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DESDOBRAMENTOS DO BOLSONARISMO E O FUTURO DO BRASIL



“Amanhã Vai Ser Outro Dia” é um evento que contará com uma série de cinco encontros promovidos pelo Diretório Acadêmico da FGV, em parceria com a Gazeta Vargas e com EPEP-FGV (Estudos de Política em Pauta), para pensar e debater política dentro da universidade. Em sua abertura, no dia 21 de outubro, Cláudio Couto, graduado em Ciências Sociais, mestre e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e coordenador do Mestrado Profissional em Gestão de Políticas Públicas (MPGPP) DA EAESP-FGV, abordou o tema “Educação Política em Tempos de Radicalização”, explorando pautas desde o fascismo europeu até o efeito das redes sociais sobre o radicalismo e ressaltando a importância da tolerância para o debate político e para a democracia. Neste texto, buscamos abordar alguns dos principais temas trazidos por Couto em sua fala, construindo uma análise sobre a queda do nazifascismo na Europa e a ascensão e futuro do bolsonarismo no Brasil.

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O fascismo foi derrotado ao final da Segunda Guerra Mundial, porém os defensores das ideias fascistas continuaram existindo e cultuando os mesmos pensamentos. Em um especial para a Folha de São Paulo, em 1995, Umberto Eco ressaltou: “(...) muito embora regimes políticos possam ser derrubados e ideologias possam ser criticadas e desautorizadas, sempre existe, por trás de um regime e de sua ideologia, um modo de pensar, uma série de hábitos culturais, uma nebulosa de instintos obscuros e impulsos insondáveis”. A nebulosa fascista continuou rondando as democracias ocidentais, culminando na germinação do neofascismo e em um novo espiral de intolerância, mais uma vez advindo de uma classe média frustrada.


Apoiadores de regimes políticos derrotados persistiram não apenas no campo da ideologia, mas atuando em posições-chave na sociedade. No caso do nazismo, mais de 50% das empresas listadas na bolsa de valores de Berlim em 1932 possuíam vínculos significativos com o Partido Nazista, dentre elas a Siemens e a Volkswagen. Após o fim do conflito, quando os donos destas empresas foram acusados de crimes de guerra, eles protestaram, montaram uma defesa e muitos foram completamente absolvidos de seus crimes devido ao interesse dos países aliados no potencial industrial alemão. Dentro da lógica que absolveu os industrialistas, havia uma linha de pensamento que defendia ser possível o convívio de tais empresários nazistas em sociedade, sem qualquer perigo para a estabilidade do mundo. Um pensamento que, como grande parte da fala dos industrialistas alemães em seus julgamentos, era falacioso: a absolvição e reinserção dos empresários não só feriu a justiça e a responsabilização, mas manchou de sangue as bases do capitalismo globalizado, que se estruturou, em certa medida, em meio à aceitação de inconsistências nos discursos de defesa de donos de empresas nazistas.


No Brasil pós-2018, funda-se um regime antidemocrático com sua imagem central calcada em Jair Messias Bolsonaro, o qual Cláudio Couto é categórico ao denominar: fascista. Dentre seus eleitores, somam-se aqueles enganados e infelizes com o governo anterior, muitas vezes arrependidos, até os entusiastas de sua política do caos e de seus ideais nefastos. Fato é que temos uma corja de ainda apoiadores que continuarão fazendo parte de uma sociedade em reconstrução pós-Bolsonaro e que, provavelmente, continuarão com suas ideias odiosas e reacionárias que compõem essa nebulosa fascista que ameaça a nossa democracia.


Aos defensores do Estado de Direito de nossa República, cabe entender como se deu o fenômeno da ascensão desse governo, quem foram os agentes sociais que a permitiram e, mais do que isso, aprender com os erros cometidos. Nesse sentido, vale apontar as redes sociais como o meio de tráfego que serviu para unir os radicais e disseminar esse ódio. Atreladas a uma crise na representatividade, essas redes abriram espaço para uma comunicação direta e potencializadora de opiniões, tal como discursos que antes estavam enterrados no esgoto, mas que encontraram um lugar comum e violento na internet para reverberar. De empresários donos de grandes redes, como as lojas Havan e os restaurantes Madero, à parte da classe média frustrada, assim como o exército — que por décadas esteve escanteado na política e voltou na rabeira de Bolsonaro —, as camadas mais radicais dos evangélicos e suas lideranças viram um espaço de ganho político e apoio a discursos hostis e medievais nesse símbolo do capitão.


Precisamos então ter sensibilidade para discernir entre quem realmente compactua com as ideias e quem está sendo enganado e pode ser resgatado. A esses, a educação política, os trabalhos de base e o diálogo são fundamentais. Aos protofascistas da nossa nação, cabe o esgoto no qual voltarão a se esconder e a exposição ao ridículo. Aos atores políticos que permitiram um inimigo da democracia subir ao poder por interesse, sabendo de seus riscos, o não esquecimento e a vergonha. Bolsonaro NUNCA escondeu suas opiniões, e quem o apoiou por conveniência ou por aderir ao neoliberalismo fajuto de Paulo Guedes também não merece fazer parte do jogo político de nossa democracia, e que nunca mais tenham votos, pois se outro da mesma laia de Bolsonaro vier, novamente terá apoio por acordos e interesses escusos. Quando chegar o momento, cobremos com juros o sofrimento que esse governo nos causou.


Autoria: Beatriz Bernardi e Miguel Guethi

Revisão: Bruna Ballestero e Glendha Visani

Imagem de capa: Revista Isto É

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Referências

A NEBULOSA Fascista. Folha de S. Paulo, 1995. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/5/14/mais!/14.html Acesso em: 25 Out. 2021.


EISEN, Erica. The Other Nuremberg Trials, Seventy-Five Years On. Boston Review, 2021. Disponível em: https://bostonreview.net/class-inequality-law-justice/erica-x-eisen-other-nuremberg-trials-seventy-five-years. Acesso em: 25 Out. 2021.

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