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EMPREENDEDORISMO PARA TODOS. PARA TODOS?



Em diversos locais ocupados pela elite - como a FGV, o Insper, o IBMEC, entre outros - vemos uma forte comunidade empreendedora. Através das Ligas e outras entidades de empreendedorismo, observamos o início e, em alguns casos, a prosperidade de diversas startups criadas no meio universitário por ação dos alunos dessas instituições. Assistimos a palestras com fundadores de unicórnios - nome dado aos empreendimentos que valem mais de US$1 bilhão - e lemos livros de teóricos, tudo para aprendermos o caminho da prosperidade.


Porém, após o contato com tantos materiais, é difícil encontrar alguém que saiba responder a pergunta: é possível empreender sem ter um bom poder aquisitivo? Em ambientes como a Fundação, o contato com o meio empreendedor se dá através do capital. Um aluno com o desejo de empreender muitas vezes não encontra dificuldades ao fazê-lo, visto que não há barreiras financeiras. Porém, tal discurso cria obstáculos para que aqueles que não dispõem de uma poupança tão recheada, herdada de uma situação econômica privilegiada que os torna capazes de errar e recomeçar.


Contudo, no empreendedorismo não há espaço para erros. Num ambiente como a FGV, vemos alunos de cerca de 20 anos empreendendo por um simples motivo - a satisfação - enquanto a maioria empreende pela necessidade, não tendo espaço para esse meio glamourizado da Bela Vista, do Itaim e da Vila Olímpia. Ao marginalizar essa parcela da sociedade do meio ambiente empreendedor, alimentamos uma bolha ao redor de um ambiente elitista que exclui as minorias das oportunidades e do acesso a esses conteúdos.


Essas minorias acabam - pela falta de acesso a instrumentos especializados - ficando mais distantes da prosperidade. Apesar de 51% dos empreendedores serem negros - número próximo da proporção populacional, que é de 56% - nenhuma das Startups Unicórnios brasileiras possui um fundador ou fundadora que se encaixe nessa parcela da população, sendo que um empreendedor branco ganha o dobro de um empreendedor preto.


Portanto, no cotidiano, ao pensarmos em empreendedorismo, muitas vezes nos lembramos de pessoas bilionárias, brancas, na maioria das vezes homens. Mas chegou a hora de nos questionarmos, de descobrirmos e entendermos o verdadeiro ecossistema empreendedor, que nasce da dor daqueles que não possuem acesso às oportunidades que nos são dadas no nosso ambiente universitário, e de lembrarmos daqueles que - na luta diária - apenas são capazes de sobreviver a uma sociedade tão desigual graças ao empreendedorismo - que ainda assim os segrega.


Por conseguinte, devemos pensar. Estamos mesmo no centro do ecossistema empreendedor? Ou apenas dizemos isso pois desconsideramos todos os modos de empreendedorismo a não ser aquele que envolve cifras que a maioria da população sequer imagina ou sonha?


Texto por: Leonardo Pomar


Imagem da capa: Monika Gregulska


Referências:

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