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A VOLATILIDADE DO MERCADO VIVIDA POR UMA EMPRESA JÚNIOR


Neste texto, Nicholas Faro, presidente da Empresa Júnior FGV, explora as idas e vindas do mercado e seus efeitos para pequenas e médias empresas sob a ótica de uma consultoria estudantil durante a pandemia.

Após 2020 começar como um ano de grandes expectativas, não é surpresa para ninguém afirmar que os efeitos gerados pela pandemia do COVID-19 tiveram um grande impacto negativo em toda a economia global. Com políticas voltadas para o isolamento social, a preservação dos indivíduos dentro de suas residências foi decisiva para que negócios com necessidade de serem realizados presencialmente fossem repensados ou até fechados, afetando todo o giro da economia, em um efeito “bola de neve”. Com isso, destacando alguns índices do nosso país, o PIB (Produto Interno Produto) brasileiro, que começava a dar pequenos passos rumo a uma perspectiva melhor, apresentou queda na produtividade de 4,1% em relação ao ano anterior, a maior baixa anual desde 1996, enquanto o IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado) apresentou um acumulado anual de 23,14%, o maior desde 2002, revelando um aumento considerável da inflação.


Dado o contexto, uma (senão a maior) das categorias que foram prejudicadas de modo direto foi a dos pequenos e médios empresários, principal público-alvo dos serviços da Empresa Júnior da FGV. Com dificuldades de caixa para se manterem sob faturamento consideravelmente reduzido, muitas empresas que nos procuraram em março decidiram desistir da negociação para a realização de projetos, ou até mesmo rescindir contratos. Nossos meses com faturamento abaixo do esperado, de março até agosto, refletiram os obstáculos que também tivemos para atingir esses empresários, o que nos obrigou a mudar estratégias comerciais, visando a manter a empresa júnior da FGV competitiva frente às demais. Com uma redução de quase 50% do valor do dia útil cobrado em projetos, diversas iniciativas internas foram elaboradas, como o estudo e aprofundamento maior em temas como marketing digital, e-commerce e projetos envolvendo ciências de dados, todas a fim de prospectar novos perfis de clientes, até então pouco explorados.


Tendo isso em vista, uma característica interessante com relação aos escopos que eram vendidos pela entidade é o destaque do escopo mercadológico, que tange questões diretamente relacionadas com as matérias do departamento de marketing da FGV (desde pesquisa de mercado até a estruturação de planos de marketing, com base nas matérias de comportamento do consumidor, estratégia mercadológica e marketing mix), o qual representou aproximadamente 45% das vendas dos meses de abril até dezembro. Enquanto isso, o escopo de operações (muito voltado para reestruturação interna, mapeamento de processos de empresas e cadeias de suprimentos, englobando matérias como gestão de operações e logística), que antes representava uma das principais categorias de projetos vendidos, teve sua demanda reduzida pela metade, o que também ocorreu com o escopo do Business Plan (plano de negócios completo para tirar ideias do papel e abrir empresas do zero). Isso revela que a grande parte dos clientes que procuraram a EJ a partir do 4º mês fecharam projetos com o objetivo de atingir esferas de mercado pouco exploradas, como atrair diferentes público-alvos, lançar produtos novos e encontrar mercados distintos, tudo baseado em desk researches, e não mais em abrir e estruturar um próprio negócio, considerando a pandemia.


Todavia, surpreendentemente, isso começou a mudar nos últimos meses de 2020 e nos primeiros deste ano. Com o retorno de muitas atividades presenciais de empresas, problemas internos, como desorganização de processos, voltaram a se tornar recorrentes, o que gerou um maior interesse pelo escopo de operações e reestruturação interna. Ademais, com as mudanças de hábitos e necessidades da pandemia, demandas com foco na implementação de business plan se tornaram comuns, visando a transformar sonhos em serviços reais, tornando alguns mercados recorrentes. Dessa forma, foi possível retornar gradualmente o ticket médio de projetos da empresa júnior ao preço normal do período prévio à pandemia, dado que rapidamente foi atingido o nível mínimo de capacidade ociosa, ou seja, todos os consultores e consultoras da empresa alocados(as) em projetos.


