Um artigo de opinião a respeito da história do DAGV
Este artigo representa, exclusivamente, a opinião de seus autores, Laura Portela e Diego Adetayó, e não do Diretório Acadêmico Getúlio Vargas como um todo.
Nos registros digitais do Diretório Acadêmico Getulio Vargas, órgão representativo de nossa faculdade, constam diversas entrevistas com ex-membros e ex-presidentes do DAGV. Esses nos dão uma ideia do que foi a atuação política em gestões passadas - que enfrentou momentos conturbados - como a Ditadura Militar (1964-1985). Um órgão representativo de estudantes, independente de sua atuação, estatuto ou personalidades, está inserido no movimento estudantil e deve prezar pelos interesses dos alunos.
Na década de 1960, o DAGV, então Centro Acadêmico (CAAE), iniciou intensamente sua atuação no movimento estudantil ao participar do Congresso da União Nacional dos Estudantes. Com o Golpe Militar de 1964, a UNE tornou-se clandestina, criminalizando a política estudantil no país. Um exemplo disso foi a realização do Circuito Universitário de Música Popular Brasileira, organizado pelo CAAE, que trouxe grandes consequências: tanto o presidente do Centro Acadêmico quanto Chico Buarque (um dos convidados) foram intimados pelos militares a depor, acusados de desrespeitar a censura. Apesar disso, em 1977, iniciou-se a reconstrução da UNE e da União Estadual dos Estudantes (UEE). No processo, um ex-presidente do CAAE, Marcelo Barbieri, tornou-se membro da primeira diretoria da UEE e, posteriormente, vice-presidente nacional da UNE.
Entretanto, devido ao cenário contínuo de perseguição política, censura e tortura causado pelos militares no poder, a União Nacional dos Estudantes estabeleceu sua sede dentro do atual DAGV entre 1979 e 1980. Na época, o CCC (Comando de Caça ao Comunismo) pichou o CAAE e o prédio foi ameaçado de invasão pela polícia. Já em 1983, o Centro Acadêmico foi o primeiro CA a manifestar total apoio à organização das Diretas Já! - movimento político que lutava pela volta das eleições diretas para cargos executivos no Brasil.
Anos depois, o CAAE apoiou a greve dos trabalhadores da escola, que culminou numa paralisação das atividades que durou três dias. Posteriormente, os alunos da Fundação engajaram-se no movimento “Caras Pintadas” em protesto contra o governo Collor. Depois de todos esses acontecimentos políticos nos quais o DAGV teve grande importância e participação, gestões seguintes sofreram pressões internas com a diminuição de membros ativos, escândalos envolvendo festas e enfraquecimento institucional frente à diretoria da Fundação Getulio Vargas. Mais especificamente, em 2006, o fim da ampla participação dos alunos na governança interna da EAESP começou, quando os alunos, revoltados pela demissão em massa de professores, ocuparam a entrada da Av. 9 de julho, interditando a via em protesto em frente à Diretoria.
Além disso, houve o cancelamento das eleições diretas para o cargo de Diretor da FGV em 2007, pelo então presidente da Fundação. Assim, a instauração de um Search Committee (Comitê de Seleção) para decidir quem seria o próximo diretor, alterou profundamente o regimento da congregação por meio de uma portaria, ferindo o próprio regimento. Com tal ação, a Fundação Getulio Vargas consolidou o fim de um ciclo democrático de participação discente nas decisões da mais alta importância da nossa Escola.
Dessa forma, seguindo o exposto acima, a reflexão que fazemos é a de que o Diretório Acadêmico Getulio Vargas já foi um dos expoentes do movimento estudantil brasileiro. Demonstrou apoio significativo a causas do alunato, dos trabalhadores, professores e do cenário político do país. Esteve presente na vida dos alunos, realizando eventos, auxiliando em questões e defendendo seus interesses. Assim, para nós, a impressão que fica é: o que aconteceu com o DAGV? O que aconteceu com o apoio dos alunos e com o amplo diálogo que esse possuía com a Fundação? E, por fim, o que aconteceu com a postura de expoente político inserido na alta patente da educação brasileira? Decerto, o cenário político sofreu intensas mudanças (por exemplo, o governo incompetente e autoritário de Jair Bolsonaro, assim como a pandemia do COVID-19). Mas não seria - fundamental - uma retomada dos valores políticos do maior órgão representativo do Brasil?
Autores: Laura Portela e Diego Adetayó
Imagem da capa: Memorial da Democracia
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