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ESG: INVESTINDO EM UM MUNDO MAIS RESPONSÁVEL



No início de 2020, o mundo corporativo se deparou com a carta aberta de Larry Fink, fundador e CEO da BlackRock, aos CEOs de instituições financeiras e empresas. Em suas palavras, evidenciou a necessidade de mudança na maneira de pensar as finanças diante das evidências do risco climático e dos desafios sociais. A reavaliação profunda do risco e do valor dos ativos passa a ser extremamente importante em um contexto no qual ações que prejudicam a sociedade como um todo passaram a prejudicar também as empresas, perdendo valor para os acionistas. Diante disso, o risco climático se traduz em um risco de investimento. Dessa forma, a reavaliação das finanças modernas em busca de incorporar tais riscos é essencial. A realocação do capital financeiro em empresas que busquem se adequar às necessidades sociais e ambientais é uma nova realidade observada.


Apesar de tal mudança de mentalidade no mercado financeiro a respeito dos investimentos ter tido a atual pandemia do coronavírus como importante catalisador, uma vez que evidenciou o ponto de saturação do mundo em relação a questões emergenciais e grandes desafios contemporâneos, não é algo que vem de hoje. Desde 1970, com mudanças de estilo de vida, os investidores passaram a direcionar seus recursos para investimentos com propósitos mais explícitos. Em 2007, o investimento em títulos verdes surgiu como a alternativa mais sustentável. Estes se configuram como debêntures [1] com foco em financiar projetos sustentáveis nas empresas.


Nesse contexto, contempla-se um movimento de mudança na mentalidade dos investidores. Sustentada em três pilares: ambiental (Environmental, E), social (S) e governança (G), a nova tendência ESG de pensar os investimentos surgiu com uma maior conscientização dos agentes econômicos. Eles enxergaram oportunidades de gerar impacto por meio do setor privado, promovendo soluções ambientais e sociais para os maiores desafios do mundo. Os chamados investimentos sustentáveis passam a se preocupar com questões para além dos lucros exponenciais, mas também com impactos positivos e negativos das empresas.


O avanço da crise ambiental tem obrigado os países a mudarem as legislações de maneira a tornar mais rígidas as regras de combate ao desafio climático. O Acordo de Paris, adotado em 2015 pela Organização das Nações Unidas, estabeleceu metas de redução da emissão de gases do efeito estufa para os países, como forma de conter o avanço do aquecimento global. Com as mudanças nas regras, a taxação de externalidades negativas das empresas passa a ser incorporada no valuation das empresas, reprecificando seus ativos e afetando seu valor perante ao mercado.


Além disso, contempla-se uma transformação geracional com investidores que buscam alinhar suas decisões financeiras aos seus propósitos de vida. Ademais, observa-se uma mudança no perfil dos consumidores que desenvolvem maior consciência em relação aos impactos dos bens que consomem, buscando alternativas mais responsáveis. Dessa maneira, as empresas passam a ser pressionadas para se reinventarem dentro das novas demandas do mercado, buscando estabelecer modelos de negócios mais sustentáveis e que contribuem socialmente.


A incorporação de um sustainable design thinking na estrutura empresarial passou a ser entendida como um diferencial competitivo na corrida empresarial pela readequação das práticas empresariais às novas expectativas do mercado. A adesão às práticas relacionadas ao ESG são uma forma de antecipar os fatores de risco, garantindo a existência da empresa no longo prazo. A implementação da cultura de desenvolvimento sustentável e social na estrutura da empresa é vista, agora, como um pré-requisito do mundo dos investimentos. Diante disso, é essencial a reestruturação da cadeia produtiva, considerando a possibilidade de geração de shared-value e incorporação da economia circular.


Tendo em vista a urgência de temas como a luta contra desigualdades sociais, a luta pela igualdade de gênero, o combate às mudanças climáticas e outros fatores, a Organização das Nações Unidas criou, em 2015, a Agenda 2030, em que foram definidos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. Dentre os objetivos listados, destaca-se a preocupação com igualdade de gênero, agricultura sustentável, energias limpas e acessíveis, empregos com condições dignas, dentre outros. Tal agenda se configura como um importante ponto de partida para que as empresas olhem individualmente para suas atividades e pensem em novas estratégias para atingir metas que sejam condizentes com os propósitos da Agenda 2030.


A incorporação de uma mentalidade de inovação social e ambiental em toda a empresa é essencial para a criação de valor e para obter resultados positivos. As lideranças empresariais devem ter ações individuais condizentes com as causas propostas pelo marketing da empresa em relação às metas ESG. Esse ponto merece atenção, uma vez que, em alguns casos, contempla-se uma “maquiagem verde” das empresas, ou greenwashing. Isso se dá quando as empresas promovem discursos e propagandas que as caracterizam como sustentáveis, porém suas ações não estão de acordo com esses discursos. Ao falar de investimentos com propósito e responsabilidade, não são as ações pontuais das empresas que estão em pauta, mas sim uma mentalidade de inovação e geração de valor em toda a estrutura produtiva da organização. Assim sendo, evidencia-se a importância de lideranças alinhadas com os propósitos e de uma governança empresarial baseada em transparência e ética.


Diante disso, os investidores têm um papel essencial na qualidade das ações ESG das empresas. Estes devem pressionar o sistema em nome de soluções profundas e complexas, com projetos que realmente tenham impacto e permanência no longo prazo, não destinando recursos financeiros para ações superficiais e efêmeras. A nova mentalidade de investimento exige que as empresas olhem as necessidades do seu entorno e percebam como seus recursos podem ser alocados de maneira mais interessante para solucionar determinados problemas sociais e ambientais de forma inovadora.


Algumas coalizões e iniciativas têm sido essenciais para impulsionar a agenda ESG nos últimos anos. Com o objetivo de reunir investidores que buscam trazer mudanças através dos engajamentos das empresas em que investem, estabeleceu-se o Princípio de Desenvolvimento Sustentável (PRI). Além disso, ressalta-se a matriz de materialidade do SASB, Sustainable Accounting Standards Board, a qual busca estabelecer padrões nos aspectos de análise ESG, a fim de facilitar a transmissão de informações entre os agentes econômicos. Os tópicos são distribuídos de acordo com cinco categorias: meio ambiente, capital social, capital humano, liderança e governança e, por fim, modelo de negócio e inovação.


Como o ESG é um processo, há empresas em diferentes estágios de desenvolvimento sustentável, principalmente no Brasil. Assim, ainda existe um longo caminho a ser seguido com a padronização das análises e incorporação da mentalidade de impacto no mundo corporativo. Além de procurar estabelecer metodologias de análise cada vez mais críticas dos processos, o estudo detalhado de relatórios de sustentabilidade das empresas, por parte dos investidores ao alocar seus recursos, é essencial para a consolidação de práticas que realmente gerem impactos e levem a um maior desenvolvimento econômico, social e ambiental.


Dessa forma, são observados movimentos importantes no mercado: investidores buscando portfólios alinhados com o propositivo ESG e empresas buscando se adequar às novas práticas requeridas em relação a fatores sociais, ambientais e de governança. Tal tendência é de suma importância para a realização de investimentos financeiros mais responsáveis no longo prazo.




Revisão: Bruna Ballestero

Imagem de capa: Rafael Nobre / Reprodução Exame


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[1] Debênture consiste em um instrumento de captação de recursos no mercado de capitais, que as empresas utilizam para financiar seus projetos.



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