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A SAGA DA MONALISA




Começando o semestre e, novamente, vemos jovens invadindo o fums para fazerem coisa de bixo. O que, na sua época de calouro, parecia uma brincadeira divertida hoje é seu motivo de vergonha alheia. Não sem razão, já que foi você que algum dia esteve no lugar deles, e isso definitivamente não é confortante. No entanto, esqueçamo-nos das banalidades, pois venho contar aqui, em primeira mão, uma história prestigiosa e cheia de reviravoltas que aconteceu na desprestigiada Gin&Cana: A Saga da Monalisa.


Um dos desafios da competição foi roubar o quadro da Monalisa (réplica da original que hoje se encontra na salinha do DA). Foi uma prova relâmpago, do tipo especial: o DA colocou o quadro em uma sala da EESP e publicou uma nota no grupo da FGV: “A sala de bixos e bixetes que conseguir roubar a Monalisa de volta e trazê-la para o DAGV sem ser fotografado pelos bixos de ECONO ganha um total de 1000 pontos. Se, durante a recuperação da obra, os bixos forem fotografados pela galera de econo roubando o quadro/ levando-a para o DAGV, ninguém leva os pontos e o quadro é devolvido para a EESP para que a prova continue rolando. Porém, se ninguém conseguir pegar o quadro até a data final, a Econo leva 400 pontos.”. Como a turma de econo tem a incrível reputação de XX gincanas vitoriosa para manter, eles levaram essa prova a sério. Pelo nosso lado, gloriosos mil pontos cairiam muito bem. Seria o equivalente a conseguir arrastar o Shokitos e sua família para uma GVjada e ainda organizar uma manifestação na Paulista.


A minha turma - mais especificamente Viny e Raul, muito empenhados em desbancar a turma de econo, começaram a bolar diversos planos de ação para cumprir a difícil façanha sem serem vistos. Falaram com a equipe de manutenção, que aderiu à ideia, mas precisava de autorização. Chegaram, então, aos chefes de segurança e manutenção, que seguiram a mesma lógica - precisavam de um aval superior. De degrau em degrau alcançaram a direção, e convenceram-na a embarcar na brincadeira. Nunca a frase “eles topam se vocês toparem” se mostrou tão eficiente.


Estando todos em conluio, botaram o plano em ação. A equipe de manutenção apareceu na sala onde se encontrava a Monalisa, afirmou que todos os guardas espartanos deveriam se retirar, já que supostamente iriam trocar os pesticidas do ar-condicionado, que sequer existem. Infiltrada na equipe, estava minha colega Tati, que pegou o quadro assim que a barra limpou, fugiu para o depósito de lixo do prédio e passou a Mona pela grade para que os seus parceiros de crime, Viny e Raul, pudessem fugir com o mesmo pela rua.


Logo foi descoberto o sumiço do quadro. A hegemonia espartana estava mais fragilizada do que nunca e os guerreiros estavam apavorados. Eles vagavam pelas faculdades com seus celulares arrebitados alucinados por algum canto de Da Vinci em nome da honra que carregavam. Inclusive, fizeram uma planilha com o revezamento de plantões de bixos que deveriam ficar na porta do DA, para que assim não pudéssemos retornar a Monalisa em segurança. Coisa de economista emocionado.


Nesse momento, eu estava estudando na biblioteca enquanto acompanhava a saga da monalisa pelo WhatsApp. O dever me chamava e parti em ajuda dos meus colegas, que vagavam pelo centro, com um enorme quadro embaixo de seus braços, fugindo das câmeras rivais. Como um digno piloto de fuga, peguei o meu carro Hugo (sim, ele tem nome) e fui ao resgate dos meus companheiros. Busquei eles e começamos a discutir o que faríamos com o quadro, já que devolver ele ao DA no momento não era uma opção, pois havia muitos guardas ali plantados indeterminadamente. Surgi, então, com a ideia de eu ficar com o quadro, dentro do carro - em que ele estaria seguro - e o levaria comigo para a Sanfran (Direito USP), onde teria aula.


Dito e feito. Lá estava eu, estacionando o meu carro no centro, atrasado para a aula, com a Monalisa no meu banco de trás. Foi aí que eu me lembrei que o centro não é lá o lugar mais seguro de São Paulo - e deixar um enorme quadro bonito no banco do meu carro não era a melhor ideia. Se ele fosse roubado a galera do DA certamente iria me esfolar vivo, e com razão. Tampouco era uma boa alternativa deixá-lo no bagageiro, já que o Hugo é debilitado e não tranca seu porta-malas. A única solução em minha mente foi levar a Monalisa para assistir a aula comigo. Entrei atrasado na sala de aula com um quadro de quase um metro quadrado debaixo do braço. O professor me olhou como se aquilo fosse uma aberração, mas achou melhor não comentar. Ao me sentar, olho para uma menina da fileira de trás, aluna da EDESP e SF (estava decidindo-se em qual estudar), que estava me encarando e logo comenta: “não acredito que é você que tá com o quadro”, aparentemente a notícia havia chegado nela também. Pedi apenas que ela não me caguetasse, confiei nela. Engano meu.


