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MARIA LENK: A PRIMEIRA MULHER BRASILEIRA A PARTICIPAR DAS OLIMPÍADAS


Por Lidia Castanha


Nascida em São Paulo em 1915, sua história e paixão pela natação se iniciaram devido a um problema de saúde. Aos dez anos sofreu de uma pneumonia dupla e, após ser tratada e curada, foi incentivada por seus pais a iniciar aulas de natação. A importância que seus pais deram à prática do esporte na melhora da saúde de sua filha foi essencial para a criação de sua rotina de treinos e o despertar de sua paixão pela natação. Filha de pais alemães, Maria Lenk conta em entrevistas que seus pais não manifestavam o mesmo nível de restrição que os pais brasileiros em relação à exposição do corpo feminino pelos maiôs de natação. Portanto, diferente de diversas meninas da época, que foram desestimuladas por suas famílias a praticarem a natação, ela teve uma oportunidade única de explorar o esporte. A restrição cultural sobre a mostra do corpo feminino que impedia que mulheres explorassem a prática da natação revela por si só uma batalha que Maria teve que travar ao longo de toda sua trajetória no esporte.


Ao se destacar por seu talento como nadadora, Lenk foi convocada para disputar os Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1932, sendo a primeira mulher brasileira e sul americana a ser convocada para a competição. Com apenas 17 anos, embarcou de navio com a delegação brasileira para os Estados Unidos, onde na cidade americana ficou hospedada em um hotel, uma vez que as vilas para atletas olímpicos não permitiam mulheres. Maria disputou duas modalidades: 100 metros livre e peito clássico. Apesar de seu grande destaque, especialmente no peito clássico, não passou das eliminatórias, mas fez sua marca na história olímpica vencendo uma grande barreira para as mulheres no esporte.


Maria Lenk não desistiu de seu sonho na natação e manteve seus treinos, se aperfeiçoando como atleta, conquistando títulos com seu talento no rio Tietê, o que infelizmente hoje parece ser impossível de imaginar. Entre 1932 e 1935 foi campeã quatro vezes consecutivas na Travessia de São Paulo a Nado, prova tradicional de natação de 5,5 km entre a Ponte da Vila Maria e o Clube Espéria, onde hoje fica a Ponte das Bandeiras. Maria se consagrou como a segunda mulher a defender o pódio por quatro anos consecutivos, tendo apenas como antecessora dessa conquista Betty Hasselbach.


Em 1936, participou de sua segunda Olimpíada, sediada em Berlim ainda durante o Terceiro Reich de Hitler, o qual esteve presente durante a abertura da competição. Dessa vez, após seu feito histórico como a primeira mulher brasileira a disputar uma olimpíada na edição anterior, foi acompanhada de mais cinco mulheres, uma esgrimista e quatro nadadoras; Siegling Lenk, Helena Sales, Scylla Venâncio e Piedade Coutinho. Durante a disputa na capital alemã realizou mais um ato histórico ao inovar a braçada do nado peito, criando o nado borboleta. Sendo assim, tornou-se a pioneira deste estilo, o qual passou a ser praticado por outros nadadores e foi oficializado em 1956 pela Federação Internacional de Natação (FINA). Nesta ocasião, chegou até a semifinal, porém não chegou ao pódio. Entretanto, deixou sua marca mais uma vez, sendo considerada a pioneira da natação moderna.


Em seguida, Maria Lenk bateu recordes mundiais nos 200m e 400m do estilo peito, em 1939, na piscina do Clube de Regatas Guanabara, na capital carioca. Era esperado que Maria pudesse alcançar seu tão sonhado pódio nos Jogos Olímpicos de 1940, que seriam sediados em Tóquio. Contudo, devido ao início da Segunda Guerra Mundial, as Olimpíadas foram canceladas e sua oportunidade de mais uma vez fazer história, sendo a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro, foi perdida. Tal feito só foi conquistado, 68 anos depois, pela saltadora Maurren Maggi, nos Jogos Olímpicos de Pequim. Por mais alguns anos, Maria dedicou-se à natação, sendo a única mulher sul-americana da delegação de natação a disputar nos Estados Unidos. Quebrou doze recordes norte-americanos e se dedicou ao curso de Educação Física na Universidade de Illinois em Springfield.


Em 1942, se afastou das piscinas e ajudou a fundar a Escola Nacional de Educação Física do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Retornou a natação apenas em 2000, competindo no campeonato mundial da categoria 85-90, no qual ganhou em Monique cinco medalhas de ouro. Em 2003, lançou seu livro Longevidade e Esporte, em que discute os benefícios da prática contínua de esportes durante toda a vida. Maria faleceu no dia 16 de abril de 2007, aos 92 anos de idade, após uma parada cardiorrespiratória enquanto fazia o que mais amava, nadar.


Maria Lenk marcou a história do Esporte sendo a primeira mulher brasileira nas olimpíadas, a primeira a bater recordes mundiais, a primeira e única a entrar para o Hall da Fama da Federação Internacional de Natação (FINA). Suas conquistas abriram espaço para que outras mulheres participassem tanto de jogos olímpicos como de outras competições. Destacou-se com sua performance e sua defesa da importância da prática esportiva para uma vida saudável e longa. Maria Lenk é uma atleta que trouxe muito orgulho para o Brasil e para todas as mulheres batalhando para acharem seu espaço dentro do esporte.



Revisão: Bruna Ballestero

Imagem de capa: Carolina Eguchi

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