SER ATLETA DA FGV: A PAIXÃO PELO MANTO
- Arthur Quinello
- 30 de abr.
- 6 min de leitura

Qual a sensação de jogar pela FGV? Essa é uma pergunta que pode passar pela cabeça de vários dos alunos e torcedores GVnianos que embarcam para São Carlos para vivenciar os jogos. Vários, mas não todos. 320, especificamente. Esses são os atletas que farão parte da “delegação” da Fundação, representando a nossa faculdade em diversas modalidades entre 01 e 04 de maio, além do dia 27 de abril, no xadrez.
A rotina de um atleta da FGV é dupla — e, às vezes, tripla. O esporte raramente é a principal atividade de um jogador, nadador ou lutador e, na verdade, existe muito mais por uma paixão — pela modalidade defendida ou pelo manto GVniano — do que por profissionalismo. Por isso, antes de tudo, equilibra-se a vida esportiva e as responsabilidades de equipe com as da faculdade e do trabalho, além da família.
A fim de entender melhor a vida de quem faz os jogos dentro de quadra, a Gazeta Vargas conversou com representantes de dois times de enorme importância para a Fundação: os Los Vargas, equipe de basquete masculino, e o Futfem, futebol feminino da faculdade.
O time Los Vargas é um dos mais tradicionais da Fundação, tendo, hoje, uma longa trajetória em quadras. Representando a FGV no basquete masculino, a equipe é referência em união e persistência, servindo como um grande pilar do esporte universitário para a GV.
“Um pouco puxado, precisava equilibrar com aulas do mestrado, outras coisas além de só ter aula. Era monitor de materiais, ajudava em pesquisa. O treino começa às 21h30 e acaba às 23h30, três vezes na semana. Claro, antes era ainda mais difícil acabar o treino tarde e depois fazer as coisas de manhã. Hoje, já não tenho mais aula, apenas a tese da pós, o que facilita. Pessoalmente, gosto de vir umas duas horas antes do treino para ficar arremessando antes sozinho. Eu encontro essa motivação e compromisso para treinar e atender com as responsabilidades do time”, diz Bebeto, armador do time, quando perguntado sobre o equilíbrio da rotina de treinos e faculdade.
A realidade de Bebeto — ou dos atletas do Los Vargas — não é única. São vários os esportistas que treinam em horários pouco ortodoxos para garantir o bom desempenho em jogos avulsos ou em campeonatos como o NDU e as Economíadas. Na verdade, o Los Vargas é um dos poucos times sortudos que treinam nas quadras da EAESP, junto, claro, da equipe de basquete feminina — O Basqfem —, do tênis de mesa e das equipes de vôlei masculina e feminina. Mesmo com a facilidade de treinar na escola, os treinos, que começam e acabam tarde, se mostram um desafio ao longo de uma semana que ainda conta com longas horas de aula e provas complicadas. No final, como dito pelos jogadores do time, é a paixão pelo esporte e pela FGV que motiva qualquer um a manter nesse ritmo.
“Eu tenho uma paixão antiga pelo basquete, que vem de casa, porque meu pai jogou pela faculdade dele. Por isso, eu sempre quis defender uma faculdade também. E, agora, eu jogo pela melhor de todas. A melhor coisa que faço pela faculdade é vir três vezes por semana treinar e jogar nos campeonatos pela faculdade e defender a GV”, diz Andrei, DM e armador do Los Vargas.
Os times da FGV, em geral, são uma mescla entre bixos, veteranos, pós-graduandos e, algumas vezes, até formados. O sentimento de família também é o ponto alto das equipes, que criam sinergia para além das quadras, o que coloca as equipes da FGV como algumas de maior destaque nos campeonatos. Assistindo aos jogos, fica claro que a amizade e a boa convivência dos nossos atletas faz toda a diferença ao defender o preto e o amarelo da fundação.
As respostas de Bebeto e Andrei, entrevistados separadamente, só comprovam essa sinergia. Quando perguntados sobre a relação do time, Bebeto diz que “o time é bastante unido, acho que já ouvimos falar que tem muitos times universitários de galera que se junta para jogar e nem se gosta. Nosso caso é oposto, nós nos gostamos muito e além da quadra [...], acho que essa união é importante porque é o que caracteriza nosso time, não temos um jogador muito acima da curva, não há destoantes. Como não tem uma só pessoa para referência, a referência vira o próprio coletivo. Trabalhamos muito nisso de todo mundo ser importante”. Andrei, por sua vez, afirma que “como falei [em outros momentos], não temos igual a outros times ‘o cara’ do time, que vai fazer 20 pontos e os outros 5 e o cara que joga bem e ‘carrega’ o grupo. Todo mundo contribui com seus pontos, não há quem se acha muito com ego. Temos esse sentimento de família, todo rolê da GV vamos juntos, vamos com uniforme do time. A gente não é só da GV, somos dos Los Vargas também”.