Acabou a primeira aula e começaram a mobilizar a sala. Perguntei o porquê de todo mundo estar se mexendo, “monitoria de romano” (discussão de casos em pequenos grupos) foi a resposta. Fiquei perplexo, estava vindo ao meu caminho naquele momento o meu monitor de romano, que por sua vez era também, pasmem, bixo de econo da FGV. Corri ao encontro dele antes que pudesse ver a Mona comigo, encontrei ele na porta da sala e sutilmente perguntei: “vem cá, por acaso você liga pra gincana?” e ele empolgadamente responde “não tenho tempo pra essas coisas, mas você viu que roubaram a Monalisa, né?”. Mais empolgado ele ficou quando falei que o quadro tava comigo, até brilhou o olho, mas fiz ele prometer que não tiraria foto do quadro. Como não acredito em promessas, foi apenas o suficiente para eu colocar o quadro embaixo do braço devolvê-lo ao Hugo, que dessa vez decidiu colaborar e trancar o porta-malas, milagrosamente.


Voltei para a sala de aula e me sentei com meu grupo para discutir se Semprônio havia tomado a posse de Tício viciosamente ou não. No meio da discussão, meu celular começa a tremer mais que um Celta a 190 km/h. Uma lista quilométrica de mensagens de várias pessoas, todas tratando do mesmo assunto: a foto do bixo de AP com o quadro da Monalisa debaixo do braço na sala de aula da São Francisco. Foram os meus 15 minutos de fama. A menina da EDESP havia tirado uma foto e mandado para a turma dela e, assim, viralizei nos meios gevenianos. Umas três pessoas do DA me ligaram perguntando que porra eu tava fazendo com o quadro na SanFran, pareciam putos, e uns dez amigos me mandaram prints das conversas em seus respectivos grupos de salas com a minha foto.

Mas o verdadeiro problema da foto era que meu monitor de romano apareceu sem querer nela, lembrando que ele era bixo da EESP e, assim, quase tivemos nossa prova anulada depois de tudo isso. Mas como qualquer bom aluno de Direito, coloquei o regulamento debaixo do braço e já fui chorar para as autoridades - no caso, os malucos do DA que foram obrigados a acompanhar a pontuação da gincana. Argumentei que a regra era clara e que, segundo a redação da tarefa, se fazia necessário que um bixo de econo não somente participasse da foto, como também tirasse a foto. Claro que os economistas não iriam deixar passar batido. Eu estava com a porra de um quadro imenso no centro e eles ainda levavam aquilo bem mais a sério do que eu. Só que nesse meio tempo, eles também receberam a tal a foto e concluiram que não fazia sentido ficarem de trouxa na porta do DA enquanto eu tava com o quadro em outra faculdade e, assim, abandonaram seus postos.


Essa altura eu já tava no porão tomando uma com o quadro apoiado na mesa. Nessas eu recebo uma ligação do meliante Viny, que ainda estava na faculdade e conta sobre a oportunidade que se abriu com a ilusão dos soldados espartanos. Aproveitando a janela de oportunidade, subi correndo no Hugo e levei o quadro para a Rua Itapeva, onde ele estava me esperando para coletar o quadro e concluir a missão. Dito e feito, quadro devolvido sem prejuízo, agora bastava encher o saco do cara do DA que contava a pontuação para ele somar nossos pontos e ignorar o fato de que tinha uma foto com o bixo de econo. Já estava mandando o meu segundo áudio de 3 minutos bonado nos argumentos de como o post indicava que a foto deveria ser tirada por um deles etc e ele já me responde curto e grosso uma solução para agradar todo mundo que, ao meu ver, elaborou só para os malucos (eu incluso) sair do pé dele: os pontos seriam contabilizados, mas o quadro seria devolvido pros bixos da EESP, dando continuidade da prova e a oportunidade de, chegando o fim do prazo, eles também pontuarem.


Mais aí ficou fácil demais, o dia seguinte era sábado e até a diretoria da faculdade de Economia tava no bolso do Viny e do Raúl, tudo o que os caras tiveram que fazer foi colar na faculdade no sábado (essa é a parte bosta), entrar pela porta da frente e serem conduzidos até o quadro pelos funcionários. Roubo efetuado novamente, com perfeição, e assim somamos duas vezes a Monalisa de volta para o DA. Duas vezes a pontuação também. Claro que os antis choraram, mas fazer o quê. Atura ou surta. E é assim que eu finalizo a saga da Monalisa. Saga, essa, que quando comecei a escrever sobre achava muito pica, hoje em dia só olho e penso: carai, bixo não tem mais nada pra fazer mesmo... puta que pariu.

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