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SUPER LIGA: UM SINAL DE UM ESPORTE AINDA MAIS ELITIZADO?



Em abril, foi anunciada a criação da Superliga, uma competição que contaria com alguns dos mais renomados times de futebol do continente e que não estaria subordinada à UEFA. Rapidamente, houve protestos contra a criação da Liga tanto de entidades do futebol quanto de fãs, fazendo com que a ideia fosse rapidamente destruída. Mas quais as possíveis ramificações dessa liga?



O que é a Superliga?


A Superliga (Super League) era para ser uma competição de futebol europeia que não estaria subordinada à UEFA e que parecia querer competir com a Champions League. Doze dos maiores times europeus seriam seus fundadores: Atlético de Madrid, Arsenal, Barcelona, Chelsea, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Milan, Real Madrid, Tottenham. Presidida por Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, a competição seria composta por vinte times: quinze fundadores, os doze citados acima mais três, e mais cinco times que seriam escolhidos por meio de um critério de classificação. Os jogos seriam realizados no meio da semana para que os clubes pudessem continuar a competir nas suas respectivas ligas e haveria tanto uma fase de grupos, composta por dois grupos de 10. Posteriormente, haveria um mata-mata com os três primeiros de cada grupo, sendo que as duas demais vagas seriam definidas em jogos mata-mata entre os quarto e quinto colocados dos grupos.


No mesmo dia que a Liga foi anunciada, a UEFA e a FIFA disseram que puniriam todos os times e jogadores envolvidos na Liga, proibindo os times de jogarem nas demais competições europeias, ameaçando-os de rebaixamento em suas ligas nacionais. Também disseram que proibiram todos os jogadores dos times participantes de sequer representarem suas seleções nacionais. Vale ressaltar que algumas dessas sanções poderiam ser de difícil aplicação, uma vez que dependem dos regulamentos das ligas e torneios que os times e jogadores integram.


Além das intensas ameaças da UEFA, a Superliga também foi recebida com muitas críticas de fãs, o que torna a situação mais complexa, visto que, sem eles, que são os responsáveis por trazer viabilidade financeira às competições, a iniciativa não teria como prosperar. Dada a grande rejeição à ideia, rapidamente os times começaram a se retirar da competição, notoriamente todos os times ingleses, até que, poucos dias após seu anúncio, ela foi suspensa.



Mas qual era a grande polêmica?


A criação da Superliga trouxe uma preocupação a respeito da elitização do futebol. Os valores que seriam despendidos para os clubes eram exorbitantes, e como ela já contaria com grande parte dos maiores times do continente, parecia que a Liga apenas iria tornar o esporte ainda mais elitizado.


Uma das principais demandas de fãs do esporte - como pôde ser visto nas manifestações que ocorreram na Inglaterra contra a Liga - é que os times compitam em condições mais igualitárias. Não é segredo que times menores de futebol sofrem com a grande diferença nos orçamentos de seus clubes em comparação com as grandes potências do futebol. Isso é verdade tanto no Brasil quanto na Europa, o que compromete a competitividade dos jogos das grandes ligas nacionais deste continente, sendo que, geralmente, sempre os mesmos clubes acabam nas primeiras posições.


O conceito de modificar como é feita a distribuição de lucros e o valor dado em premiações não é ruim por si só, a UEFA, de fato, concentra muita renda e impõe condições que prejudicam a renda dos times, como quando não permite que eles exibam seus patrocinadores na Champions. Porém, o que a Superliga trouxe como solução só serviria para agravar o problema, especialmente se os times que participassem da Liga continuassem a competir em seus campeonatos nacionais. Dar aos times mais ricos e com maior notoriedade ainda mais dinheiro não vai ajudar em nada.


Ademais, o formato escolhido para a Superliga só reforçou as acusações de elitismo, uma vez que uma das características mais apreciadas da Champions é como pequenos times podem, eventualmente, se classificar e participar da competição sempre gerando momentos emocionantes e inesquecíveis. A Superliga, por mais que tenha cinco vagas de classificação, parece impossibilitar que histórias como essa se repitam.


Além disso, o modelo de negócios da Liga se assemelha muito com o modelo usado nas grandes ligas de esportes americanos. Essa “americanização” também foi alvo de críticas, pois a impressão que ficou é que o futebol europeu estava à venda para quem pudesse pagar mais.



Experiência similar


A Superliga não foi a primeira vez em que “se vendeu” um esporte a quem tivesse mais dinheiro. Em 2018, a Kosmos Tennis, empresa de Gerard Piqué, ex-jogador de futebol, investiu e reinventou a Copa Davis (Davis Cup), um dos torneios de tênis mais amados e apreciados até então.


Com exceção das Olimpíadas, a Davis Cup era a única competição de tênis em que os atletas competiam em uma equipe pelo seu país. Um dos aspectos mais interessantes do torneio, era que ele era disputado na casa de uma das equipes, fazendo com que o tênis pudesse chegar a locais que tradicionalmente não possuem tantos torneios ou tanta tradição no esporte. Tudo isso mudou no novo formato. A competição passou a durar uma semana e a ser realizada em apenas uma sede, descaracterizando os aspectos mais amados da Davis.


A reação dos fãs foi similar à que os de futebol tiveram, porém, a competição foi para frente. Alguns dos próprios tenistas, em vão, expressaram seu descontentamento com as mudanças, que foram mantidas.


A primeira edição da Copa Davis reformada aconteceu em Madrid em 2019 e a rejeição às mudanças ficaram claras quando apenas 133 mil pessoas assistiram ao evento, um número muito abaixo do que era esperado pela Kosmos e pela Federação Internacional de Tênis. Mas por que isso aconteceu? Porque o novo formato destruiu um torneio que era amado por muitos fãs e que proporciona momentos únicos. Tudo que tornava a Davis uma competição diferente das demais foi retirado. Não que a qualidade dos jogos em si tenha sido ruim, mas o espírito das equipes de estarem jogando em suas casas e o amor dos fãs pela competição simplesmente deixou de existir.


A Superliga está, de certa forma, buscando fazer o mesmo no futebol. A esperança é que eles não sejam bem-sucedidos. Se tem uma lição que pode ser tirada da Davis Cup é que dinheiro não torna uma competição melhor.



A Liga ainda pode acontecer?


Por fim, um último ponto a se abordar é se ainda existe alguma possibilidade da Superliga existir no futuro. Se depender de Florentino Pérez, a resposta é afirmativa. Ele comentou, em uma entrevista dada em junho à rádio espanhola Onda Cero, que a Liga ainda pode acontecer, mesmo que ela não tenha funcionado em um primeiro momento.


Além disso, ele fez fortes críticas à UEFA e à FIFA, dizendo que os times só desistiram da competição por causa da pressão exercida por essas entidades. Com isso, parece que ainda, pelo menos da parte de Florentino, há vontade de tentar novamente, A grande dúvida é se, dada a reação que essa primeira tentativa gerou, haveria algum time disposto a arriscar tanto por uma ideia que foi tão veementemente rejeitada pela comunidade futebolística.



Revisão: Letícia Fagundes

Imagem de capa: Carolina Eguchi


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