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AS PERGUNTAS DO MEU PAI



"Onde você nasceu?", ouço meu pai perguntando ao guia e penso, lá vamos nós de novo.


Em casa sempre brincamos que meu pai poderia ser um jornalista. Ele é dessas pessoas curiosas até em excesso. Dessas que querem saber desde "por que as meias daquela pessoa na esquina são diferentes?" até "me conta o que você aprendeu na aula de história?". Dessas que conhecem mais os outros do que si próprias.


E, nas viagens, é igual. Ele faz perguntas aos guias, moradores, garçons e qualquer outra pessoa que pare dois minutos para conversar. Assim, pouco a pouco, vai tecendo a história daquela pessoa e, costurando os relatos uns com os outros, monta o mosaico daquele lugar.


Às vezes, suas perguntas me parecem excessivas, preocupo-me que estejamos incomodando aquele que responde seu interrogatório. Talvez, isso seja verdade, mas, rotineiramente vejo indivíduos relatando, com um sorriso no rosto, sua história e seus sonhos, revelando os problemas e belezas do lugar que habitam. Vejo pessoas que continuam falando, mesmo quando as perguntas cessam. E olho para o meu pai e o vejo profundamente interessado.


São nesses instantes que me lembro do poder das perguntas. Há algo intrinsecamente humano em olhar para o mundo, um lugar, uma pessoa e pensar "quero te conhecer mais". Percebo, ao me cansar com a extensão das conversas do meu pai, que, nas entrelinhas de suas perguntas, há uma afirmação: "eu quero gastar meu tempo ouvindo sua história".


Então, lembro de um diálogo do filme Adoráveis Mulheres, no qual, em resposta à constatação de sua irmã que a história de sua família não lhe parece interessante o suficiente para estar em um livro, uma personagem responde "Talvez não pareça importante, porque ninguém escreve sobre isso." Nessa interação, o filme nos comunica algo que acredito ser incrivelmente belo: escrever sobre algo é reconhecer que aquilo merece nosso tempo e dedicação, conferindo importância a ele.


Dessa mesma forma, as perguntas do meu pai dizem: "sua história importa".


Portanto, obrigada papai, por me falar todos os dias, do seu próprio jeito, que minha história importa, e me mostrar que também importam as histórias de todos que me cercam. Nesse dia dos pais, sou eu que vou fazer o interrogatório.



Autoria: Sofia Nishioka Almeida

Revisão: André Rhinow

Imagem de capa: Father and Son Song, Sandro Chia (1987/1989)

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