VIDA DE CRIANÇA
- Pedro Anelli Bastos
- 12 de out.
- 3 min de leitura

Pedro e Luís estão cansados depois de passar o dia correndo atrás de passarinhos, jogando futebol descalços e lutando ao lado do Capitão Super contra as terríveis forças de Zahon; qualquer criança de 12 anos ficaria cansada. Os adultos também, com certeza, mas os adultos não gostam de correr atrás de pássaros e nem mesmo conseguem enxergar o perigo das forças zahonianas.
Os dois sentam-se na beirada da calçada, cada um com uma garrafa de água, e com os brinquedos espalhados pelo chão. Os dois, dando longos goles em suas garrafas, olham para o céu laranja, com poucas nuvens e com o pôr-do-sol distante.
É difícil imaginar o quão longe a mente de uma criança vai quando ela está olhando para o céu. Seu corpo permanece onde está, mas os olhos sempre indicam que, naquele momento, ela está viajando para lugares nunca imaginados, que só a mente de outra criança consegue compreender.
Foi diante de uma dessas viagens que Pedro, virando-se para Luís, perguntou:
— Será que tem algum lugar no mundo em que não dá pra envelhecer?
Luís, após dar mais um gole, que acabou com a água de sua garrafa, respondeu:
— No mundo, não sei. Em outro planeta, talvez.
Após uma longa pausa, ele retoma:
— Por que a pergunta?
— Porque não quero crescer. — responde Pedro. — Quero ser criança para sempre!
— Mas quando a gente for adulto a gente vai poder acordar a hora que quiser, fazer o que quiser e quando quiser. Vai poder viajar pra qualquer lugar, comer doce sem precisar ficar pedindo pra mamãe, e mais um montão de coisa!
— É, mas eu nunca vi um adulto fazendo nada disso. Os adultos parecem sempre cansados, sem energia pra nada. Eles nem se importam com a invasão de Zahon, nem ao menos falam parabéns quando a gente impede o mundo inteiro de ser destruído.
— É, tem razão.
Os dois olham para o chão, pensativos. Após alguns instantes, Pedro começa:
— Sabe o que eu acho?
— O quê?
— Eu acho que, quando a gente cresce, acontece um feitiço na nossa cabeça que faz a gente se esquecer de tudo o que vivemos quando crianças. A gente esquece e vive outra vida, que não tem nada a ver com a nossa agora. É como se fossemos transportados pra outro mundo.
— Ou então, quando a gente cresce, a gente é obrigado a ir embora e deixar o mundo na mão de outras crianças, para que elas possam aprender a lutar. Por isso nenhum adulto luta com a gente.
— NUNCA! Um verdadeiro guerreiro nunca deixa de lutar!
— É verdade, isso não faz sentido… eu sou burro.
— Você não é burro! Você só falou algo errado.
— Bem, meu pai diz que eu sou burro.
Pedro viu os olhos de Luís marejarem. Quis ajudar o amigo e colocou a mão no ombro dele, e assim permaneceram, em silêncio. De repente, Luís tornou a falar:
— Eu não quero ser igual ao meu pai.
Pedro não soube o que dizer. Apenas continuou ali, observando as pequenas lágrimas que Luís tentava esconder. Permaneceu ao lado do amigo, como um bom guerreiro faz.
Secos os olhos, Luís levanta e pergunta:
— Você viu o novo episódio do desenho?
— Vi! — responde Pedro, animado. — Aquela luta foi muito incrível!
E, assim, os dois continuaram conversando sobre as lutas, os personagens e novos planos para conter a invasão zahoniana. Deixaram os adultos com suas vidas chatas de lado, pelo menos por um momento. O Sol, se pondo nos céus alaranjados, jorrava seus últimos raios de luz sobre o dia daqueles meninos.
Como o tempo passa rápido.
Autoria: Pedro Anelli
Revisão: Artur Santilli Arte da capa: Acervo Pessoal





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