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‌A POLÍTICA FISCAL DE HADDAD

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          Em menos de um semestre, Fernando Haddad deve se afastar do cargo de Ministro da Fazenda. Tal possibilidade se baseia no entendimento de que é extremamente provável que o ex-prefeito de São Paulo opte por ser lançado para as eleições de 2026 como senador. Esse acontecimento ficou ainda mais concretizado após o próprio Haddad anunciar que não pretende aceitar o cargo novamente caso seja reconduzido por Lula num eventual quarto mandato. A notícia já aquece o mercado para a discussão de quem será o sucessor do Ministro e como ele conduzirá a economia nacional durante pelo menos o ano eleitoral. Entretanto, baseando-se na percepção de que Lula optará por um ministro das mesmas ideologias que Haddad e que aplique o que o presidente o encarregar, já é possível entender como o Ministério atuará daqui para a frente: de maneira similar ao comandado pelo atual ministro. A notícia ruim? Não parece que será uma boa gestão.  

 

            Para analisar como se conduziu a gestão atual do Ministério da Fazenda basta, primeiramente, observar o dado mais relevante em que se trata a política fiscal: os gastos do governo. No ano de 2025, até o começo de dezembro, os gastos públicos totalizam R$ 4,857 trilhões, com o governo federal absorvendo a maior parte desse montante, totalizando R$ 2,08 trilhões. À medida de comparação, os gastos com Pessoal e Encargos Sociais, Inversões Financeiras e Outras Despesas Correntes até o quarto bimestre de 2025 são maiores do que em todos os outros anos do governo Lula, em termos nominais. O governo Lula gasta muito, e esse gasto não para de crescer. Tais gastos advêm muito da preocupação assistencialista da gestão Lula, que enfatiza a expansão de programas sociais e subsídios de maneira extensiva. Esses custos de jeito algum podem ser considerados simplesmente como despesa, ao ponto que são de extrema importância para a elevação do desenvolvimento social do país. Entretanto, mesmo esses tipos de gastos não podem ser realizados de maneira descontrolada como a atual gestão vem realizando, visto que, no longo prazo, podem significar uma deterioração da macroeconomia do país. O próprio Fernando Haddad já afirmou em 2024 que a expansão fiscal não seria saudável para o Brasil nesse momento devido à política de altos juros e à inflação elevada. Durante essa mesma fala, o ministro afirmou que o equilíbrio das contas públicas seriam responsáveis por estimular um corte nos juros, mas trataremos disso mais à frente. Apesar de toda essa preocupação, Haddad parece ter incorporado por completo o desdém às contas públicas nos últimos anos. O arcabouço fiscal, criado durante a atual gestão, que deveria conter o avanço da máquina pública, tornou-se insustentável. O país, mesmo aumentando sua arrecadação, não consegue cumprir o objetivo de manter o déficit primário nulo. Pelo contrário, mesmo com as maiores arrecadações, advindas de impostos mais significativos, o déficit primário do Brasil é de 0,2%.

 

            Tal resultado fiscal primário, atrelado à já alta dívida pública nacional, apenas corrobora um cenário fiscal mais delicado para os próximos anos. Isso se concretiza, ao ponto que, como os juros reais caminham em um patamar extremamente elevado de aproximadamente 10%, os juros da dívida pública também estão muito elevados. Por conta disso, para que o país mantenha um nível de dívida pública (por PIB) estável, seria necessário que o governo federal fechasse com um superávit primário de aproximadamente 6%, muito distante do resultado que deve ser atingido em 2025. Dessa forma, a atual gestão não fortalece a de maneira alguma para a saúde fiscal nacional, impulsionando um crescimento de seis pontos percentuais da dívida pública por PIB, de 79% para 85%, aproximadamente.

 

Além disso, vale ressaltar o alto potencial inflacionário da expansão da política fiscal. Tal afirmação é corroborada, a ponto de que o elevação dos gastos governamentais obrigatórios aumenta a demanda agregada nacional e eleva o PIB do país. Por consequência, e levando em consideração o alto dinamismo do mercado de trabalho atualmente, simbolizado por uma taxa de desemprego baixíssima de 5,4%, o produto da economia nacional destoa de seu produto natural enfatizando uma pressão inflacionária na economia. Portanto, além de manter uma saúde fiscal delicada, a atual gestão do Ministério potencializa a alta da inflação nacional.