Fora das quadras da EAESP, treinando em horários igualmente complexos e garantindo o melhor desempenho possível em nome da FGV, as atletas do FutFem, a equipe de futebol feminino da Fundação também enfrentam as adversidades da rotina por amor ao esporte e à faculdade. É o que afirma Amanda Sanchez, atleta do FutFem desde 2022, que compartilha que o desafio vai muito além da quadra: "O peso da camisa é muito grande. Você se sente responsável pela história da GV, do time. Ser favorito em campeonatos traz uma responsabilidade muito grande pra quem tá dentro de quadra." Essa responsabilidade, segundo ela, vem acompanhada de uma cobrança intensa, mas também de um orgulho genuíno por fazer parte de algo maior.
A dedicação das atletas extrapola os treinos semanais. Amanda conta que, mesmo em um semestre intenso, conciliando TCC e estágio, ela não abre mão de estar presente nos treinos e jogos: "Às vezes, eu não vou a algum rolê, ou dou uma maneirada para não estar mal para jogar. Tem que gostar muito, ter comprometimento contínuo. Quando você joga com a cabeça fora do futebol, o desempenho é ruim. Apesar de cansativo, no fim, vale muito a pena." Para ela, o comprometimento vai além, já que, uma escolha errada mesmo fora dos treinos e jogos pode prejudicar a coletividade do time como um todo.
Adicionalmente, Amanda relata como a logística também pesa para os treinos que, em sua maioria, acontecem no ABC, e como o deslocamento torna a rotina ainda mais cansativa. Todavia, ela garante: "Vale muito a pena. Mesmo com a vida apertada, nunca pensei em desistir." Amanda reforça que os treinos, realizados duas vezes por semana, das 20h às 22h às terças-feiras e das 22h à meia-noite às quintas-feiras, são intensos: "São quatro horas de treino no total, contando com 40 minutos para ir e 40 para voltar."
Outro fator que intensifica a dedicação das atletas são os jogos nos finais de semana, eventos que demandam energia, tempo e preparação extra. Amanda explica que o comprometimento com a performance nos jogos leva muitas vezes à necessidade de renunciar a eventos sociais para garantir um bom desempenho em quadra. Ela esclarece: "Se eu tenho um rolê no dia anterior ao jogo, às vezes não vou, ou dou uma maneirada para não estar mal para jogar."
O apoio entre as jogadoras, construído ao longo de temporadas, é um diferencial potente dentro do FutFem. "Temos uma cultura muito forte de dar carona para treinos e jogos, de incluir todo mundo. Nos apoiamos muito, principalmente quando alguém desempenha mal. Hoje, temos uma coletividade muito legal, estamos realmente juntas." Amanda relembra que nem sempre foi assim: "Já houve momentos em que o time estava mais 'aquecido' e uma pessoa que jogava mal acabava sendo alvo de comentários ruins. Mas hoje, estamos em outro momento: temos uma coletividade muito legal, estamos realmente juntas."
Ela ressalta a importância do esporte feminino dentro da GV, destacando o papel que ele tem na representatividade das mulheres, tanto na instituição quanto no esporte de forma geral: “Se as mulheres conseguem competir em um esporte que sempre foi dominado pelos homens, é mais uma afirmação para nós mesmas de que conseguimos competir em tudo, de que conseguimos estar nos mesmos lugares que eles.”
Este comprometimento e paixão, características marcantes das equipes da Fundação, traduzem o verdadeiro espírito GVniano: uma mistura de garra, união e um profundo amor pelo esporte e pela camisa preto e amarelo que vestem. É mais que apenas competir; é sobre deixar um legado, sobre construir memórias dentro e fora das quadras.
No fim das contas, ser atleta da FGV transcende o esporte propriamente dito; trata-se de escolhas difíceis, renúncias pessoais e momentos de superação. Cada atleta sente, em cada partida, a imensa responsabilidade de honrar a tradição da faculdade e a história daqueles que vieram antes. É uma experiência, na qual vitórias e derrotas têm igual valor, ensinando, acima de tudo, sobre crescer juntos em busca de um objetivo comum
Texto: Arthur Quinello e Nicolas Floriano
Revisão: Giovana Rodrigues
Imagem de Capa: Econos anteriores
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