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0800 - QUARENTENA

O texto de hoje, redigido por nosso redator Luca Mercadante, trata da fragilidade do cotidiano em meio à pandemia e a falta de inspiração e o desânimo que acometem o dia-a-dia. Leia e identifique-se com um relato sobre o espectro acinzentado que a quarentena ocasionou. Você também tem se sentido assim?

Esse texto não será muito longo. Tenho tido alguma dificuldade de escrever nesses tempos de pandemia. As ideia não fluem. Para conseguir escrever essas poucas linhas tive, antes, que apagar outras dezenas que não me agradavam.


Escrever sobre pandemia, sobre as aflições, sobre o governo e sobre os prospectos para a Nova Era não tem sido muito atraente. Não sei sobre o que escrever. A vida tem sido um pouco voltada para isso, e, quando não é, parece que tem algo errado.


O primeiro texto que tentei redigir era sobre como era um problema não discutirmos, nas salas de aula da GV, a pandemia da COVID-19 à luz das matérias. Mas apaguei esse texto inteiro. Não acho que seja real aquilo que escrevi. Mesmo que fora das salas, toda semana somos bombardeados por eventos que discutem os mais diversos aspectos da pandemia. A ideia foi por água abaixo. Mas tudo bem, já nem gosto mais dela.


O segundo texto que tentei fazer era uma adaptação de um texto que escrevi para uma matéria do curso de Economia, que argumentava que boas instituições eram essenciais para sair da crise decorrente da pandemia. Mas o texto perdeu a graça para mim. Parece que esse debate ainda não deve vir para os holofotes. Temos coisas mais importantes que devem ser debatidas antes: a vida é importante, há racismo no Brasil, entre outros temas. Vou parar por aqui para não ficar listando os absurdos que, infelizmente, têm aparecido no debate público. Enfim, o texto também tinha um tom professoral meio mala. Desisti.


Continuei, então, com um texto que gostei, e que ainda quero postar aqui. É sobre uma história de família engraçada. Mas, para contá-la, preciso da autorização dos envolvidos, que, até presente momento, não tive. Depois que percebi que a primeira história não ia rolar, tentei achar outras, mas não encontrei nada tão legal quanto aquela.


E aí, caí aqui: nesse texto um tanto disforme que foi sendo feito na medida que eu reclamava para o teclado. Sobre minha dificuldade de escrever, sobre minha falta de ideias, sobre minha ausência de motivação.


Bom, já que esse será o tema, vou tentar explorá-lo um pouco mais. Começo com a pergunta: por que está tão difícil achar um tema que me interesse, que me instigue? Nos próximos parágrafos, tento respondê esta pergunta da melhor maneira que posso, se é que há alguma resposta objetiva.


Nos tempos pré-quarentena, a vida, da maneira como ela é, me fazia dar de encontro com os diferentes cotidianos que cruzavam o meu caminho. Isso me me enchia de vontade de escrever. Tento suprir essa necessidade assistindo alguns vídeos no Youtube, ou no Tik Tok, mas não é a mesma coisa. Sinto falta, também, dos debates, de me encontrar frente a ideias contrárias às minhas. O Twitter parece ser o mais próximo dessa experiência. O problema, porém, está no seguinte fato: as redes sociais não são substitutos perfeitos para aquela vida que existia e que, agora, existe no passado.


O Twitter é, de alguma forma, uma bolha de pessoas que eu escolhi e cujas opiniões gosto de ler e me entretém bastante. Nem todos pensam como eu, mas eu escolhi, também, os que pensam diferente, o que já me parece um problema. A espontaneidade do Youtube não é de fato espontânea. Eu que dei os cliques naquilo que me interessou.


Mas não deve ser só isso. Acho que talvez exista um desânimo que tenho que vencer para voltar a produzir textos que me agradem e que me preencham como sempre fizeram, principalmente nos momentos de adversidade. Estou doido para me jogar na imprevisibilidade do mundão de novo.


Acabei de perceber que não gostei muito desse texto também, mas o prazo está apertado e não tenho mais muita saída. Espero que gostem.


Foto da capa: Seyfeddin Erisen

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