Porém, a conclusão deste artigo é justamente explicitar que, apesar do acontecimento citado no último parágrafo, devido a um momento ainda incerto, vide o retorno para a fase vermelha em São Paulo no último dia 6, são imprevisíveis as futuras oscilações que o mercado seguirá apresentando. Inegavelmente, o rápido “reaquecimento” do mercado foi algo que nos surpreendeu pelo seu dinamismo, justamente por ser em um período antecipado ao que prevíamos. Entretanto, não hesitaremos em manter cuidados para que essas surpresas não sejam revertidas em transtornos e percalços. Um indicador que ressalta tamanha volatilidade foi a queda de 4% do Ibovespa apenas entre os dias 8 e 9 de março, por questões que envolvem o momento político incerto do país. Ademais, antes mesmo dessa variação, nas quatro primeiras sessões da bolsa do mês de março, já houve uma retirada de R$ 3,5 bilhões de capital advindo de estrangeiros. Dessa forma, manter uma postura otimista de modo exacerbado pode ser perigoso, ao ignorar as incertezas dos diversos pilares do macro ambiente, mesmo com os bons resultados da EJ neste início de ano.


Independente do contexto, como empresa júnior, e principalmente como entidade, nosso principal desafio é sempre atender nossos clientes com a melhor qualidade possível, mas mantendo o foco em motivar os membros. No ano passado, com a transição para a experiência remota, longe dos benefícios proporcionados por encontros presenciais, o número de projetos disponíveis para os consultores também foi menor, dada a restrição orçamentária de clientes, em que foi possível direcionar esforços para um bom serviço. Agora, com uma alta nas atividades do nosso core business, a dificuldade é encontrar maneiras de não sobrecarregar os membros com muitas obrigações, o que, por ora, estamos lidando com efetividade, ao lado da mesma qualidade. O próximo passo é aguardar pelos próximos capítulos, mas, para que continuemos a transformar realidades por meio de projetos mercadológicos, operacionais, estratégicos, financeiros ou de business plan, seguiremos nosso trabalho sempre à disposição.




Revisão: Letícia Fagundes

Imagem de capa: Reprodução The Capital Advisor

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REFERÊNCIAS:

INFOMONEY. Aluguel: IGP-M sobe 0,96% em dezembro e fecha 2020 com maior variação anual desde 2002. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/aluguel-igp-m-sobe-096-em-dezembro-e-fecha-2020-com-maior-variacao-anual-desde-2002/#:~:text=Com%20o%20resultado%2C%20o%20IGP,24%2C70%25)%2C%20respectivamente. Acesso em: 5 mar. 2021.


INFOMONEY. PIB do Brasil cai 4,1% em 2020 com impacto do coronavírus, maior baixa da série histórica; no 4º tri, alta foi de 3,2%. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/economia/pib-do-brasil-sobe-32-no-4o-trimestre-mas-fecha-2020-em-baixa-de-41-a-maior-queda-da-serie-historica/. Acesso em: 5 mar. 2021.


INFOMONEY. Ibovespa fecha em queda de 4% com decisão de Fachin que tornou Lula elegível; dólar sobe a R$ 5,78. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/mercados/ibovespa-acelera-queda-a-mais-de-2-apos-ministro-do-stf-anular-condenacoes-de-lula-na-lava-jato/. Acesso em: 9 mar. 2021.


BPMONEY. Nas primeiras sessões de março, investidores estrangeiros retiram R$ 3,5 bilhões da B3. Disponível em: https://bpmoney.com.br/mercado/nas-primeiras-sessoes-de-marco-investidores-estrangeiros-retiram-r-35-bilhoes-da-b3/. Acesso em: 9 mar. 2021.



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