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A FALTA DA CULTURA DO FUTEBOL NO CATAR: TORCIDA ORGANIZADA É ALUGADA PARA O PAÍS NA COPA DO MUNDO



Em 2 de dezembro de 2010, a Federação Internacional de Associações de Futebol (FIFA) anunciou o Catar como o país sede da Copa do Mundo de 2022, marcando a primeira edição do evento no Oriente Médio.


A ausência da tradição do esporte no Catar foi questionada por muitos fãs do futebol logo após o pronunciamento e, ao conquistar o direito de sediar o campeonato, vencendo as propostas dos Estados Unidos, do Japão, da Coréia do Sul e da Austrália, foram levantadas suspeitas de uma suposta fraude na votação do comitê executivo da FIFA, que foi conduzida em privacidade.


“Uma Copa do Mundo nunca foi sediada no leste europeu, e o mundo árabe esperou por muito tempo por isso”, afirmou o então presidente da FIFA, Joseph Sepp Blatter após o anúncio da Rússia e do Catar como as sedes das Copas de 2018 e 2022, respectivamente. A escolha do Catar foi justificada como um meio de levar o esporte para todas as partes do mundo, e Blatter rebateu as acusações de corrupção no comitê.


Entretanto, a falta de cultura futebolística no país e a parcela pequena de cidadãos nativos, dado que 90% da população é formada por estrangeiros, preocupou a nação catari e os organizadores do evento. Quem iria torcer pelo Catar?


O The New York Times afirma que cerca de 1500 fãs estrangeiros, além de terem recebido uma pequena quantia de pagamento em dinheiro, tiveram seus voos, estadias, comida e ingressos de jogos pagos por detentores de poder aquisitivo na capital do Catar para torcer pelo país sede, que nunca antes tinha sequer se classificado para competir.


Os torcedores, em sua maioria libaneses, teriam sido recrutados após um evento teste em Beirute, para o qual estudantes e fãs de um clube local de futebol foram convidados a fim de recriar a energia e a atmosfera fornecida pelos chamados “ultras” — aficionados pelo esporte que apoiam intensamente seus times — na produção de um filme de prova de conceito (proof-of-concept film). O vídeo exibe os entusiastas cantando e segurando cartazes, liderados por fãs turcos de um famoso grupo de “ultras”, e a dedicação da torcida organizada impressionou pessoas poderosas no Catar.


No cenário de uma crise econômica devastadora no Líbano, onde a taxa de desemprego entre os jovens chega a 30%, muitos amantes do futebol no país se viram sem condições financeiras de viajar para assistir aos jogos do campeonato mundial. Dessa forma, as viagens, inteiramente subsidiadas pelo Catar juntamente com remunerações em dinheiro, se mostraram atraentes não apenas para os libaneses, mas também para torcedores egípcios, argelinos e sírios.


Apesar de ter disputado no campeonato pela última vez no dia 29 de novembro, contra a Holanda, a seleção catari se deparou com milhares de pessoas fanáticas pelo time vestindo camisetas vermelho-escuro nas arquibancadas de todos os seus três jogos.


“É nosso dever apoiar um país árabe. Nós compartilhamos a mesma língua. Nós compartilhamos a mesma cultura. [...] Nós queremos mostrar ao mundo algo especial”, disse um "ultra" libanês.


Através de canções criadas exclusivamente para a Copa, os torcedores, que inclusive aprenderam o hino nacional do país sede, preencheram o estádio com um clima antes inexistente para o esporte no Catar. “Eu gostei, é emocionante!”, afirmou um estudante catari, mas que também negou querer se juntar à torcida organizada quando questionado.


Os torcedores importados do Líbano tiveram uma experiência curta no campeonato, dada a eliminação da seleção do Catar antes das oitavas de final, mas a Copa do Mundo de 2022 continua até o dia 18 de dezembro, quando ocorrerá a disputa dos finalistas no Lusail Stadium.



Autoria: Gabrielle Park

Revisão: João Rafael Colleoni e André Rhinow

Imagem de capa: Mohamed Farag / Getty Images

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REFERÊNCIAS:

[1]: MONTAGUE, James. The Fans Screamed for Qatar. Their Passion Hid a Secret. The New York Times, Nova Iorque, novembro de 2022. Disponível em:

[2]: LONGMAN, Jeré. Russia and Qatar Win World Cup Bids. The New York Times, Nova Iorque, dezembro de 2010. Disponível em:


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