeto de estudo, com o objetivo de não o contaminar.


Ao pensarmos nesses termos, precisamos fazer um raciocínio de “relativizar” as práticas dos povos para concebê-los não como superiores ou inferiores, mas como diversos. As populações que vivem primitivamente da caça e da pesca não são inferiores a nós do sistema capitalista financeiro-global, são diferentes, assim como as pessoas que praticam rituais festivos que envolvem a dor não são inferiores a nós que nos acabamos em jogos universitários. Em mesmo sentido, não podemos considerar povos que praticam mutilação genital feminina de menores inferiores àqueles que possuem plena igualdade de gênero, afinal, “menor” é um conceito relativo, pois, para muitos, a menoridade acaba com a primeira menstruação e, depois disso, a “mulher” já está liberada para o casamento e a procriação, possíveis de serem considerados eufemismos para estupro.


E você, leitor, que já estava simpatizando com essa maneira de se pensar possivelmente adquiriu asco completo por essas ideias. Mas não se precipite, pois embora o relativismo cultural tenha se constituído um princípio científico de valor inestimável que revolucionou os campos da Antropologia, História e Sociologia, como princípio moral, ele pode e deve ser muito questionado.


No mundo real, questões moralmente dubitosas são postas o tempo todo. Em diversos lugares, governos discutem se devem permitir que garotas frequentem escolas, punir crimes com apedrejamentos ou diminuir o limite de velocidade nas rodovias. O relativista moral dirá que não se deve determinar o que é o correto, uma vez que não há “verdade moral absoluta” e, portanto, não há maneira certa de se viver. O relativista pode não querer escolher, mas quando se recusa a fazê-lo, está refletindo uma escolha feita a partir de um julgamento contra o ato de julgar, em favor do que se pratica culturalmente. Mesmo que ele esteja certo sobre a inexistência de uma verdade moral, não consegue escapar da escolha moral, e a escolha moral, por sua vez, há de ser feita.


Foto de capa: Tameem Sankari

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