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AMOR MATERNO


O Dia das Mães passou e, novamente, sinto que algo ainda está entalado na minha garganta. Ainda está, tenho certeza disso. E não é em decorrência do dia 14 de maio de 2023, pelo qual acabamos de passar. Refiro-me a todos os Dias das Mães anteriores. A todas as oportunidades desperdiçadas, em que tive a chance de dizer algo, mas não disse. A todos os momentos em que o silêncio tomou conta. A todas as vezes em que o “tá bom, já entendi” prosperou. A todas as vezes em que extrapolei no tom de voz (e nós infelizmente sabemos bem quando isso acontece). A todas as vezes em que perdi a calma, todas as vezes que... enfim. A todas as vezes que esqueci quem realmente estava na outra ponta da conversa.


Cresci sem dar muita importância para o Dia das Mães, isso é um fato. Sempre o enxerguei como sendo uma data em que as pessoas se preocupavam em comprar algum presente bacana, em se reunir para um almoço em família e, quem sabe, em dizer alguns “eu te amo” a mais, ficando por isso mesmo. Assim, nunca entendi seu real significado. Pode até parecer um pouco ridículo e clichê, mas, quando era pequeno, dizia que todos os dias deveriam ser dia das mães. Afinal, não passava a amá-la nem um tanto mais, nem um tanto menos no dia especial. Não gastava dinheiro para comprar nada. No fim, era uma data como qualquer outra. Porém, esse não era o ponto. Todos os dias deveriam ser dia das mães porque, desde sempre, minha mãe foi a maior guerreira que eu poderia ter a sorte de estar comigo. Todos os dias, ela fazia o papel de mãe e pai, segurava as pontas quando tudo estava um caos e, quando não conseguia, era sincera e direta comigo. Todos os dias, batalhava por mim igualmente, sem precisar de “Dia do Filho”, ou algo que o valha. Por isso, só o segundo domingo do mês de maio não seria suficiente, sendo necessário dedicar todos os outros dias às mães, com direito a um nome exclusivo para cada um: “Segunda-feira Eu Te Disse”; “Terça-feira Leva o Casaco Porque Vai Esfriar”; ”Quarta-feira Vou Embora e Não Volto Mais”; “Quinta-feira Chega Que Eu Já Perdi a Paciência”; “Sexta-feira Quando Eu Morrer Você Sentirá Minha Falta”.


“Quando eu morrer, você sentirá a minha falta”. Escutar isso sempre me desestabilizou. Muitas pessoas passam a vida tendo pavor de aranhas e de cobras, de espíritos, de lugares altos. Meu maior medo sempre foi ter que me despedir da minha mãe sem poder lhe dizer tudo de que gostaria, sem poder fazer tudo que queria. Sem aproveitar. Sem discutir todas as minhas crises existenciais, que só ela sabe como resolver dizendo o óbvio. Sem poder ouvir sobre todos os assuntos que ela compartilha comigo e acabo não prestando tanta atenção. Sem poder retribuir todo o apoio, amor e carinho que recebi durante minha vida toda, nunca precisando retribuir com nada além de respeito.


Mãe, sei que não sou o filho perfeito. Sei que já te fiz chorar, e muito. Sei que já ficou várias noites acordada, mesmo depois de terminarmos uma longa conversa com um “então, estamos entendidos?”, em que eu prometia que iria melhorar e não pisaria na bola de novo, igual às trocentas conversas anteriores. Sei que você não deveria passar por metade do nervoso que te fiz passar, e que ainda faço. Mas devo dizer que, se não fosse por toda sua paciência, toda sua preocupação e toda sua determinação em sempre me socorrer no que fosse preciso, eu não seria metade do que sou hoje. Aliás, não seria nada. Todas as minhas conquistas são suas também, já que não haveria nenhuma delas, se não fosse pela sua ajuda. Todas as vezes que acertei, que tomei a decisão correta, que pude ser feliz: devo isso a você. E mesmo quando não dava certo, me apoiava como podia. Tanto quando eu precisava escutar que nem sempre a gente consegue e isso é normal, como quando era necessário dizer que eu errei e que seria melhor aprender com o erro, já que você não estaria sempre aqui para dizer o que devo fazer. Mãe, sei que escrever esse texto não conserta meus defeitos e sei que nós ainda vamos nos desentender em diversas questões. Porém, é o mínimo que posso fazer, dizendo o óbvio mesmo e reforçando tudo que tento expressar diariamente. No fim das contas, mãe só temos uma, e eu tenho o incomensurável privilégio de você ser a minha. Obrigado por tanto.


Autoria: Rafael Diz Motooka


Revisão: Laura Freitas


Imagem de capa: Fundo Vermelho


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