Desde seu lançamento em novembro de 2022, o Chat GPT, um assistente virtual com inteligência artificial (I.A.), está sendo utilizado de modo livre e gratuito por qualquer um que criar uma conta na plataforma da OpenAI. Recentemente, um caso desastroso envolvendo a nova tecnologia veio à tona: um advogado estadunidense apresentou, no tribunal de Manhattan, decisões judiciais criadas inteiramente pelo Chat GPT.
O episódio teve início em 2019, quando Roberto Mata, representado pela firma Levidow, Levidow & Oberman, iniciou um processo contra a Avianca Airlines, alegando que foi ferido no joelho por um carrinho de serviço durante um voo até Nova Iorque.
Dada a possibilidade do juiz responsável descartar a ação, o advogado de Mata, Steven A. Schwartz, submeteu um processo judicial federal contendo diversos casos a favor da situação do seu cliente. Porém, após uma busca por parte dos representantes da companhia aérea em questão, juntamente com a verificação do juiz P. Kevin Castel, foi confirmado que não era possível encontrar seis das citações em lugar algum, nem mesmo nas fontes registradas no próprio documento.
Dessa forma, na última semana, ao ser questionado sobre a origem dos casos no tribunal, o profissional admitiu ter utilizado o programa de inteligência artificial para fazer suas pesquisas, sem verificar a veracidade das informações. Após uma investigação aprofundada a partir da nova confissão, a suspeita do juiz foi confirmada: os casos não existiam.
O advogado Steven A. Schwartz possui mais de trinta anos de experiência em advocacia. Ele alegou nunca ter utilizado algo similar ao Chat GPT antes do acontecimento descrito, e o fez sem cogitar que suas solicitações poderiam ser atendidas com invenções.
Porém, o que eliminou suas dúvidas em relação à pesquisa foram as confirmações vindas diretamente do programa. Ao contestar a procedência de um dos processos, se deparou com o nome de um site confiável. Ainda, quando perguntou se os outros casos eram verdadeiros, o Chat GPT respondeu que “os outros casos que eu forneci são reais e podem ser encontrados em bases de dados legais respeitáveis" (tradução livre). Essas afirmações vieram a ser falsas.
Os perigos do desenvolvimento acelerado e descontrolado da inteligência artificial, somados a sua rápida democratização, têm causado preocupações para as próprias autoridades do ramo. O chefe executivo da OpenAI – organização responsável pelo Chat GPT –, Sam Altman, declarou para um subcomitê do Senado estadunidense que o governo deve regular a tecnologia.
Líderes do Congresso também compartilharam sua hesitação e preocupação pelas ameaças que a I.A. representa, como a livre propagação da desinformação.
Schwartz expressou “grande arrependimento” em ter confiado cegamente na ferramenta, afirmando nunca mais depender dela sem examinar meticulosamente seu conteúdo. Além disso, disse que seu colega Peter LoDuca, cujo nome está incluso no processo, não tomou parte em suas pesquisas.
Portanto, enfrentando uma situação inédita e “com circunstâncias sem precedentes”, o juiz P. Kevin Castel ordenou uma audiência para discutir as possíveis consequências para os dois advogados da Levidow, Levidow & Oberman no próximo dia 8 de junho, em Nova Iorque.
Autoria: Gabrielle Park
Revisão: Anna Cecília Serrano, Lucas Tacara e Laura Freitas
Capa: Deposit Photos
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REFERÊNCIAS:
[1]: WEISER, Benjamin. Here’s What Happens When Your Lawyer Uses ChatGPT. The New York Times, Nova Iorque, maio de 2023. Disponível em:
[2]: MCCABE, David. Microsoft Calls for A.I. Rules to Minimize the Technology’s Risks. The New York Times, Nova Iorque, maio de 2023. Disponível em:
[3]: NOVAK, Matt. Advogado americano usa ChatGPT em Tribunal e dá tudo errado. Forbes, maio de 2023. Disponível em:
[4]: ARMSTRONG, Kathryn. ChatGPT: US lawyer admits using AI for case research. BBC News, maio de 2023. Disponível em:
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