 

            Dessa forma, a política fiscal aplicada pela gestão atual corrobora a impossibilidade da redução da taxa de juros e alta na taxa de câmbio. Isso se concretiza, levando em consideração o alto potencial inflacionário que deve ser corrigido pela política monetária através da manutenção de juros altos. Além disso, a própria elevação da dívida pública por PIB instaura um risco maior de default da dívida, por consequência aumentando os juros cobrados na dívida. Em relação à taxa de câmbio, essa mesma alta na dívida pública aumenta o risco país, que, mantendo os juros constantes, é responsável por pressionar a desvalorização do real em relação a outras moedas.

 

            A partir disso, o Conselho de Política Monetária não se encontra em possibilidade de reduzir a taxa de juros da economia. A alta da inflação, que corre fora da meta estabelecida de 3% ao ano, e uma taxa de câmbio extremamente desvalorizada, de 5,44 reais por dólar, demanda que a taxa SELIC seja de fato imposta a um patamar elevadíssimo, algo que de fato vem sendo corretamente realizado pelo COPOM. Porém, o único que parece não entender a posição da política monetária é Fernando Haddad. As recentes quebras de braço entre ele e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, são completamente irracionais e meramente populistas. Haddad defende a queda da taxa SELIC, entretanto, o cenário macroeconômico brasileiro instável, que possui como causas ações do Ministério da Fazenda, impossibilita que a estabilidade inflacionária com uma taxa de juros menor. Além disso, essa disputa apenas corrobora a maior incerteza dentro do mercado que potencializa um cenário macroeconômico mais deteriorado no geral.

 

            Portanto, mesmo que o comando do Ministério mude, a continuidade da política fiscal atual é uma péssima notícia para o Brasil. Isso se concretiza, visto que a atual gestão trabalha com a expansão da política fiscal, mesmo que tente desmentir tal fato. Consequentemente, dado o cenário econômico do Brasil, tal atuação não é responsável por gerar uma melhora na saúde dos principais agregados econômicos nacionais e corrobora apenas a instauração de uma crise fiscal. Tal crise possui potenciais desastrosos para a economia, potencializando a alta de câmbio, inflação e juros por um tempo considerável. Dessa maneira, mesmo que a substituição do comando mude no governo federal, o Brasil tende a se manter em crise econômica pelos próximos anos.

 

Autoria: Arthur Visconde

Revisão: Leonardo Maceiras

Imagem da Capa: Pinterest



REFERÊNCIAS


Análise: Arcabouço fiscal é insustentável e aumenta a dívida pública. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/analise-arcabouco-fiscal-e-insustentavel-e-aumenta-a-divida-publica/>.

Arcabouço fiscal com regras atuais é insustentável, apontam especialistas em contas públicas. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/04/20/arcabouco-fiscal-com-regras-atuais-e-insustentavel-apontam-especialistas-em-contas-publicas.ghtml>.




Para atingir meta fiscal, Haddad deve anunciar nesta quinta bloqueios no Orçamento de 2025 | G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/05/22/para-atingir-meta-fiscal-haddad-deve-anunciar-nesta-quinta-bloqueios-no-orcamento-de-2025.ghtml>. Acesso em: 18 dez. 2025.


BRAGA, A. J. “Se fosse presidente do BC, votaria pela queda dos juros”, diz Haddad na véspera de reunião do Copom. Disponível em: <https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/11/04/se-fosse-presidente-do-bc-votaria-pela-queda-da-taxa-de-juros-diz-haddad-na-vespera-de-reuniao-do-copom.ghtml>. Acesso em: 18 dez. 2025.


Haddad pressiona o BC, mas o problema está no governo. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/fernando-haddad-gabriel-galipolo-banco-central-selic/>. Acesso em: 18 dez. 2025.


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