Este texto quase não saiu. Houve um profundo debate interno se deveria escrevê-lo ou não, pois o tema não é nada novo. As agonias da juventude são pautas batidas a essa altura do campeonato. Fazer o que se nós, jovens, somos cercados por elas? Sabia que, se começasse, clichês reflexivos sobre a vida sairiam daqui. Finalmente, decidi escrever. Infelizmente, foi preciso, pois é inevitável, para mim, buscar consolo nas palavras quando não tenho ideia do que está acontecendo.
Há alguns dias completei 20 anos. Celebrei um dia que eu amo ao lado de quem eu amo pois, mesmo que algumas pessoas não gostem do próprio aniversário, não sou uma delas. Amo o dia em que nasci com muita vontade. Porém, este último aniversário não foi como os outros. Chegar na segunda década da vida foi, para mim, um tanto assustador. De repente se ver mais velho, em outro estágio da vida, desconhecido e pouco entendido, foi um pouco aterrorizante.
Não é a velhice o que mais me assusta. O temor maior vem de outro lugar, de um outro fato: a vida adulta. Especificamente as incertezas que ela traz. Fazer 20 anos significa que, oficialmente, deixei para trás as duas últimas décadas, nas quais fui, da forma mais sincera e alegre que pude, criança e adolescente. De um dia para o outro, despertei no fato de que a vida adulta está muito mais próxima de mim do que aqueles dias infantis em que corria pela minha casa me imaginando como um super herói.
A pior parte, entretanto, é não ter ideia do que está acontecendo na minha vida. Estou na faculdade, estudo, vou a festas, me divirto ao lado dos meus amigos. Assim como todos os outros estudantes da FGV, ocupo as horas dos meus dias com muitas atividades. Danço, como o que gosto, brigo com as pessoas, choro, fico triste e rio de coisas engraçadas. Nada que fuja muito da monotonia juvenil. Mesmo assim, lá no fundo, me sinto em um trem descarrilhado, rumo a lugar nenhum. Não faço ideia do que esperar dos próximos anos. Não sei onde irei trabalhar ou morar, não sei se um dia me caso e tenho filhos ou se vou preferir viver sozinho. Não sei onde estarei em 5 anos, muito menos em 10. Não sei como minha cara estará com mais alguns anos na conta ou se ainda vou ter a mesma risada esquisita quando chegar aos 30. Não tenho ideia de nada e é isso que é, de fato, assustador.
Aprendi a ler aos 5. Consegui amarrar meus cadarços sozinho aos 6. Com 10 tirei as rodinhas da minha bicicleta e com 11 subi nos patins pela primeira vez. Com 15 tive meu primeiro amor e aos 16 o primeiro coração partido. Aos 17, tive noites mal dormidas graças a um vestibular que, aos 18, chegou e trouxe êxito. E agora? O que mais eu tenho para esperar da vida? Parece que os grandes marcos ficaram para trás, em memórias iluminadas que, aos poucos, vão dando espaço para uma escuridão misteriosa que encobre os próximos anos. Tento enxergar adiante, esperando algum porto seguro no qual eu possa aproveitar os momentos de conquista, mas o horizonte é turvo, confuso e não me deixa muito confiante sobre o que virá.
Acho que crescer é assim. Acumular experiências e aprendizados para se preparar para o que vem depois. Mas, aos 20 anos, me sinto tão pouco preparado quanto o garoto de 6 anos amarrando os cadarços. As experiências não me servem de nada e o futuro é assustadoramente desconhecido. Não tenho ideia do que está acontecendo, mas o pior é que não tenho ideia do que ainda vai acontecer. Sem rodinhas a serem superadas ou um vestibular a ser aguardado, a queda livre em que me encontrei ao despertar no dia do meu último aniversário representou um começo desconhecido. Aguardar pelo novo é angustiante quando você já não se sente no controle das coisas há um tempo.
A dramaticidade pelo passar dos anos não é, como eu falei lá em cima, algo novo. Vários foram os autores que dedicaram suas palavras à experiência de crescer, de mudar e de se perder no meio do caminho. Por isso, acredito que buscar o controle de uma vida enquanto jovem é algo quase universal, mesmo que obtê-lo não seja. No fim, somos um bando de moleques confusos, que poderiam voltar para o colo da mãe na primeira oportunidade e não sair de lá nunca mais. O conforto de uma vida já vivida, conhecida e aprendida parece ser muito melhor do que a árdua missão de desbravar os anos desconhecidos à nossa frente.
Não tenho ideia do que está acontecendo com a minha vida, mas não sei se já tive em algum momento. Hoje, olhando para trás, troco as lentes de uma adolescência turbulenta por uma maturidade adquirida ao longo do caminho. Assim, creio eu, tudo fica mais brando. Daqui dos 20, as dificuldades dos 16 não são tão ruins assim, problemas banais se comparados aos obstáculos que tenho que superar hoje. Provavelmente, em 4 ou 5 anos, esse texto será meramente um amontoado de palavras bobas, drama feito por um jovem sem muito mais o que temer. A cada nova etapa, seja ela conhecida ou não, olhamos para trás com nostalgia, temendo encarar o futuro. O controle vai se esvaindo, vamos o deixando pelo caminho e, quando nos damos conta, não sabemos bem o que está acontecendo, apenas seguindo para o novo.
A verdade é que eu não tinha ideia do que estava acontecendo com minha vida aos 19. Agora, não tenho ideia aos 20. Provavelmente não terei ideia aos 21 nem aos 22. Essa talvez seja a graça, penso eu. Até que um dia, eu terei ideia de tudo. Quando ele chegar, vou sentir falta de quando eu não tinha.
Autoria: Arthur Quinello
Revisão: Laura Freitas e Luiza Parisi
Imagem de capa: The Catcher in The Rye- reprodução/ Pinterest
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